Da Weasel e Imagine Dragons: regressos emotivos para fechar o Alive
"Este, you good? Alana, you good? Danielle, you good? The stage is all yours."
O relógio marcava as 19h20 quando se ouviam os primeiros sinais de que as irmãs Haim estavam prestes a pisar o palco principal do NOS Alive.
Sozinha com a sua guitarra, Danielle (a "irmã do meio", como se intitulou) dava início ao concerto, seguindo-se Este e Alana (que se estreou recentemente no grande ecrã com Licorice Pizza), que completaram com Now I'm In It.
As Haim não eram novidade para ninguém e o público recebeu-as de braços abertos tal como num reencontro com amigas de longa data - ao contrário dos Mother Mother (mas já aí vamos). A versatilidade das irmãs nos instrumentos foi o que marcou o espetáculo. Percussão, guitarras, baixo e voz... elas deram conta de tudo, sempre a puxar pelo entusiasmo da plateia.
"É sábado então não têm desculpa para não enlouquecerem. Queremos ouvir as vossas vozes. Não sejam tímidos", desafiavam.
Com foco no mais recente álbum Women In Music, cujos largos cartazes decoravam o palco, Este relembrava as saudades que tinham de Portugal e as recordações de engates por Lisboa. "Quando escrevemos o álbum falámos da última vez que estivemos em Portugal e lembro-me de curtir com tantas pessoas. Então, como podem imaginar, estava entusiasmada por estar com vocês de novo. Vocês beijam muito bem", disse.
Atrevidas e divertidas, as Haim abordavam sempre o público entre as músicas e houve até tempo para um telefonema (encenado) com Dominick, um homem com quem Este teria dormido na noite anterior. Depois de uma conversa caricata sobre sexo casual, a irmã mais velha terminou o momento com "Casar? Não quero casar. Que se lixe. Talvez encontre alguém no público esta noite". E assim seguiu-se a canção 3AM.
Em Summer Girls, o foco foi para Henry, o tímido saxofonista da banda que foi levado até ao fim do "altar" (plataforma do palco) para tocar junto do público. "Toca o que Lisboa te faz sentir", foi a ordem. E ele cumpriu.
Para a despedida ficou The Wire e The Steps, os hits mais conhecidos das irmãs. "Viva Portugal", disseram antes de desaparecerem para o backstage, cerca de uma hora depois de pisarem o palco NOS.
Num final de tarde marcado pelo calor, quando todos ainda procuravam uma sombra e as filas para os brindes ainda se encontravam longas, os Mother Mother abriram o último dia de festival.
Ryan Guldemond, Molly Guldemond e Jasmin Parkin encararam bem a tarefa de entreter o público português que, no entanto, não correspondia. Ainda que só com 50 minutos de espetáculo, os Mother Mother vieram trazer energia ao Passeio Marítimo de Algés com um alinhamento pensado ao pormenor.
Burning Pile, foi o primeiro momento em que se lançou uma pequena "chama" no público apagado. "Alguém aqui tem problemas? Todos temos lindos problemas. Vamos atirá-los ao fogo", disse Ryan.
A banda canadiana, com uma atitude positiva e humilde, agradecia: "Hoje é um dia especial. É a primeira vez que tocamos em Portugal. Obrigada por nos receberem. Obrigado, NOS Alive por nos incluírem no palco, é uma honra e privilégio. Adoramos este país, a cidade, a cultura e acima de tudo as pessoas".
Com o mais recente single Life, não perderam a oportunidade de passar uma mensagem sobre "viver no momento presente com música, amigos e família". Mas foi só com a última música - Hayloft - que finalmente se ouviram as vozes da plateia. A melodia era conhecida de todos depois de ter ficado popularizada na rede social Tik Tok. "My daddy's got a gun/You better run", ouvia-se em uníssono no público.
Depois de 12 anos, Da Weasel voltam a casa, ou seja, ao palco mas desta vez com os filhos e família na plateia. Às 21 horas, milhares de pessoas juntaram-se no palco NOS para o que se pode dizer um momento histórico na música portuguesa. O português foi o que se ouviu durante uma hora e meia. Este retorno estava anteriormente marcado para a edição de 2020, que não se sucedeu devido à pandemia.
De braços no ar, aos saltos e gritos, a plateia sabia todas as músicas na ponta da língua. Os seis artistas do grupo começaram logo a aquecer o público com um clássico de 2004, Loja. O repertório seguiu os temas icónicos do grupo, desde da música Dúia até God Bless Johnny, sempre com a voz do público a acompanhar.
"Obrigada Alive. Estamos em casa", disseram.
A solo Carlão cantou Casa (Vem Fazer de Conta) um dueto com Manel Cruz, dos Ornatos Violeta, que foi projetado nos ecrãs gigantes. "Para quem não sabe vamos tocar no às 23h",afirmou o artista, promovendo o concerto que passou pelo Palco Heineken.
As músicas Niggaz, Outro Nível e Pedaço de Arte levaram a multidão a saltar e sempre de braços no ar, movimentando-os da esquerda para a direita.
"Alive, alive estamos sem palavras. Só uma coisa: obrigada", disseram. Foi ao som da música Toque-Toque de 2007 que, em 2022, Carlão desceu até ao público e pegou na sua filha ao colo e pediu ao público para dançar com o grupo.
Já de noite, Re-Tramento fez-se ouvir por todo o recinto. Na fase final do concerto, o coro de 55 mil pessoas juntou-se às vozes de Carlão e Virgul neste clássico. O pedido que antecedeu à música foi simples: é para dar tudo. E o público assim o fez.
Desejando que todos fossem felizes e abraçados, despediram-se assim os seis membros do grupo. Com o som do piano A Palavra - Tema para Sassetti, os seis membros da banda desceram até ao final da plataforma, onde ficaram a olhar o mar de milhares antes de fazerem a vénia. A saudade do grupo invadiu o público. Agora a questão fica. Será que vamos ver mais algum projeto dos Da Weasel juntos?
Os Imagine Dragons voltaram a pisar o palco do NOS Alive, depois da sua última presença em 2017. A banda de Las Vegas trouxe consigo a legião de fãs que tomaram conta do Passeio Marítimo de Algés. E não deixaram nenhum sucesso por tocar.
Começou com uma introdução em vídeo com animações e imagens da natureza. Fez-se silêncio por todo o recinto. Dan Reynolds entrou em palco sozinho apenas com o microfone. Adequado ao calor, vestia um top preto transparente e depois tinha um X desenhado em cada mão. It's time to begin, cantou à capela. O público juntou-se segundos depois a gritar a letra. Depois, entraram todos os membros do grupo para a versão original.
O baixista, Ben McKee, não se esqueceu de mostrar ao longo do concerto o seu baixo com a bandeira transsexual e um microfone a condizer com um arco-íris, dando apoio à comunidade LGBT.
Seguiram-se as músicas Believe, a junção de duas outras Polaroid e Hopeless Opus num remix, onde houve muita energia, fogo-de-artifício e confetis. A Thunder que trouxe uma tempestade de energia, saltos e gritos na multidão a acompanhar a banda.
"Que tarde bonita, Lisboa. Há muitos anos que não vínhamos aqui. Eu lembro-me do nosso primeiro concerto aqui há dez anos",referiu o vocalista.
A música Shots foi dedicada a todos os que perderam alguém que amam porque a vida tomou outra direção. "A música é razão porque estou vivo e aqui. A música aproxima-nos. Encontrem a paz." Um momento que deixou alguns fãs com o coração nas mãos e as lágrimas nos olhos.
Mas a atribuição de temas e os discursos não ficaram por aqui. Dan Reynolds cantou a It's Ok para o público mais jovem, referindo que a vida está ainda numa fase inicial e que devem pedir ajuda, quando o precisam. "Falem com os vossos amigos, pais, psicólogos. Eu tenho um" admitiu. Foi uma forma do cantor de normalizar a ida a psicólogos na nossa sociedade.
A música Enemy de 2022, um dos temas mais recentes do grupo, fez furor na multidão e chamas no palco. Para muitos, foi a primeira vez que puderam ver a canção ao vivo.
Mais uma vez, a banda levou o público a verter uma lágrima. Na parte final do concerto, tocaram uma versão de Forever Young de Aphville. Com a bandeira da Ucrânia na mão, relembrou que a guerra ainda está a acontecer e pediu a paz.
Na despedida, Dan sentou-se ao piano onde tocou os primeiros versos de Radioactive, onde depois passou para a versão original. Ficou ainda no ar a promessa da banda voltar novamente a Portugal.
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