A 26 de março de 1960, Lisboa não foi apenas a capital de Portugal, mas o centro das atenções do mundo cinematográfico. Brigitte Bardot, o rosto que definiu uma geração e quebrou convenções sociais, aterrava em solo português para ser recebida por um autêntico "dilúvio" -- tanto meteorológico como humano.Brigitte Bardot morreu este domingo, 28 de dezembro, aos 91 anos. Mas para sempre ficarão os seus 56 filmes e a luta pela defesa dos animais..Morreu Brigitte Bardot, ícone do cinema francês.Quando veio a Portugal, Bardot estava no auge da sua popularidade. Como o DN descreveu na altura, com honras de primeira página, a chegada de "B.B." provocou um frenesim que a pacata Lisboa da época raramente testemunhava. Apesar de ser o maior símbolo sexual do pós-guerra e a protagonista do polémico E Deus Criou a Mulher (1957), o que mais impressionou quem a viu de perto foi a sua inesperada timidez. A mulher que os Estados Unidos apelidaram de fenómeno da "Bardot-mania" surgia em Portugal a pedir sossego, recordando com carinho a sua visita anterior, nove anos antes, em 1951.A passagem de Bardot por Lisboa ficou registada como um momento em que o conservadorismo da época se cruzou com a liberdade e o magnetismo daquela que era considerada a mulher mais livre de França. Entre a chuva persistente e os gritos dos fãs, ficou o registo de uma beleza que, como o DN sublinhou, impressionava tanto quanto a sua reserva pessoal.A passagem da atriz por Portugal em 1960 não foi apenas uma escala rápida, mas sim uma tentativa (quase impossível) de encontrar sossego.. Do luxo do Ritz ao refúgio no Algarve - que com ela se revolucionouEm Portugal, Bardot não vinha apenas para desfilar -- vinha para fugir. Acompanhada pelo marido à época, o ator Jacques Charrier, a atriz instalou-se no Hotel Ritz, em Lisboa, que tinha sido inaugurado alguns meses antes (em novembro de 1959). O Ritz era o símbolo máximo da modernidade e do luxo na capital, o único local capaz de acolher uma estrela desta magnitude com o protocolo necessário.A estada em Lisboa foi, no entanto, marcada por um cerco constante. Foi por isso que, segundo notícias da época, a atriz -- verdadeiramente agoniada pela multidão que se aglomerava à porta do hotel e pela perseguição dos fotógrafos cada vez que tentava circular pelas ruas da Baixa -- decidiu encurtar a permanência na capital.O seu destino seguinte foi o sul. Bardot viajou rumo ao Algarve, região que, em 1960, era ainda um segredo bem guardado, longe do turismo de massas. A francesa procurou refúgio na zona de Albufeira, tendo ficado instalada numa vivenda privada para escapar aos olhares curiosos. Aliás, foi esta visita, juntamente com a de outras figuras internacionais na mesma década, que começou a colocar o Algarve no mapa do "jet-set" mundial, transformando a pacata vila piscatória de Albufeira num local de culto para a boémia europeia. E a partir daqui o turismo na zona nunca mais parou...