Poderá o ADN comprovar que Colombo era um corsário português?
Em 2012, Fernando Branco, professor catedrático de Engenharia do Instituto Superior Técnico (IST) e historiador amador, publicou um livro com uma teoria extraordinária: Cristóvão Colombo, o descobridor da América, não era um antigo tecelão genovês e, sim, um corsário português, nascido em Coimbra, chamado Pedro de Ataíde. Nesta quinta-feira, numa conferência em Coimbra, a verdade - esta ou outra - poderá finalmente ser conhecida.
Há cerca de dois anos que uma equipa de investigadores do IST, do Instituto de Medicina Legal e da Universidade de Coimbra, liderada pela antropóloga Eugénia Cunha, tem vindo a trabalhar na hipótese avançada por Branco. As ossadas de António de Ataíde, primeiro conde de Castanheira e primo do corsário português, foram exumadas da igreja onde este estava sepultado, perto de Lisboa, de forma a ser extraído ADN nuclear - herdado do pai e da mãe -, tendo em vista a comparação com análises realizadas em 2006 por cientistas espanhóis a Fernando Colombo, filho do navegador.
Serão estes os resultados a anunciar na quinta-feira? Essa é uma informação que está a ser guardada com todo o cuidado. Sabe-se apenas que na conferência, que terá lugar quinta-feira à tarde no espaço Rómulo - Centro Ciência Viva da Universidade de Coimbra, serão anunciados "novos dados" relativos a esta investigação. Mas a lista de conferencistas, que inclui, além de Fernando Branco e Eugénia Cunha, o presidente do Instituto de Medicina Legal, Francisco Corte Real, permite pelo menos especular que um dos enigmas que mais têm inquietado os historiadores estará perto de ser decifrado.
A tese mais aceite pelos historiadores é que Cristóvão Colombo era um genovês, nascido entre 1451 e 1452, que terá sido tecelão na juventude, tornando-se em circunstâncias não inteiramente esclarecidas, no navegador que, ao serviço dos reis de Espanha, chegou à América em 12 de Outubro de 1492, acreditando ter acabado de alcançar a Índia.
Fernando Branco contesta essa versão da história, defendendo que a mesma assenta num conjunto de documentos encontrados em Génova e num suposto testamento do Almirante Colombo (aliás: Colon, como é referido em Espanha) que já se terá provado ser falso.
De acordo com o professor do IST, o navegador deixou vários manuscritos e referências na sua biografia "Historia del Almirante" que demonstram que terá nascido entre 1442-43, cerca de uma década antes do genovês identificado nos documentos encontrados em Itália, pelo que não poderão ser a mesma pessoa.
Acrescenta não existir um único documento da época, escrito pelo próprio ou por terceiros, em que o almirante Colombo (ou Colón) seja identificado pelo nome próprio de Cristóvão. "Tendo o Almirante vivido em Portugal, tendo feito viagens em armadas portuguesas, tendo casado com uma nobre portuguesa, tendo lidado com D. João II durante 14 anos, o seu nome não aparece em nenhum documento português desse período. Todos estes factos suscitam a forte hipótese de o seu verdadeiro nome não ter sido Cristóvão Colon", referiu o investigador, num documento de apresentação da obra "Cristóvão Colon e o corsário Pedro Ataíde".
Por outro lado, defende, há diferentes referências, incluindo de historiadores contemporâneos do almirante, como Lucio Marineo Siculo (1460-1533), a um Pedro Colon, navegador ao serviço dos reis católicos. O mesmo navegador que, no início da sua carreira, terá servido sob as ordens do almirante francês Culon.
E também existem referências a um corsário português chamado Pedro Culão (ou Colon), nomeadamente em queixas de mercadores venezianos dirigidas ao rei de Portugal.
Cruzando as referências biográficas de Cristóvão Colombo e Pedro Colon, Fernando Branco chegou à conclusão de que estas tinham muitos pontos em comum com Pedro Ataíde. Desde logo o passado como corsários. Mas não só.
Pedro Ataíde, nascido bastardo numa família da alta nobreza, terá crescido na zona de Viseu, perto do rio Pavia e numa zona onde existia o convento Franciscano de Orgens. Colombo, ou Colón, "refere que aprendeu a ler em Pavia" e "seguia preceitos franciscanos". Pedro Ataíde participou na Guerra de Aragão. Colombo também. E os pontos de contacto continuam, de Arzila à Guiné, e passando pelas ligações familiares de Pedro Ataíde a Filipa Moniz...a mulher portuguesa de Colombo.
A derradeira coincidência surge na suposta morte de Pedro Ataíde. Segundo o autor, citando, Rui de Pina, este desaparece dos registos na Batalha de São Vicente, em 1476, apesar de o seu barco ter sido "o único a escapar". De acordo com a biografia de Colombo escrita pelo filho, o navegador também participou nessa batalha, tendo escapado nadando...até à costa portuguesa.
A teoria de Fernando Branco é que Pedro Ataíde teria problemas com a monarquia portuguesa, devido ao envolvimento da sua família na conjura contra o rei D. João II. E que terá aproveitado o facto de ter sido dado como desaparecido naquela batalha para mudar de nome para Colon e fugir para Espanha.
E o professor catedrático acredita mesmo que Colombo, "que nunca assinou o seu nome", terá deixado uma pista a esse respeito na "estranha assinatura" que adotou a partir de 1502: "X po FERENS". Para Branco, "po" é uma abreviatura de "Pêro" - a grafia da época para o nome "Pedro" - e FERENS será um acrónimo de "ENFER" (inferno em francês). No início da sua carreira de corsário, Pedro Ataíde ganhou a alcunha de "Inferno".