Morreu esta terça-feira Maria Teresa Horta, poetisa, escritora, jornalista (de vários títulos, entre os quais o DN) e ativista política. Tinha 87 anos.A escritora e jornalista Patrícia Reis dedicou-lhe perto de cinco anos de trabalho exaustivo, em que leu e viu tudo sobre Teresa. Diz ao DN que “morreu um pedaço de história”. “Sobra o legado dela e que talvez estes tempos que estamos a viver nos obriguem a olhar para o legado de pessoas como a Teresa, para os honrar. A Teresa foi uma das grandes vozes da literatura portuguesa, com pouco reconhecimento tanto da academia como dos prémios. Uma pessoa inteira, muito coerente com as suas convicções e as suas ideias”, afirmou, emocionada, numa reação à morte.A notícia foi revelada pela editora Dom Quixote nas redes sociais. “É com profunda tristeza e sentida mágoa que a Dom Quixote, a pedido da sua família, informa que a escritora Maria Teresa Horta faleceu, esta manhã, em Lisboa. Uma perda de dimensões incalculáveis para a literatura portuguesa, para a poesia, o jornalismo e o feminismo, a quem Maria Teresa Horta dedicou, orgulhosamente, grande parte da sua vida”, pode ler-se.“A Dom Quixote, sua editora, lamenta o desaparecimento de uma das personalidades mais notáveis e admiráveis do nosso tempo, reconhecida defensora dos direitos das mulheres e da liberdade, numa altura em que nem sempre era fácil assumi-lo, autora de uma obra que ficará para sempre na memória de várias gerações de leitores, e que ainda há bem pouco tempo foi eleita, pela BBC, uma das ‘100 mulheres mais influentes e inspiradoras de todo o mundo’. Os livros de Maria Teresa Horta, esses, mantêm-se vivos e continuarão a ter o merecido lugar de destaque no catálogo da Dom Quixote”, acrescenta a editora. .Maria Teresa Horta fez parte do Movimento Feminista de Portugal, juntamente com Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa, as Três Marias, e dedicou grande parte da vida à questão do feminismo. Fez parte do grupo Poesia 61, publicou textos em jornais como Diário de Notícias, Diário de Lisboa, A Capital, República, O Século e Jornal de Letras e Artes, tendo liderado o suplemento Literatura e Arte na Capital. Foi também chefe de redação da revista Mulheres a convite do Partido Comunista Português, do qual foi militante entre 1975 e 1989. ".Patrícia Reis: “A Maria Teresa Horta esteve sempre do lado certo da História”.Na última entrevista que concedeu ao DN, em janeiro de 2017, esclareceu o caso da inexistente queima dos sutiãs no Parque Eduardo VII em 1975, na altura do PREC. "Todos os dias há pessoas que aparecem no facebook a dizer - então e a queima dos sutiãs? Não, ninguém queimou sutiãs, ninguém queria queimar sutiãs, ninguém usava sutiãs naquela altura. O sutiã era uma coisa caríssima e como ninguém usava eles subiam muito o preço. Ninguém usava, na nossa idade ninguém tinha sutiãs. Mas que ideia é essa? Nós tínhamos combinado ir fazer uma coisa divertida. Havia manifestações todos os dias em todo o lado que se cruzavam mas paravam para deixar passar a outra", contou."A Maria João Seixas já me disse - agora já aí sutiãs que se farta, devíamos fazer-lhes a vontade. Devíamos ir buscar uns sutiãs e íamos ao Parque Eduardo VII, filmávamos a comunicação e dizíamos: pronto, já queimámos sutiãs. Porque é incrível. Um dia recebi um telefonema da RTP a convidar-me para um programa de roupa interior feminina. Eu, roupa feminina? De repente fez-se-me luz: sutiãs. Ai vou, para dizer que não se queimaram. Acabei de dizer isto tudo que te estou a dizer e há uma senhora gorda que está ao meu lado, que também fazia parte das pessoas convidadas, que disse: 'quando queimou os sutiãs no Parque Eduardo VII...' Desculpe, está a chamar-me mentirosa? Não ouviu nada do que eu disse?", prosseguiu.."Se chegar aos 100 anos, hão de continuar a dizer-me que queimei sutiãs. Não queimámos nada"