Sem dúvida de modo desconcertante, e também sedutor, uma das categorias dos Óscares que, este ano, envolve mais expectativa é a de melhor filme estrangeiro. Não só porque entre os nomeados surgirá, seguramente, Roma, de Alfonso Cuarón, um dos fenómenos do último ano, mas também porque a concorrência está longe de ser banal..Esta semana, justamente, podemos encontrar no panorama das estreias dois filmes que integram a chamada "short list" (nove títulos) de candidatos àquelas nomeações (cinco): Nunca Deixes de Olhar, de Florian Henckle von Donnersmarck, e O Culpado, de Gustav Möller, representando Alemanha e Dinamarca, respectivamente..Será que algum deles conseguirá superar o avassalador favoritismo de Roma? A acontecer, seria a grande surpresa dos Óscares. Seja como for, importa não confundir as convulsões da "competição" com os méritos de ambos os filmes..Nunca Deixes de Olhar é um dos primeiros grandes acontecimentos deste ano cinematográfico, de alguma maneira retomando as memórias da Alemanha de Leste que Donnersmarck já trabalhara em As Vidas dos Outros (distinguido com o Óscar de melhor filme estrangeiro de 2006). O segundo propõe um invulgar exercício de suspense a partir da experiência de um polícia, num centro de atendimento, que recebe um telefonema angustiado de uma mulher que terá sido raptada pelo próprio marido....Entretanto, uma tradição que se renova é a do "drama histórico". Com resultados melhores ou piores, tornou-se mesmo uma das modas que, em anos recentes, tem cruzado livros e filmes. Maria, Rainha dos Escoceses, de Josie Rourke, é mais um exemplo de tal fenómeno, adaptando o livro homónimo de John Guy (ed. Planeta). Infelizmente, nem mesmo as atrizes principais - Saoirse Ronan (Maria) e Margot Robbie (Isabel I de Inglaterra) - conseguem salvar o projecto de um academismo pesado e pitoresco, afinal devedor das convenções mais banais do "telefilme histórico"..Enfim, convém não esquecer que M. Night Shyamalan continua a ser um dos cineastas a saber explorar com mais inteligência e ironia uma outra moda - a dos super-heróis. O seu novo filme, Glass, recupera as personagens principais dos anteriores O Protegido (2000) e Fragmentado (2016) e também os respetivos atores: James McAvoy, Bruce Willis e Samuel L. Jackson. São super-heróis sem capas voadoras nem raios luminosos, antes criaturas à procura de um lugar num mundo que os rejeita - a verdadeira fábula está aqui e faz justiça aos mais clássicos modelos de espectáculo e fantasia.