Lembramo-nos das atribulações de Rosetta (a admirável Émilie Dequenne, falecida há poucos meses) no filme de 1999 que tem o seu nome como título. Ou da história do bebé tratado como mercadoria em A Criança (2005). Ou ainda da angústia vivida por uma trabalhadora (Marion Cotillard numa das suas composições mais depuradas), enredada num conflito laboral, em Dois Dias, uma Noite (2014).Do cinema dos irmãos Dardenne não nos lembramos dos “temas” que os noticiários televisivos reduzem a julgamentos automáticos e maniqueístas, nem sequer das “mensagens” que podem alimentar a nossa boa consciência, desviando-nos da complexidade do mundo à nossa volta. Lembramo-nos, isso sim, das personagens, das pessoas, da vibração de histórias de observação, conhecimento e desconhecimento das relações humanas. . Assim volta a acontecer em Jovens Mães, um dos grandes filmes de 2025. Por um lado, é verdade que podemos tomá-lo como uma visão didática, sem dúvida útil, de um avançado sistema estatal de assistência (às jovens que o título identifica); por outro lado, o retrato desse sistema não surge como uma espécie de remédio mágico para todos os problemas retratados, a começar, claro, pela capacidade ou incapacidade das personagens centrais assumirem a condição de mães.Da relação da câmara com os corpos e os cenários até ao valor dramático das palavras que se dizem (ou calam), Jean-Pierre e Luc Dardenne mantêm-se fiéis a um realismo que não se alheia dos contrastes e contradições das redes sociais. Redes sociais? Sim, as que vivemos em carne e osso, não as ilusões virtuais que lhes roubaram o nome.