A Bíblia não é um ensaio, mas o trabalho de Frederico Lourenço permite incluí-lo neste género literário sem dificuldade devido aos "acrescentos" que faz para explicar os evangelhos traduzidos do grego. Quanto a Jonathan Franzen ou Ian Kershaw, o que se ganha com a sua leitura é muito, bem como com as lições de Umberto Eco e Tomas Halik.. O FIM DO FIM DA TERRA .Jonathan Franzen.Editora D. Quixote, 262 páginas.De Jonathan Franzen está-se sempre à espera de um novo romance, claro que não existindo podem reunir-se alguns ensaios e publicar em vésperas do Natal. O que é uma boa ideia pois é interessante saber o que pensa um escritor sempre tão polémico nas suas narrativas. Estes textos são recentes, mesmo que datados como o Manhattan, 1981, mas o autor confessa-se sobre o que o move no último parágrafo do primeiro ensaio: "O que muda, se me der ao cuidado de parar para pensar, é que a minha identidade multifacetada adquire substância.". AOS OMBROS DE GIGANTES .Umberto Eco.Editora Gradiva, 442 páginas.A morte do pensador e escritor Umberto Eco não proíbe a leitura do seu pensamento, até porque a sua irreverência constante sempre atraiu leitores curiosos noutras formas de pensar mais desalinhadas. Este Aos Ombros de Gigantes recolhe doze textos que o autor escreveu para um festival, La Milanesiana, entre 2001 e 2015, sendo apresentados como Lições Magistrais. Tal como Stephen Hawking via o seu trabalho como resultado de grandes mentes do passado, também Eco considera que os grandes avanços filosóficos e científicos do século em que vivemos se beneficiam em muito nas contribuições dos que viveram antes. Leia-se um parágrafo: "Muitas vezes o elogio da novidade e da ruptura com o passado nasce como reação a um conservardorismo crescente.". CONTINENTE DIVIDIDO .Ian Kershaw.Editora D. Quixote, 767 páginas.Ian Kershaw é muito sintonizado [no bom sentido] em Hitler, sobre quem já escreveu importantes e definitivas obras biográficas e até um texto premiado intitulado Fazer amizades com Hitler, mas neste longo volume o que pretende é partir das cinzas desse grande conflito que foi a Segunda Guerra Mundial e estudar a Europa até ao ano 2017. Já foi considerada uma "poderosa história da Europa do Século XX" e o título assim aponta o caminho da sua investigação, tendo Kershaw procurado as explicações para diminuição da importância do continente europeu nas décadas do pós-guerra devido à rivalidade Estados Unidos - União Soviética até ao grande terramoto financeiro mundial de 2008. O leitor curioso pode ler também o volume anterior que investiga a primeira metade do século XX.. DIANTE DE TI - OS MEUS CAMINHOS .Tomás Halík.Edições Paulinas, 383 páginas.A conferência que Tomás Halík deu recentemente em Portugal a propósito do lançamento do seu mais recente livro, Diante de Ti - Os Meus Caminhos, intitulava-se "Fazer que o mundo volte a pensar". Não foi por acaso que escolheu este tema, antes porque teme o regresso de certos extremismos políticos com que conviveu durante as primeiras décadas de vida na antiga Checoeslováquia. Também não é por acaso que neste livro, muitas vezes autobiográfico, relata as suas experiências sociais e religiosas, opondo a sua vida ao que observa em seu redor. Composto de textos com duas/três dezenas de páginas, antecipados com uma epígrafe de Nietzsche, Halík refaz a sua experiência de vida e é uma leitura que desafia os mais crentes em certos momentos..BÍBLIA.(Volume IV) Antigo Testamento (Tomo I).Tradução de Frederico Lourenço.Editora Quetzal, 408 páginas.O plano original da tradução da Bíblia do grego por Frederico Lourenço continua em curso e acaba de sair o quarto dos seis volumes previstos. Trata-se da recolha de Os Livros Sapienciais como Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Job, Sabedoria de Salomão e Eclesiástico, que são agora revelados num primeiro tomo. Salmos, Salmos de Salomão, Odes e Provérbios, serão reunidos no tomo II deste quarto volume para o próximo ano. As anotações do tradutor fazem ressaltar as grandes dúvidas de autoria, como logo no primeiro caso, do Eclesiastes, em que Salomão surge como hipotético autor mesmo não podendo ser, ou a etimologia de certas palavras, como é o caso de "vaidade". A ler, pois perpassam por este volume questões que se mantêm atuais.