Joana Pais de Brito: muito mais do que a imitadora de Cristina Ferreira

Já foi terapeuta ocupacional, agora trabalha com Herman José. A atriz integra o elenco da comédia A Peça Que Dá para o Torto, que se estreia quarta-feira no Auditório dos Oceanos, no Casino Lisboa.

Ela já foi Ana Malhoa, Assunção Cristas, Maria Cerqueira Gomes, Joana Latino, já foi Madonna e até a princesa Diana. Desde que entrou para o elenco do programa de humor Donos Disto Tudo, na RTP, a atriz Joana Pais de Brito tornou-se conhecida pela sua capacidade em fazer caricaturas de famosos. A sua imitação de Cristina Ferreira tornou-se de tal forma popular que a apresentadora chegou a convidá-la para a sua "casa".

Joana Pais Brito nasceu em Lisboa há 36 anos e desde miúda que é apaixonada pelos palcos. "Via muito teatro em pequenina. O TIL - Teatro Infantil de Lisboa foi o sítio das minhas festas de anos até muito tarde, até quase aos 14 anos, íamos ao teatro e depois íamos lanchar", recorda. "Só que o teatro era uma brincadeira, não era uma profissão. Nessa altura não queria ser atriz, quis ser veterinária, quis ser cozinheira e fazer chocolates..." Acabou por ser terapeuta ocupacional: foi esse o curso que tirou e foi essa a sua primeira profissão, tendo trabalhado durante dois anos num serviço de psiquiatria.

"A minha primeira experiência teatral foi aos 14 anos, num grupo da escola. Mas só aos 25 é que voltei", conta. Já estava a trabalhar e gostava do que fazia mas decidiu frequentar uns workshops de teatro nos tempos livres. "Foi isso que me fez perceber: esta paixão ainda está aqui." Depois dos workshops com o professor americano John Frey decidiu que estava na altura de correr atrás do seu sonho e foi estudar interpretação no William Esper Studio, em Nova Iorque: "Foi ótimo. Era um curso de interpretação muito multidisciplinar, estive lá dois anos e aprendi imenso."

"Essa mudança foi um grande susto, não vou mentir. Todos temos medo da mudança e evitamos a mudança a todo o custo. Só que a certa altura estava já a ser tão grande a vontade de fazer teatro que teve de ser", explica. Tratou-se, portanto, de começar uma carreira nova: "Comecei a bombardear toda a gente com o meu currículo, que era quase nada, eu só tinha feito uma curta em Nova Iorque e duas peças com os Lisbon Players. Entretanto, comecei a fazer muitas curtas de estudantes, e fiz várias coisas com a Academia da RTP. Depois fui a um casting para o Canal Q e fiquei no Camada de Nervos. Uma coisa leva a outra, nos primeiros dois anos fiz muitos projetos não remunerados, faz parte, no início, e depois há um momento em que a pessoa tem de dizer 'agora chega'."

O ano de 2015 foi o de Donos Disto Tudo. "O DDT foi sem dúvida o trabalho que me deu mais exposição. Pôs-me no mapa. Estar com aquele elenco e no prime time da RTP - isso faz toda a diferença." Foi nessa altura que Joana Pais de Brito se especializou nas imitações. "É uma interpretação minha daquela pessoa. Se outra pessoa imitar a Cristina Ferreira vai fazer outras escolhas, aquelas são as minhas escolhas. É sempre uma interpretação."

Não basta ter jeito. É preciso muito trabalho, avisa: "Passo muito tempo a observar as pessoas, a ver os vídeos, a ouvir. A ver só, sem som. Depois a ouvir só, sem ver. A gravar a minha voz e a ouvir. Muitas vezes. Tento apanhar as várias tonalidades, as maneiras de rir, porque cada pessoa tem diferentes registos, quando está séria, quando está zangada, etc. E só estou a falar da figura pública porque na vida pessoal eu nunca toco." Além disso, Joana sublinha que o sucesso da caricatura não se deve só ao seu trabalho: "Antes de mais há um texto que é escrito, depois tem a caracterização, o guarda-roupa e depois eu entro com as minhas escolhas - e é isto tudo que faz a personagem."

Claro que "quanto mais famosa é a pessoa mais famosa se torna a caricatura", o que é bom mas também é um risco. Há pessoas que podem não gostar da interpretação de Joana. Mas ela não se preocupa muito com isso. "Quando eu estou a estudar alguém que vou imitar é como se aquela pessoa não fosse uma pessoa. A base é o que eu vejo. Tem de haver um distanciamento, se não não faço as minhas escolhas à vontade. Inclusivamente quando imito pessoas que eu conheço ou que fazem parte das minhas relações, tem mesmo de haver um distanciamento."

Atualmente, Joana trabalha no programa Patrulha da Noite (onde faz, por exemplo, a Vizinha dos Sacos) e colabora no Cá por Casa, de Herman José. "Eu cresci a vê-lo na televisão. Lembro-me de que houve uma altura em que praticamente só havia o Herman a fazer humor na televisão. A primeira vez que trabalhei com ele foi num sketch do DDT em que eu fazia de Ana Malhoa e ele fez de Diácono Remédios. Foi muito emocionante. É uma aprendizagem enorme trabalhar com ele e com a Maria Rueff, a Ana Bola e outras pessoas que têm anos e anos de experiência e que são tão criativas."

Agora, ela não só já trabalha com estes monstros do humor mas também é reconhecida na rua. "Ao princípio, no DDT, quando houve assim uma atenção sobre mim, eu não estava habituada e era muito pouco descontraída, mesmo a dar entrevistas, não estava nada à vontade", conta. "Levei algum tempo a habituar-me e a perceber que é normal. Até porque eu ia muito ao teatro e no final íamos sempre cumprimentar os artistas e eu lembro-me de que eu era muito tímida mas era importante para mim ir agradecer aos atores. Eu continuo a fazer isso, quando gosto do trabalho de alguém. Por isso, é bom quando as pessoas nos dizem que gostam do nosso trabalho."

O trabalho de Joana Pais de Brito tem estado mais ligado à comédia mas ela faz questão de dizer que é uma atriz, não só uma humorista. "Eu gosto de fazer tudo. Contar uma história através de uma personagem, é isso que me interessa. Em que género é que isso está é secundário para mim. A comédia nunca foi um desejo ou uma escola, aconteceu assim. E, claro, as pessoas associam-me muito à comédia e depois chamam-me para outras comédias." Mas não tem de ser assim.

Para já, Joana está a braços com uma nova personagem cómica, Anita, no espetáculo A Peça Que Dá para o Torto, que se estreia nesta quarta-feira no Auditório dos Oceanos, no Casino Lisboa. Anita é a contrarregra do Núcleo de Teatro da Sociedade Recreativa e Cultural do Sobralinho, o grupo que decide colocar em cena o Crime na Mansão Haversham. Só que no dia da estreia tudo começa a correr mal - as luzes não funcionam, partes do cenário partem-se, os adereços desaparecem, os atores aleijam-se. Mas o espetáculo tem de continuar, apesar das contrariedades. "A Anita é a pessoa mais tímida do planeta, é do backstage, odeia estar ao pé das pessoas no palco, e todos os medos dela vão ser desafiados ao longo do espetáculo", conta a atriz.

A Peça Que Dá para o Torto é um "replica show" de uma produção que o Mischief Theatre estreou em Londres há cinco anos. Na produção portuguesa da UAU, a peça é encenada pela inglesa Hannah Sharkey com o português Frederico Corado, a partir de uma tradução de Nuno Markl. No elenco, além de Joana Pais de Brito, encontramos Inês Castel-Branco, Alexandre Carvalho, Cristóvão Campos, Igor Regalla, Miguel Thiré, Telmo Mendes e Telmo Ramalho.

A Peça Que Dá para o Torto
Estreia a 12 de fevereiro
Auditório dos Oceanos, Casino Lisboa
De 9 a 11 de julho no Coliseu do Porto

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