Mais umas pequenas mentiras com Marion Cotillard
Mais uma vez, Guillaume Canet como realizador, está mais interessado em ser eficaz no campeonato do entretenimento adulto do que em fazer "alta arte". Nesta sequela de Pequenas Mentiras entre Amigos o objetivo é o mesmo: fazer uma variação de Os Amigos de Alex, de Lawrence Kasdan, desta vez com um jogo de espelhos de reencontros e desenvolvimentos de intrigas entre as personagens. Quem queria pensar que a referência é o modelo de filme sobre grupo de amigos à boa maneira de Quando o Amor Acaba (1972), de Maurice Pialat, pode tirar o cavalinho da chuva.
A história agora passa-se oito anos após o grupo de amigos de Paris estar reunido de férias em Cap Ferret. Max, o mais velho, está com uma crise financeira, há separações, novos namorados, filhos a crescer mas a mesma cumplicidade. O pretexto para a reunião é precisamente os 60 anos de Max e a festa vai meter muitos "shots" de vodka, banda-sonora com música revivalista (não falta Elton John), sexo ao fim da noite e, durante o dia, mariscadas e passeios pela natureza.
Será que o argumento de Canet pretende ser inconscientemente uma ode à aspiração estival burguesa? Talvez isso não seja importante, pois há sempre uma coisa a ser tratada através de inversões e reclinações: a amizade no seu estado mais puro. Por isso, nesse encontro de afetos, manipulado ou genuíno, é o acontecimento do amor fraternal que nos é proposto. E o mérito de Canet é conseguir tudo isso com a mais vernacular massa de emoções. Nesse sentido, é um filme, tal como o primeiro, cujas personagens parecem todas explodir de emoções, mesmo o bebé. E dessa explosão coral nasce uma energia que se contagia. O humor traz gargalhadas espontâneas e a sugestão de elementos dramáticos é de uma gravidade muito rara neste tipo de filmes.
É bem verdade que Pequenas Mentiras entre Amigos 2 não tenha nascido de uma necessidade de sequela indispensável, mas a revisitação aos próprios acontecimentos originais tem algumas variações bidimensionais simpáticas, a começar na sensação que se cria que aqueles tipos começam a ficar nossos conhecidos. Um efeito que é meio caminho andado para o público ser apanhado no sentimento de partilha deste grupo de amigos.
Por outro lado, Canet não é muito subtil nas interjeições exclamativas da narrativa: o humor físico parece sempre forçado e um certo episódio trágico no mar parece lembrar dispositivo dramático à Verão Azul. Mas a comédia dramática e os seus elementos naturais aqui convivem quase sempre às mil maravilhas, sobretudo quando são apoiados por diálogos certeiros e fulminantes, filmados por uma câmara que inventa o clímax emocional com grandes planos do rosto dos atores.
E nesta sequela os atores ainda estão mais em forma. Destaque obviamente para a mulher do realizador, Marion Cotillard, em mutação com a personagem - a sua Marie está com problemas de álcool e, ao mesmo tempo, expõe um certo amadurecimento. E fá-lo com um requinte invisível. É como se as suas cenas pertencessem a um filme de uma outra intensidade e ambição. Há Marion e os outros, sem desprimor a ninguém, especialmente porque estão lá Gilles Lelouche, François Cluzet ou Benoît Magimel, ainda em melhor plano do que no filme original. Só por ela já valia muito pagar o bilhete para este filme que em França já levou milhões ao cinema...
*** estrelas