Sede da RTP em Lisboa.
Sede da RTP em Lisboa.FOTO: Álvaro Isidoro

Mais de 12 mil assinaram petição que quer a retirada de Portugal da Eurovisão

Após ter sido confirmada a continuidade de Israel na Eurovisão, RTP fez saber que vai participar. Trabalhadores da estação pública e Salvador Sobral, vencedor em 2017, contestaram decisão.
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"Pela retirada imediata de Portugal do Festival Eurovisão da Canção e enquanto Israel participar". É este o título da petição que reúne mais de 12 mil assinaturas e é dirigida aos membros do Conselho de Administração da RTP e ao Governo.

No texto da petição, exige-se que, "face à gravidade da situação humanitária, à manipulação comprovada dos resultados como ferramenta de propaganda e à vergonhosa posição de apoio manifestada pelo voto português, exigimos que a RTP anuncie a não-participação de Portugal na Eurovisão 2026".

A iniciativa surge depois de ter sido confirmada a continuidade de Israel na Eurovisão e a participação da RTP no festival. Uma posição contestada pelos trabalhadores da estação pública e por Salvador Sobral, o vencedor da edição de 2017.

Os signatários do texto da iniciativa manifestam "o seu profundo desacordo e indignação relativamente à posição da RTP face ao próximo Festival Eurovisão da Canção. Esta indignação é agravada pelo facto de a representação portuguesa ter votado a favor da participação de Israel, colocando Portugal do lado errado da História", lê-se.

"Esta postura é inaceitável perante a contínua catástrofe humanitária e ofensiva militar na Faixa de Gaza, e perante os escândalos de manipulação de voto que mancharam a edição de 2025 em Basileia, comprovando a incapacidade da organização (EBU/UER) em travar a politização do evento", refere o documento.

Países Baixos, Eslovénia, Irlanda e Espanha decidiram em sentido inverso ao da estação pública portuguesa e anunciaram que não vão participar na edição de 2026, em protesto pela ação militar de Israel na Faixa de Gaza.

"Portugal deve corrigir o erro do seu voto e juntar-se ao bloco de países, como a Espanha, que se recusam a branquear a situação. É imperativo defender a dignidade dos artistas nacionais, o respeito pelo Direito Internacional e a génese do próprio festival", defende-se.

Referindo que a Eurovisão foi criada "para promover a paz e a união entre os povos num pós-guerra", os autores da petição referem que o festival "não pode servir de palco para normalizar a guerra".

"A RTP é financiada pelo esforço dos contribuintes. Existe um dever ético de não aplicar dinheiros públicos num evento que se transformou numa plataforma de limpeza de imagem através da arte de graves violações de Direitos Humanos. A missão da RTP é promover a cultura e a paz, não normalizar a guerra", destaca-se no texto.

Depois de confirmada a participação de Israel, estruturas representativas de trabalhadores da RTP contestaram a decisão de Portugal de se manter no Festival Eurovisão da Canção.

A tomada de posição de várias estruturas representativas dos trabalhadores, a que a Lusa teve acesso, foi lida em plenário de trabalhadores da RTP convocado a propósito da greve geral de dia 11.

Aí, é condenada "a decisão da UER [União Europeia de Radiodifusão] de manter Israel no Festival Eurovisão da Canção de 2026, apesar da continuação das ações militares em Gaza e das graves violações de direitos humanos amplamente denunciadas pela comunidade internacional".

Os trabalhadores da RTP consideram que "manter a KAN [a televisão pública israelita] no certame contribui para a legitimação e normalização de um Estado acusado de crimes de guerra" e dizem ser "incompreensível que a RTP tenha confirmado a participação de Portugal e apoiado a aprovação das novas regras que, na prática, mantêm Israel — e a KAN — na competição".

A moção pede que a administração reveja a sua posição, considerando que a empresa pública de rádio e televisão tem de se afirmar, “sem ambiguidades, como serviço público comprometido com a ética, a coerência e os direitos humanos".

"Os trabalhadores da RTP instam o Conselho de Administração a reavaliar urgentemente a sua posição e a pronunciar-se publicamente contra a participação de Israel em 2026", lê-se na tomada de posição.

Na assembleia-geral da UER de quinta-feira foi decidido que Israel poderá participar no Festival Eurovisão da Canção 2026. Em seguida, Espanha, Irlanda, Países Baixos e Eslovénia anunciaram o boicote ao festival.

O músico Salvador Sobral, vencedor da Eurovisão em 2017, criticou esta sexta-feira a decisão da RTP de participar na próxima edição do Festival Eurovisão da Canção, tendo afirmado que soube disso durante o concerto 'Juntos por Gaza', em Lisboa, em que participou e que será transmitido na RTP.

"A RTP, o canal do Estado, decidiu participar na Eurovisão mesmo com a participação de Israel. Aquela expressão dar uma no cravo e outra ferradura nunca teve tanto sentido como ontem à noite. A televisão nacional transmite um concerto por Gaza e ao mesmo tempo tem medo de fazer a coisa certa”, afirmou o músico num vídeo partilhado na sexta-feira na rede social Instagram.

Para Salvador Sobral, trata-se de um exemplo de “cobardia política, (…) coerente com a cobardia institucional, das instituições públicas”.

“Deixa-me triste porque é uma questão simplesmente humana e é óbvia a decisão que tem de se tomar", acrescentou.

Segundo Salvador Sobral, a RTP deveria manter o Festival da Canção, mas o vencedor não iria à Eurovisão e seria premiado de outra forma.

O Festival Eurovisão da Canção é organizado pela UER, fundada em 1950, em cooperação com operadores públicos de mais de 35 países, entre os quais a Rádio e Televisão de Portugal (RTP).

O 70.º Festival da Eurovisão da Canção acontecerá em maio de 2026, em Viena (Áustria).

Com Lusa

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