A nova exposição do projeto 331 Amoreiras em Metamorfose , que celebra o trigésimo aniversário do Museu Arpad Szenes-Vieira, estava ainda em fase final de montagem, esta quinta-feira de manhã. No chão viam-se duas pinturas da artista moçambicana Eugénia Mussa, uma delas pintada na véspera para este quarto capítulo do projeto, intitulado Notas sobre a Melodia das Coisas e que, para além de obras de Helena Vieira da Silva e Arpad Szenes, expõe trabalhos de mais 25 artistas, entre eles Ana Hatherly, Ângelo de Sousa, Belén Uriel, Bruno Pacheco, Carlos Botelho, Eduardo Batarda ou Manuel Cargaleiro.A nova mostra estará patente até dia 28 de setembro e sucede-se a O Tecido do Mundo (primeiro capítulo), Uma Estreita Lacuna (segundo capítulo) e Histórias de Bichos da Seda (terceiro capítulo que terminou no dia 13 de julho). Seguir-se-á um quinto capítulo até ao final deste ano, que concluirá o projeto com o qual Nuno Faria assumiu a direção do museu no ano passado. . “Nós chamamos-lhe capítulo, porque a exposição tem uma origem literária, as Metamorfoses , de Ovídio. É a mesma exposição, mas está sempre em metamorfose, sempre em transformação. No fundo, são cinco exposições diferentes, sendo que há uma base que se vai mantendo, há peças que ficam, outras que saem, mas a narrativa de base mantém-se. Evoca a origem deste lugar, das amoreiras, a relação entre o jardim e o interior”, lembra Nuno Faria na visita de imprensa que antecedeu a inauguração desta nova exposição, ontem à noite. O título Notas sobre a Melodia das Coisas é de um livro do poeta austríaco Rainer Maria Rilke e “aponta para uma atenção, um escrutínio de peças que têm a ver com objetos, naturezas mortas, pinturas de género, que se debruçam mais sobre os interiores, o silêncio, o movimento das coisas”, explica Nuno Faria. Foi esse o mote que conduziu à escolha das obras que percorrem as cinco salas da exposição, sejam elas de Vieira da Silva, de Arpad Szenes, de outros artistas pertencentes à coleção do museu (muitos deles amigos do casal, como Jorge Martins, René Bertholo ou Costa Pinheiro) ou de artistas convidados. . As obras de Eugénia Mussa, adianta o curador, são exemplo disso. “Estas pinturas que escolhi com a Eugénia são deste ano. Mas esta foi especificamente feita para esta exposição”, diz Nuno Faria, apontando para uma das pinturas em papel no chão. “A Eugénia entusiasmou-se e fez esta pintura, ontem. Ainda está a secar. E tem muito a ver com os temas que estamos a abordar nesta exposição. Ou seja, há um tema central, o da metamorfose, das transformações, das formas que mudam, os corpos que mudam, mas há também o tema da atenção ao detalhe, ao objeto, à maneira como a luz incide no objeto, à melodia dos objetos.” Público fielOs cinco ciclos expositivos deste projeto foram pensados ao detalhe há algum tempo, com datas, obras e artistas escolhidos, mas na hora de montar a exposição há sempre decisões a tomar e o público do museu também determinou algumas escolhas. “Quando se começa a montagem há dúvidas, o que é que fica, o que é que não fica, esta articulação está boa, não está... O público volta, vem às visitas, vem ver as montagens, não somos um museu de massas, mas somos um museu de fidelidade. E de atenção máxima aos detalhes. E tem sido muito bonito, esse diálogo com as pessoas. Na última visita guiada, por exemplo, numa das salas, há um falso autorretrato, não confesso, da Vieira, e uma das pessoas perguntou-me: e o retrato, vai ficar? Não sei ainda, talvez, respondi. Ficou.” . O objetivo desta exposição é também “dar a conhecer diferentes tipos de registo do Arpad e da Vieira”, expondo obras menos conhecidas e fornecendo “chaves de leitura” para a obra dos dois artistas, sublinha Nuno Faria, a quem interessa também tirar Arpad Szenes da “sombra”.Na última sala da exposição, com obras do artista Wells Chandler, procura-se cativar o público mais novo e trazer para o debate temas atuais. “A ideia de magia dos seres que estão entre mundos, como as sereias e as fadas. O mundo do imaginário, o mundo da realidade. Mas também o mundo entre géneros, entre estados. A metamorfose tem isso. E não vamos romantizar a metamorfose demasiado. Os corpos estão mesmo a mudar. Os corpos são mesmo a coisa mais política que existe”, diz Nuno Faria. “O Wells Chandler fez uma transição de género, era uma mulher e agora é um homem. Todas as coisas dele são em si híbridas, é um pensamento híbrido.” . E no final da visita de imprensa aparece Eugénia Mussa, ainda sem saber se a obra que fez na véspera vai ser exibida. “Foi uma pintura rápida, feita em menos de uma hora. Estava cheia de vontade, pode ter vindo da felicidade... Tem também a ver com o meu historial, já está entranhado, agora é só fazer . Porque a pintura é uma coisa que durante muitos anos uma pessoa está ali numa luta constante, ainda para mais na pintura a óleo. E agora já estou naquela fase que é mais prazer e fluidez”, justifica.Última montagemO quinto e último capítulo do projeto 331 Amoreiras em Metamorfose decorrerá de 2 de outubro a 31 dezembro. “ Vamos mostrar a última pintura da Vieira, que se chama Vers la Lumière , em direção à luz, que ela pintou em 1992. E a exposição vai invocar este encontro cósmico entre ambos [o casal Arpad Szenes e Vieira da Silva ]. Vai ser uma exposição muito branca, cheia de luz”, adianta Nuno Faria..Desenhos de Nelson Mandela em exposição no Alentejo .Do teatro à música: São Luiz anuncia a programação para a temporada 2025-2026