Elvis - super-herói no edifício de Cannes

Acontecimento em Cannes, a estreia mundial de Elvis, extravagância de Baz Luhrmann, habitué de Cannes. Um filme para polarizar e que vai fazer de Austin Butler, o protagonista, uma nova estrela.

Em Cannes é fácil tropeçar em artistas. Entra-se num hotel e dá-se de caras com Baz Luhrmann, o homem do momento do festival. O realizador de Elvis tinha acabado de chegar da conferência de imprensa oficial e pergunta-me em plenas escadas rolantes do Hotel JW Marriott o que achava do filme. Depois de lhe responder, confirma-me essa ideia de que este seu Elvis era um super-herói: "A ideia era essa mesma... O Elvis em criança julgava-se um super-herói com poderes. Ele queria ser o Captain Marvel! Foi assim que fizemos o filme". Elvis, o filme, produção mirabolante da Warner, foi o frenesim destes dias no Palais Lumiére, uma celebração desenfreada dos valores iconográficos do King, aqui filmado em cores berrantes de cultura pop e com toda a dimensão amplificada da estética do realizador de Romeu + Julieta.

Em Cannes, dividiu a imprensa, mesmo a portuguesa. Os anacronismos (há algum hip-hop) e o jogo de artificialidade deixam muitos de pé atrás mas é também aquilo que torna este empreendimento num biopic longe do convencional, provavelmente a pecar por optar pelo ponto de vista do agente manipulador de Elvis Presley, Coronel Parker, interpretado por um Tom Hanks a abusar do látex no rosto e de um sotaque "estrangeiro".

Este resumo da ligação entre o cantor e o manager vai da infância à relação de extremo carinho com a mãe, centrando-se grande parte na forma como a música negra influenciou a persona artística de Elvis. Nas suas quase três horas claro que há tempo para não deixar nada de fora: o período na Alemanha, a maneira como se apaixonou por Priscilla Presley, a sua relação com o cinema, os problemas com a lei, a droga e a imagem de ídolo. Entre vinhetas de banda-desenhada, sugestões de videoclipe, imersão no musical (os clássicos desfilam com tempo, nada é especialmente acelerado...) e uso de imagens documentais, Luhrmann encena uma experiência de colagem visual, mesmo que nunca deixe cair uma fórmula de condensação narrativa. Elvis merecia uma obra assim: um filme sob efeitos alucinatórios com um Austin Butler num ponto de perfeição. Se estivesse em competição, este seria certamente o vencedor do prémio de interpretação. Assim nasce uma estrela...

Prémio de imagem

À parte do rock n"roll doidivanas de Baz Luhrmann, o festival prestou o tributo Pierre Angénieux a Darius Khondji, diretor de fotografia genial, responsável por Seven- Sete Pecados Mortais ou Evita. Num encontro com o DN, confessou estar muito feliz com este reconhecimento. "Nunca me irei esquecer dos dias em que filmei A Nona Porta, do Roman Polanski, em Sintra, lugar mágico. Mas o que é incrível em Portugal na luz é que muda de local para local. A luz de Lisboa não é a mesma que a do Porto". O iraniano contou ainda que está encantado com Bardo, filme de Alejandro Iñarrito que segundo o próprio está a ser ultimado para poder estar no Festival de Veneza. Logo a seguir, descai-se e diz que está já a preparar outro filme em inglês de Bong Joon Ho, Mickey7: "será um filme de ficção-científica para a Warner. Uma coisa grande".

dnot@dn.pt

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