Depardieu motiva guerra de manifestos na cultura francesa
Mais de 600 artistas assinaram uma "contra-tribuna" para "quebrar a lei do silêncio", publica esta sexta-feira num blogue hospedado no site Mediapart, poucos depois da publicação no Le Figaro de uma polémica coluna de apoio ao Gérard Depardieu, acusado de violação e agressão sexual.
As artistas Pomme, Médine ou Imany, bem como as atrizes Judith Chemla e Clotilde Hesme estão entre os signatários do texto.
Estes artistas demonstram o seu "desacordo" com a ideia defendida na coluna do Le Figaro, segundo a qual atacar o ator equivaleria a atacar a arte, "como se o estatuto de um artista cujo talento justificasse um tratamento especial".
Os artistas acusam essa coluna, em linha com o que tem afirmadoMacron, uma "cuspidela na cara das vítimas de Gérard Depardieu mas também de todas as vítimas da violência de género e sexual". O presidente francês havia denunciado na semana passada uma "caçada humana" contra o ator.
Os signatários acusam as instituições policiais e judiciais de não "levar a sério as vítimas" e dizem que é o "dever de todos recusar a banalização de comentários e ações como as de Gérard Depardieu", flanado em "eco da impunidade".
Na sequência da coluna publicada segunda-feira pelo Le Figare, escrita pelo ator e editor Yannis Ezziadi, próximo da extrema direita, a realizadora e escritora Nadine Trintignant anunciou que iria retirar o seu apoio ao jornal.
O ator enfrenta três queixas de violação, duas de atrizes francesas e uma última apresentada esta semana por uma jornalista espanhola.
Em 29 de novembro, o canal público France 2 exibiu o documentário "Depardieu: A Queda de um Ogre", que mostrava imagens do ator, numa viagem à Coreia do Norte em 2018, a fazer comentários de caráter sexual a mulheres, sobre mulheres, sobre uma criança e a uma tradutora da equipa.
O documentário levou várias personalidades do teatro e do cinema em França a afirmar que não voltariam a trabalhar com o ator e esteve na base das declarações da ministra da Cultura sobre a possibilidade de ser retirada a Legião de Honra.
Após a exibição do documentário, o Museu Grevin, galeria de figuras de cera de Paris, retirou a imagem de Depardieu, a província canadiana do Quebec anulou a distinção que lhe tinha dado, e a cidade belga de Nochin, onde o ator viveu, também anulou o título de cidadão honorário que lhe concedera.
Depardieu, através dos seus advogados, colocou a condecoração à disposição do Governo e declarou-se vítima de "um linchamento mediático".
As autoridades francesas iniciaram entretanto a investigação das circunstâncias em que ocorreu a morte da atriz Emmanuelle Debever, no passado dia 06.
A atriz denunciara Depardieu de "comportamento impróprio", em 2019, durante as filmagens do "Caso Danton".
Debever atirou-se ao rio Sena depois da exibição do documentário pela France 2, vindo a morrer uma semana mais tarde.