Jingtai Lan
É conhecido pela complexidade do processo de fabrico e pelo brilho intenso das suas cores esmaltadas, tendo sido outrora um exemplo paradigmático da arte da corte imperial chinesa.
Na corte da China antiga, o vermelho e o amarelo representavam o poder imperial e a riqueza, sendo por isso cores favorecidas pela família real. No entanto, havia um tipo de objeto artesanal predominantemente azul que gozava igualmente de grande popularidade entre os membros da realeza - o Jingtai Lan (também conhecido como “esmalte cloisonné com base metálica”).
“Jingtai” refere-se ao reinado do sétimo imperador da dinastia Ming (1450-1456), durante o qual a técnica do esmalte cloisonné atingiu o seu auge na China, sendo os objetos fabricados nessa época frequentemente decorados com esmalte azul - razão pela qual passaram a ser conhecidos como Jingtai Lan (lan em chinês significa “azul”).
O Jingtai Lan é produzido através da aplicação de fios metálicos finos e achatados (principalmente de cobre, mas também de ouro e prata), moldados sobre uma base metálica para formar diferentes padrões e motivos decorativos. As cavidades formadas são então preenchidas com esmalte colorido, e a peça é sujeita a um processo de cozedura, polimento e douramento.
Esta técnica tradicional chinesa que combina belas-artes, artesanato, escultura, incrustação, fusão de vidro e metalurgia remonta ao século XIII. Nessa época, durante as campanhas militares do Império Mongol (dinastia Yuan), foram capturados e levados para a China muitos artesãos árabes especializados que introduziram o esmalte sobre a base de cobre, então popular no mundo árabe. Ao ser integrado com técnicas locais chinesas como a fundição do bronze e os esmaltes cerâmicos, este processo deu origem a uma forma distinta de cloisonné com identidade chinesa.
Posteriormente, a arte do Jingtai Lan desenvolveu-se ainda mais durante a dinastia Qing (1644-1911). Os artesãos da época criaram motivos decorativos mais complexos, como dragões, fénices, flores de lótus e nuvens auspiciosas, e a combinação única da técnica de cloisonné com os símbolos da cultura chinesa transformou o Jingtai Lan num verdadeiro modelo da arte palaciana.
O processo de fabrico do Jingtai Lan é extremamente complexo e minucioso. A produção de uma única peça envolve 108 etapas técnicas precisas, incluindo a moldagem da base metálica, a aplicação dos fios de cobre (conhecida como “cloisonné”), o enchimento com esmalte colorido, a cozedura, o polimento e a douragem. A aplicação dos fios exige uma precisão extrema: a margem de erro permitida nos fios de cobre não pode ultrapassar 0,1 milímetros, demonstrando plenamente o espírito de perfeição e rigor dos artesãos chineses.
Durante a cozedura, a superfície esmaltada pode desenvolver espontaneamente pequenas fissuras conhecidas como “fendas de gelo”. Embora estas fossem originalmente consideradas imperfeições técnicas, passaram a ser apreciadas como uma forma de “beleza inesperada” pelos literatos e estetas, que descreveram poeticamente estas “características preciosas surgidas de erros no calor da fornalha” como a “doença do forno transformada em tesouro”. Tal perspetiva reflete a estética tradicional chinesa, que valoriza a beleza natural e espontânea, bem como uma atitude de aceitação perante o acaso e a imperfeição.
A complexidade do processo de fabrico e os elevados custos de produção fizeram do Jingtai Lan um verdadeiro símbolo da estética imperial. Durante as dinastias Ming e Qing (1368-1911), tanto os padrões decorativos como as cores utilizadas nas peças de Jingtai Lan obedeciam estritamente ao protocolo ritual da corte imperial - o motivo do dragão era reservado exclusivamente ao imperador, o da fénix era destinado à imperatriz, o amarelo representava a supremacia e o azul a nobreza, tornando cada peça num veículo para a visualização do poder. Na dinastia Qing, os imperadores ofereciam frequentemente objetos de Jingtai Lan como presentes diplomáticos a delegações estrangeiras, reforçando assim o prestígio da corte chinesa.
Atualmente, o Museu do Palácio de Pequim (Palácio Imperial ou Cidade Proibida) possui a maior coleção de Jingtai Lan da China antiga, com mais de 4000 peças que datam desde as dinastias Yuan, Ming e Qing até ao período da República. Embora uma parte destas peças tenha sido produzida por oficinas civis, a esmagadora maioria provém de instituições oficiais subordinadas diretamente à corte imperial, como os ateliers reais das dinastias Ming e Qing, e as oficinas supervisionadas pela coroa em regiões como Cantão.
Atualmente os artesãos contemporâneos continuam a inovar com base nas técnicas tradicionais, integrando a arte do Jingtai Lan em artigos do quotidiano, como joalharia e decoração de interiores. Desta forma, esta arte outrora reservada à realeza e aos muros do palácio encontrou finalmente o seu caminho até ao lar das pessoas comuns. Em 2006, a técnica de fabrico do Jingtai Lan foi incluída na primeira lista nacional de património cultural imaterial da China.
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“INICIATIVA DO MACAO DAILY NEWS”