Autobiografia "impossível" de Woody Allen chega às bancas em abril

Editora ​​​​​​​Hachette publica autobiografia de Woody Allen,<em> ''</em>Apropos of Nothing'. O livro, que chega às bancas a 7 de abril, gerou surpresa depois do movimento #MeToo.
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A editora Grand Central, do grupo Hachette, anunciou esta semana que irá publicar a autobiografia do realizador Woody Allen, sob o título Apropos of Nothing (traduzido à letra para A Propósito de Nada). O que parecia impraticável, em 2018, com o movimento #MeToo, torna-se agora real, com o livro a chegar às bancas nos Estados Unidos da América, dia 7 de abril. De acordo com a editora, o livro é um retrato da vida de Woody Allen, "tanto pessoal como profissional, descrevendo o seu contributo no cinema, teatro, e televisão" ao mesmo tempo que acompanha as relações do cineasta e a descoberta "dos amores da sua vida".

No que toca ao contrato assinado entre Allen e a Grand Central, nada foi dito, mas sabe-se que a autobiografia foi adquirida há cerca de um ano, num acordo envolto em secretismo. Além dos EUA, Apropos of Nothing chegará também ao Canadá, Itália, França, Alemanha e Espanha, não havendo ainda confirmação de que tenha sido adquirido por uma editora portuguesa.

Woody Allen, de 84 anos, conhecido por filmes como Annie Hall e Meia-Noite em Paris, é uma das figuras mais influentes da sua área, tendo ganho já quatro Óscares. No entanto, quando surgiram as alegações de que teria abusado sexualmente a sua filha adotiva, Dylan Farrow, nos anos 90 (altura em que esta era menor), a sua carreira sofreu um ponto de viragem, passando a ser rejeitado por atores e investidores. O caso voltou a ser falado em 2017 quando o jornalista Ronan Farrow, filho do cineasta e da atriz Mia Farrow, publicou uma série de reportagens sobre os casos de agressão e assédio sexual imputados a Harvey Weinstein. A investigação de Ronan garantiu-lhe um prémio Pulitzer e o reconhecimento do movimento #MeToo.

Apesar de não ter sido condenado pelos crimes de que foi acusado, Allen tem sentido dificuldades. A Amazon Studios recusou o acordo de produção e distribuição que tinha com o cineasta e, apesar do seu filme, Um Dia de Chuva em Nova Iorque, ter marcado presença nas salas de cinema europeias, o mesmo não aconteceu no EUA. A sua produção atual, Rifkin's Festival, que conta com a participação de Christoph Waltz e Gina Gerson e, que foi filmada no verão passado, ainda aguarda distribuição.

Uma autobiografia de Allen podia parecer um passo óbvio no seu percurso e quase aconteceu, quando conseguiu um acordo estrondoso com a editora Penguin, em 2003, acabando por mudar de ideias. Em 2018 e 2019 várias editoras rejeitaram as propostas de um representante de Woody Allen, depois das questões levantadas pelo movimento #MeToo. No entanto, a Grand Central garante que assim que o vice-presidente Ben Siever leu o resumo do livro, a decisão ficou tomada.

O contrato obriga, assim, Allen a partilhar a editora (grupo Hachette) com um dos seus heróis literários, JD Salinger, e com um dos seus oponentes, o seu filho Ronan Farrow (que em 2019 publicou as suas reportagens no volume Catch and Kill), com quem não convive há anos. Este ano, será também publicado, pela editora Macmillan, o livro de estreia de Dylan Farrow, Hush, que promete ser "uma poderosa fantasia feminista com reviravoltas surpreendentes".

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