Em Alcochete triunfam Moura Júnior, Montemor e Teixeiras
A segunda corrida da Feira, integrada nas Festas do Barrete Verde e das Salinas de Alcochete, foi uma festa à antiga. Pedro Balé faz a crónica da corrida.
¡Qué gran torero en la plaza!
¡Qué gran serrano en la sierra!
¡Qué blando con las espigas!
¡Qué duro con las espuelas!
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¡Qué tierno con el rocío!
¡Qué deslumbrante en la feria!
¡Qué tremendo con las últimas
banderillas de tiniebla!
(excerto de "La Sangre Derramada", de Federico Garcia Lorca, em tributo a Ignacio Sánchez Mejías, matador de toiros e escritor espanhol, que morreu de uma cornada em 13.08.1934, em Manzanares el Real)
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Com três quartos de casa, a Praça de Toiros de Alcochete abriu as suas portas na passada terça-feira, dia 16, para uma corrida muito séria, uniforme na sua apresentação, cuajada e rematada, e, outrossim, encastada, nobre, ágil e, no seu conjunto, manejável, de Veiga Teixeira, que conheceu os seus momentos culminantes na faena proporcionada por João Moura Júnior ao excelente toiro lidado em quinto, na atuação redonda e brilhante do Grupo de Forcados Amadores de Montemor-o-Novo e na pega de Diogo Amaro dos Amadores do Aposento do Barrete Verde de Alcochete, que se despediu das arenas.
Cavaleiros
Maestro António Ribeiro Telles abriu praça com um toiro de pelagem negra (como todos os demais na corrida), cornilargo, muito bem apresentado, reservón, encrençado em tábuas e, ultimamente, nos médios, medindo terrenos nas investidas, algumas, com surpresa, velozes e violentas. Depois de três compridos, exigentes e em terrenos comprometidos, sofrendo dois toques (no primeiro e no terceiro), sendo o segundo, cravado nos médios e ao estribo de boa nota, o que, já com o castanho de ferro Pablo Hermoso de Mendoza, volta a acontecer no terceiro curto, e que o fez finalizar no quarto, ao som de música, com uma brega final excelente. Já no quarto da corrida, mais fechado de córnea, também reservado e pouco colaborante, depois de dois compridos sem grande expressão, cravou um terceiro ferro curto com o Alcochete partindo de frente das porta de cavalos, apertando a sorte e logrando uma reunião ao estribo conseguida. Apesar de muito empenho, não lhe foi, porém, possível redondear faena. O público não quis, contudo, deixar de lhe proporcionar volta e ovação final forte, reconhecendo a sua entrega ao lote mais difícil da corrida.
João Moura Júnior, no seu primeiro, com um toiro codicioso e que deu boas condições de lide, soube tirar partido do mesmo com um segundo ferro comprido de frente para os curros de boa nota, o que também ocorreu com o segundo ferro curto, nos médios e ao pitón contrário, seguido de um terceiro colocando e atacando o toiro junto aos curros com uma cambiada perfeita que emocionou o público, o que repetiu no quarto, desta feita na porta dos cavalos, menos conseguido, e terminando com um ferro partindo dos curros, que chegou ao público. No seu segundo, o quinto toiro da tarde, saiu-lhe um toiro bravo e com classe, de investida alegre e pronta, com boas cadências de galope e ritmo que manteve até ao termo da lide. Saiu com ganas e focado no russo Londres, que o recebeu com uma brega emotiva, mantendo-o na justa distância da garupa, até o deixar e cravando nos médios.
O segundo comprido foi ainda de maior entrega, ao pitón contrário. Saiu com o Juventus para um primeiro ferro curto de poder a poder, seguido de segundo, do mesmo modo, mas em terrenos de maior compromisso, ao estribo e que obrigou a soar de imediato a música. Trocou pelo Hostil, que, depois de mais um curto de boa qualidade, terminou, saindo do Setor 2, primeiro, e do 4, depois, recuando e rodando ganhando o pitón oposto, em duas "mourinas" templadas e emotivas, recebendo o aplauso unânime e de pé do público. Uma atuação importante, brindada com volta apoteótica na boa companhia de um dos outros triunfadores da noite, o ganadeiro António Teixeira Júnior.
António Prates, por fim, com duas atuações seguras e ambas conseguidas. No seu primeiro, sério, com investida desigual, mas dando boas condições de lide, depois de três compridos sem história, saiu para os curtos com o Isabel, com um segundo curto a atacar o toiro na porta dos cavalos e um terceiro igualmente bom nos médios. O quarto e último curtos, ambos partindo da porta dos cavalos, foram de melhor expressão, em terrenos de compromisso que emocionaram as bancadas. No seu último, um toiro com menor cara e sem a planta dos anteriores, mansote, de investida desigual, mas deixando-se tourear, cravou um segundo comprido de poder a poder. Mudando de corcel, saiu num castanho, com um primeiro curto, com uma viagem cruzada, mas com um bom momento de reunião e um segundo, carregando a sorte dos curros para os médios, seguido de um terceiro em que, não obstante ter ganho o pitón contrário, resultou sem grande emoção por falta de resposta do astado. Regressou de novo com um cavalo branco, em que saindo da porta dos cavalos e em espaço de difícil compromisso cravou os dois últimos curtos com expressão e a que o público aderiu aplaudindo.
Forcados
Pegaram os Grupos de Forcados Amadores de Montemor-o-Novo (GFAMN) e do Barrete Verde de Alcochete (GFABVA), numa atuação muito conseguida e brilhante dos primeiros.
1.º António Cortes Pena Monteiro (Cabo) e Francisco Godinho (GFAMN), de cernelha, à segunda tentativa: depois de uma primeira tentativa, com o toiro sem encabrestar, mas distraído, sem se focar no duo de cernelheiro e rabejador, aproveitando um momento em que o toiro se tapou com dois dos cabrestos, o Cabo cernelheiro arrancou lesto de trás daqueles e com uma velocidade incrível de corredor de 100 metros, logrou entrar no costado do toiro que sentira a sua presença e queria fugir. Com dois saltos de corça, cuspiu o forcado e deixou-o caído na arena. António levantou-se e recompôs-se e, com o Francisco à sua ilharga, propôs-se entrar de novo. Desta feita, ao tentar entrar, o toiro apercebendo-se novamente da sua presença, acelerou o galope. Não contava, contudo que tinha atrás de si e decidido a vencê-lo um cernelheiro mais rápido e que ia metendo velocidades até o alcançar (quem o viu jogar anos a fio enquanto ponta em Agronomia e na Seleção Nacional de Rugby não se surpreende tanto...). Ao entrar na sua espádua de um ápice e com o braço direito vencendo costado, o toiro explodiu num salto alto e longo, tentando repeli-lo. Era tarde demais... o abraço revelava-se inquebrantável e decidido a só o soltar quando o deixasse submetido. Depois de mais dois ou três ou quatro galões violentos (não me foi possível contar...), com o rabejador - que tardara na entrada - já posicionado, "percebeu" que estava vencido e consumada a pega. Delírio nas bancadas, com o público entregue. (volta)
2.º Marcelo Loia (Cabo GFABVA), de caras, à primeira tentativa, que, chamando de largo frente aos curros e tendo o toiro arrancado com uma investida franca, carregou eficazmente no tempo certo, recuando bem e, reunindo à córnea por forma segura, conhecendo uma viagem sem sobressaltos, com o Grupo a ajudar eficientemente. (volta)
3.º Francisco (Iko) Bissaia Barreto (GFAMN), de caras, à primeira tentativa, chamando serenamente de largo e, após parar nos médios com o toiro focado, provocou a investida e, recuando com temple e acoplando-se com perfeição na córnea, com uma boa ajuda de Nuno Campelo e do restante Grupo, tornou, pela harmoniosa precisão técnica da sua execução, uma pega que se adivinhava, de sorte diversa, atento o comportamento do toiro no decorrer da lide. Rabejado com eficácia e prontidão na entrada e verdade no seu remate por Francisco Godinho. (volta)
4.º Jorge Amado (GFABVA), de caras, à quarta tentativa, a sesgo e de recurso, com ajudas carregadas, depois de uma primeira tentativa em que recuou desequilibrado e em queda e reunindo tardia e ineficazmente, de uma segunda, em que recua bem, se fecha, mas recebe uma mangada muito forte, que o despede e uma terceira, em que recebe mal e se vê atropelado pelo toiro. (silêncio)
5.º Francisco Borges, de caras, à segunda tentativa, chamando de largo, mas com reunião deficiente (tal como na primeira tentativa já acontecera) e com o toiro investindo sobre a esquerda e fugindo ao Grupo, mas em que o forcado da cara se recompõe na viagem e vai reganhando, em tentativas sequentes e nas alturas, a cara do toiro, até se fechar e permitir ajuda eficiente, o que se sentiu "cá em cima" e que o público, reconhecendo o poder e o "querer" do forcado, o brindou com uma das maiores ovações da noite. (volta)
6.º Diogo Amaro, de caras, à primeira tentativa, chamando dos médios e com alegria, carregando forte, recuou bem e fechou-se numa décima de segundo, numa viagem sem sobressaltos até ao Grupo, que ajudou eficientemente. Despediu-se das arenas na sequência da pega, entregando a jaqueta ao Cabo (2 voltas e ida aos médios).
Síntese da Corrida
Praça de Toiros de Alcochete
2.ª Corrida da Feira, integrada nas Festas do Barrete Verde e das Salinas de Alcochete. Três quartos de casa.
Ganadaria: toiros de Veiga Teixeira; pesos: 1.º- 610 Kg; 2.º- 615 Kg; 3.º- 590 Kg; 4.º- 580 Kg; 5.º- 605 Kg); 6.º 580 Kg. Negros, muito iguais de trapio, com exceção do último mais fechado de córnea e de estampa díspar. Com destaque para o terceiro, quarto e quinto, este último alegre, bravo e dando excecionais condições de lide.
Cavaleiros: António Ribeiro Telles, vestido de casada de bordéus e ouro, (volta e volta), João Moura Júnior, de casaca azul marinho e ouro (volta e volta) e António Prates, de casaca verde escuro e ouro (volta e volta).
Forcados: Amadores de Montemor-o-Novo - de cernelha, António Cortes Pena Monteiro (Cabo) e Francisco Godinho (rabejador), à segunda (volta); Francisco (Iko) Bissaia Barreto, à primeira (volta); Francisco Borges, à segunda (volta); Amadores do Aposento do Barrete Verde de Alcochete: Marcelo Loia, à primeira (volta); Jorge Armando, à quarta (silêncio); Diogo Amaro, à primeira, que se despediu das arenas (2 voltas e ida aos médios).
Síntese da Feira
Numa Feira muito bem montada quer em toiros quer em figuras, resultaram dois espetáculos muito conseguidos, com dois êxitos importantes de João Ribeiro Telles (no 5.º toiro de dia 14), de João Moura Júnior (no 5.º de dia 16) e uma boa prestação de António Prates (no conjunto dos dois toiros de dia 16), bem como do Grupo de Forcados Amadores de Montemor-o-Novo (quer no conjunto quer, de per si, em cada uma das três pegas executadas) e das Ganadarias António Silva (cujo toiro lidado ganhou merecidamente o Concurso de dia 14) e de Veiga Teixeira. A Feira contou ainda com uma novilhada no dia 12 de agosto.