Nesta exposição sua de fotografias tiradas em Portugal, quais são os principais temas?Há aqui cinco salas na galeria. E o curador, o Dr. João Miguel Barros, que é uma pessoa extraordinária, não é só fotógrafo, mas também tem uma galeria em Lisboa (Ochre Space), é editor, crítico de fotografia e curador, escolheu assim os temas a partir de uma grande variedade de fotografias que tirei em Portugal. Obviamente, decidimos deixar de fora qualquer fotografia turística ou folclórica, para encontrar temas definidos que possam retratar um certo Portugal. A primeira sala é composta por retratos espontâneos de pessoas que conheço, relativamente conhecidas, mais ou menos públicas, que fui conhecendo ao longo dos tempos e muitas das quais têm alguma ligação ao México. Por exemplo, o grande artista José de Guimarães. Temos dois enormes painéis de azulejos deste artista numa estação de metro da Cidade do México, doados pelo governo português e inaugurados durante uma visita presidencial em 1996. Foi por isso que visitei o seu estúdio e lhe tirei muitas fotografias sem pedir autorização. Acho que, por eu ser embaixador, as pessoas são muito educadas e não dizem nada sobre as estar a fotografar. Este primeiro conjunto é constituído por retratos que vão desde o Presidente da República até ao então diretor do Museu Nacional do Azulejo, Alexandre Nobre Pais, mas em poses que podem ser consideradas atraentes. Essa é a intenção. Não são poses académicas de estúdio, mas sim espontâneas.E as outras quatro salas?A segunda sala, a maior, é a sala do carnaval. No México, temos dois grandes carnavais: o Carnaval de Veracruz e o Carnaval de Mazatlán. É curioso que estejamos a falar dos trópicos, mas de dois portos em oceanos diferentes. São carnavais gigantescos, mais parecidos com os do Brasil. E eu estava muito curioso por viver o carnaval em Portugal. E também porque inicialmente estava interessado numa geminação de Mazatlán com Torres Vedras. E trazer um carro do carnaval de Mazatlán com a rainha e tudo o resto até ao carnaval de Torres Vedras. No final, não foi possível, mas o que me importa é que levei a minha câmara. E aquilo chamou-me a atenção por ser um aspeto muito diferente da sociedade portuguesa, em contraste com o quotidiano. Os portugueses são reservados, calmos - tudo aquilo que se percebe desta sociedade, em geral, quando se vem de fora. E aqui, no Carnaval, é diferente. É um carnaval, uma transgressão, uma inversão, um momento de grande alegria coletiva e de fatos de carnaval de toda a espécie. Portanto, foi isso que retratei naquela segunda sala. A terceira é completamente diferente. Porque há um outro mundo que também é muito português, que é a tourada portuguesa e este fenómeno único dos forcados. Como mexicanos, temos touradas no México, temos a maior praça de touros do mundo, a “monumental” da Cidade do México. Estamos habituados a ver muitos toureiros espanhóis, e os toureiros mexicanos, como todos os latino-americanos, seguem os costumes e usam as vestes espanholas. Mas aqui vemos um fenómeno completamente diferente. Existe o toureiro a cavalo ao estilo português, mas a única coisa verdadeiramente singular são os forcados. E aqui vemos o contraste. No toureiro espanhol tudo é teatral, os gestos grandiosos, um espetáculo extraordinário. Enquanto os humildes forcados, nos seus trajes semitradicionais, imobilizam um touro com as próprias mãos. Qual dos dois é mais valioso? Era isso que queria mostrar aqui. Já tenho muitos amigos que são forcados. Já fui convidado para diferentes praças de touros. E depois tive o imenso privilégio de ser convidado para acompanhar um grupo de forcados, neste caso os forcados de Santarém, desde o momento de vestir a indumentária, que é um ato totalmente coletivo. Isto também é muito importante. O toureiro espanhol é um solitário, enquanto aqui os forcados trabalham em grupo. Assim, acompanhei o grupo desde o local intimista onde se preparam, caminhei com eles até à praça de touros de Santarém e estive com eles durante todas as touradas, partilhando as suas emoções, as suas ansiedades, a sua adrenalina, as suas alegrias. E foi isso que quis retratar nesta parte da exposição. Há mais duas fotografias de um amigo, um cavaleiro mexicano chamado Emiliano Gamero, que faz muito sucesso em Portugal e passa metade do seu tempo no México e a outra metade em Portugal. As temporadas são perfeitas porque quando a temporada portuguesa termina, começa a temporada mexicana. Então não pára, não pára. A quarta secção da exposição são paisagens do Alentejo. Não posso dizer - seria desrespeitoso - que é a minha região favorita de Portugal, porque ainda não explorei algumas. Não conheço todo o Alentejo, mas já lá fui muitas vezes. E a primavera é algo espantoso, como se diz em português, incrivelmente bela. E foi isso que mais captei nesta série de paisagens: caminhos, flores que se estendem até às nuvens, como se integram na paisagem - é extraordinário. E, por fim, a última secção, mais intimista, da exposição, é a embaixada mexicana, com alguns azulejos, cactos, um jardim, algumas outras plantas em frente a uma parede e uma série das quatro estações na mesma fonte antiga com frutos da Quinta de São João..Tem uma longa carreira como diplomata. Por exemplo, na Coreia do Sul, onde foi embaixador, recorda-se de fotografar algo emblemático?Na Coreia, acho que o que mais impressiona são os contrastes. O contraste entre tradição e modernidade. Porque o que se vê nesta parte da Ásia - Japão, Coreia e China - são economias ultra-avançadas com uma utilização tecnológica impressionante e infraestruturas incríveis, mas são sociedades muito tradicionais onde, por exemplo, as mulheres caminham atrás dos maridos. Portanto, há muitos contrastes que não se veem aqui. Um arranha-céus com 60 andares e um pequeno templo budista à frente. Isto não é algo que se veja em Portugal. Portanto, acho que foi isso que mais me interessou.Há algum outro país que tenha fotografado, e pelo qual tem carinho, que lhe tenha proporcionado uma foto icónica?O meu país. México, claro. No México também existem contrastes sociais. E há as cores. As cores do México. Alguém me disse durante a exposição que eu gostava muito das cores nas fotografias dos carnavais em Portugal porque me faziam lembrar o México. Talvez, não sei. Mas no México, as cores são sempre muito fortes, muito intensas. Sou fotógrafo amador e sinto-me muito humilde ao discutir este assunto, pois tenho imensa admiração pelos fotógrafos profissionais. Admiro muito as grandes, belas e icónicas fotografias de todo o mundo, tiradas por fotógrafos de todas as nacionalidades. Como se interessou um diplomata de carreira pela fotografia? Comecei com o meu pai, que sempre adorou fotografia. Tenho uma câmara muito boa que herdei, uma Rolleiflex, alemã. Com ele, desde muito jovem, aprendi as complexidades da composição e da luz. Assim, os meus irmãos e eu tornámo-nos modelos das suas fotografias. Mais tarde, fiz cursos na universidade. Mesmo na École National d’Administration de França fiz cursos e aprendi a revelar filmes. A revelar fotografias antigas, a preto e branco, dentro do laboratório fotográfico e tudo mais. Mas depois, quando se deu a transição do analógico para o digital, perdi muitos anos porque não gostava do digital. E isso coincidiu com o início da minha família. Assim, deixei de usar câmaras analógicas, mas só comprava câmaras baratas e de baixa qualidade para fotografar os meus filhos a crescer. E foi apenas nos últimos anos, há cerca de 10 anos, que voltei a interessar-me de forma mais sistemática e comecei a olhar para as coisas de uma forma um pouco mais profissional.Investiu numa boa câmara digital? Sim, quando vivia na Coreia, comprei uma máquina fotográfica japonesa, uma Canon. Tive grandes professores, amigos, gurus. Tive um “guru” na Coreia, um fotógrafo de moda, K. T. Kim. E também conheci aqui fotógrafos fantásticos.."Além da beleza do palácio, o que tem de especial esta embaixada do México é que todos a conhecem por fora"