Hachette cancela a publicação do livro de memórias de Woody Allen

Protestos, devidos às acusações a Allen de abuso sexual da filha adotiva, menor de idade, nos anos 1990, levaram o grupo editorial francês a recuar no lançamento do livro previsto para 7 de abril.
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A Hachette, uma importante editora francesa, comunicou esta sexta-feira que decidiu cancelar a publicação de uma autobiografia de Woody Allen, que há muito é acusado de abusar da filha adotiva, menor, nos anos 1990, apesar de ter sido absolvido. O cancelamento segue-se a protestos e greve de funcionários. O lançamento estava previsto para 7 de abril.

"A decisão de cancelar o livro de Allen foi difícil", disse a Hachette em comunicado enviado à AFP, acrescentando que devolveria todos os direitos ao autor. Na quinta-feira funcionários da Hachette fizeram um protesto, abandonando os gabinetes, contra a publicação do livro. Os filhos de Mia Farrow, ex-companheira de Allen, também se manifestaram indignados com a publicação do livro.

O cineasta vencedor do Oscar Allen, 84 anos, foi absolvido das acusações, levantadas pela primeira vez pela sua então companheira Mia Farrow, depois de duas investigações, separadas por um mês. Allen sempre negou o abuso. Mas não se livra das suspeitas.

Não é primeira vez que o realizador de cinema vê uma editora recusar publicar a sua autobiografia ou enfrenta dificuldades com produtoras. A Amazon Studios recusou o acordo de produção e distribuição que tinha com o cineasta e, apesar do seu filme, Um Dia de Chuva em Nova Iorque, ter marcado presença nas salas de cinema europeias, o mesmo não aconteceu no EUA. A sua produção atual, Rifkin's Festival, que conta com a participação de Christoph Waltz e Gina Gerson e, que foi filmada no verão passado, ainda aguarda distribuição.

Uma autobiografia de Allen esteve quase a sair através da editora Penguin, em 2003, mas tal não se concretizou. Em 2018 e 2019 várias editoras rejeitaram as propostas de um representante de Woody Allen, depois das questões levantadas pelo movimento #MeToo.

Mas agora a Grand Central do grupo Hachette, iria em frente com o livro autobiográfico. O contrato obrigava Allen a partilhar a editora (grupo Hachette) com um dos seus heróis literários, JD Salinger, e com um dos seus oponentes, o seu filho Ronan Farrow (que em 2019 publicou as suas reportagens no volume Catch and Kill), com quem não convive há anos. Este ano, será publicado, pela editora Macmillan, o livro de estreia de Dylan Farrow, Hush, que promete ser "uma poderosa fantasia feminista com reviravoltas surpreendentes".

De acordo com o revelado antes pela editora, o livro é um retrato da vida de Woody Allen, "tanto pessoal como profissional, descrevendo o seu contributo no cinema, teatro, e televisão" ao mesmo tempo que acompanha as relações do cineasta e a descoberta "dos amores da sua vida".

No que toca ao contrato assinado entre Allen e a Grand Central, nada foi dito, mas sabe-se que a autobiografia foi adquirida há cerca de um ano, num acordo envolto em secretismo. Além dos EUA, Apropos of Nothing (traduzido à letra para A Propósito de Nada) chegaria também ao Canadá, Itália, França, Alemanha e Espanha, não havendo ainda confirmação de que tivesse sido adquirido por uma editora portuguesa.

Woody Allen, de 84 anos, conhecido por filmes como Annie Hall e Meia-Noite em Paris, é uma das figuras mais influentes da sua área, tendo ganho já quatro Óscares. No entanto, quando surgiram as alegações de que teria abusado sexualmente da sua filha adotiva, Dylan Farrow, nos anos 90 (altura em que esta era menor), a sua carreira sofreu um ponto de viragem, passando a ser rejeitado por atores e investidores.

O caso voltou a ser falado em 2017 quando o jornalista Ronan Farrow, filho do cineasta e da atriz Mia Farrow, publicou uma série de reportagens sobre os casos de agressão e assédio sexual imputados a Harvey Weinstein. A investigação de Ronan garantiu-lhe um prémio Pulitzer e o reconhecimento do movimento #MeToo.

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