O festival de música clássica Around Classic é promovido pela associação cultural MegaClassic, criada por dois antigos quadros do Centro Cultural e Belém (CCB), Miguel Leal Coelho e Paula Fonseca, e é inspirado no evento Dias da Música do CCB. Miguel Leal Coelho trabalhou mais de duas décadas no centro cultural, os últimos quase sete anos como administrador para a área dos espetáculos. Entre 2000 e 2006 foi diretor operacional da Festa da Música, iniciativa que viria a ser substituída pelo festival Dias da Música, que se realizou todos os anos até 2020, e do qual foi diretor artístico e operacional entre 2006 e 2016. Paula Fonseca abandonou o CCB, onde desempenhava as funções de diretora de Artes Performativas, há cerca de um ano. Saiu no meio da polémica que acabou na substituição da então presidente Francisca Carneiro Fernandes por Nuno Vassallo e Silva. “Eu e a Paula trabalhávamos juntos no CCB. Ela foi o meu braço direito enquanto eu lá estive. Quando ela saiu do CCB, lembrámo-nos, porque é que não vamos fazer uma coisa... não é uma imitação, mas é inspirado nos Dias da Música”, conta Miguel Leal Coelho. Tal como a iniciativa do CCB, o festival Around Classic propõe oferecer aos portugueses concertos de música clássica a preços acessíveis (os bilhetes mais caros custam 25 euros). “Esse foi, aliás, sempre o meu objetivo enquanto estive no CCB, de alguma forma tentar dessacralizar a música erudita. Tirá-la daquele formalismo que existe das senhoras porem o casaco de pele e os senhores o melhor fatinho e irem ao cabeleireiro ou ao barbeiro antes de irem ao concerto. E desde logo pedir aos músicos que se apresentassem vestidos também de uma forma informal”. O festival, com uma programação dedicada a Bach, decorre durante três dias entre 30 de maio e 1 de junho, no Cinema São Jorge, no Teatro Variedades e no Capitólio. “Quando tivemos a ideia de refazer este festival, pensámos que gostávamos de o fazer no centro de Lisboa. Estávamos a ler um artigo de que o Variedades ia reabrir remodelado e lembrámo-nos que seria boa ideia, de alguma forma, retirar aquela etiqueta do Parque Mayer de teatro de revista, e fazer uma coisa que pretendemos também que seja popular, mas com uma oferta diferente”, diz Miguel Leal Coelho.Esta iniciativa da MegaClassic não se vai esgotar em 2025. O festival deverá repetir-se, pelo menos, em 2026 e 2027. Aliás, os dois promotores já estão a trabalhar na programação das próximas edições. “Nós somos ambiciosos - não desmedidamente -, mas somos ambiciosos. Portanto, queremos melhorar”, diz Leal Coelho. Um dos objetivos é trazer a Portugal mais músicos estrangeiros. A ideia é que se realize “sempre no último fim de semana de maio, e ser uma espécie de arranque das Festas da Cidade, com uma programação diferenciada daquela que é habitual nas festas, mas puxando também para o lado popular dessa celebração ”, adianta Paula Fonseca.Mas para que o novo festival se aguente é preciso arranjar financiamento. Para já tem apoio da EGEAC - que cede as salas de espetáculos -, da Câmara Municipal de Lisboa, da Junta de Freguesia de Santo António e da Égide - Associação Portuguesa das Artes. Já foram investidos 200 mil euros no projeto. “Estamos a financiá-lo através dos apoios que temos. Mas, infelizmente, parte vem da receita de bilheteira - infelizmente, porque gostávamos de estar mais independentes em relação à receita de bilheteira”, sublinha a promotora. A expectativa é que os concertos esgotem todos, mas na altura de fazer as contas foram mais prudentes: “Fomos um bocadinho mais cautelosos, o ideal para nós era ter uma taxa de ocupação acima dos 70, 75% nos diversos concertos”. Em relação à programação, Bach é o protagonista. “Faz 340 anos que nasceu, este ano, e 275 que morreu. No fundo, estamos a festejar e a evocar um compositor que é considerado o pai da música moderna”. Miguel Leal Coelho destaca “a presença dos melhores intérpretes de música barroca em Portugal” e garante que “aderiram imediatamente e com enorme entusiasmo”. Sobre os concertos, aponta para o que é diferente, como os Quodlibet, “que não é mais do que a junção de cinco músicos de jazz que, para mim, são os melhores hoje em dia. Vão tocar arranjos feitos pelo Daniel Bernardes de temas de Bach, mas em jazz”. Surpreendente também, destaca o promotor, será a atuação de Alexander Hrustevich, “um acordeonista ucraniano que vive em Kiev, ensaia nas catacumbas por causa dos ataques aéreos, e é considerado um dos melhores acordeonistas do mundo. É dos poucos que toca com os dez dedos ao mesmo tempo. Há um vídeo no Youtube em que ele toca o Prelúdio e Fuga de Bach. Ouvindo sem imagem, parece que está a tocar órgão.”.Seis novos artistas candidatos ao prémio Fundação EDP para descobrir no MAAT