"Rooms for Rent”, em português, quartos para arrendar, lê-se no palco do Teatro Variedades no Parque Mayer em Lisboa, onde a adaptação portuguesa do musical da Broadway Rent vai estar em cena, a partir de amanhã e até 27 abril. Um espetáculo que transporta para a realidade da Nova Iorque dos anos 1980/1990. Baseado na ópera La Bohème, de Puccini, Rent segue a história de um grupo de amigos artistas e ativistas em Nova Iorque, que sofrem com a situação sociopolítica da época, incluindo a crise da habitação, a pandemia de HIV e a homofobia. Este espetáculo de Jonathan Larson esteve durante 12 anos em cena na Broadway e venceu vários prémios, incluindo o Pulitzer de Drama .A adaptação portuguesa do musical é da responsabilidade do Musical Theater Lisbon (MTL). Mas a produção deste musical conta com a participação de Michael Greif, responsável pela encenação original de Rent na Broadway e que trabalhou com Jonathan Larson. O encenador esteve em Portugal a convite da MTL. Jonathan Larson morreu de uma dissecção aórtica, causada pelo síndrome de Marfan, na madrugada de 25 de janeiro de 1996, dia anterior à estreia de Rent na Broadway. O escritor do musical nunca viu a peça encenada. “Nós tivemos essa conversa com o Michael Greif, será que aquilo que este espetáculo alcançou também se deve de alguma forma a essa carga dramática real que existiu. Nenhum de nós consegue prever como é que teria sido se ele não tivesse morrido, porque a obra em si é muito boa. Talvez em termos mediáticos, à época o espetáculo mereceu logo uma atenção bastante grande por causa disso”, menciona Martim Galamba, fundador do MTL, em conversa com o DN, acrescentando que Michael Greif revelou que Jonathan Larson sempre disse que Rent ia ser um sucesso e que ia mudar o teatro musical. Devido à morte do escritor e ao choque que o elenco sentiu, na sua estreia a primeira parte de Rent foi interpretada em modo de leitura com os atores sentados e só no segundo ato foi apresentada na sua totalidade, conta Martim Galamba.Apesar de a peça estar situada nos anos 80 e início dos anos 90 em Nova Iorque, Martim Galamba refere que poderia ser a Lisboa dos dias de hoje. “Há discursos sobre a crise da habitação, que eu acho que é uma temática que toca a todas as pessoas, mas também toca toda uma série de questões que eu acho que ainda são muito importantes. Como a saúde pública, como lidar com os vícios, nomeadamente aqui a droga, questões de género, de orientação sexual. Hoje em dia, acho que a sociedade está tão dividida, tão polarizada, as pessoas estão cada vez mais umas contra as outras”. Sendo uma das temáticas a crise do HIV vivida nos anos 90, a MTL associou-se à Associação Abraço, que promove iniciativas e projetos para o bem-estar das pessoas infetadas e afetadas pelo vírus do HIV/sida. Músicas como Seasons of Love e Take Me or Leave Me, que integram o musical, serão nesta versão traduzidas para português. Martim Galamba explica que a adaptação foi um processo complexo. “Às vezes nós queremos a palavra mais indicada em português, mas que depois não bate com a métrica da música, que tem que ser respeitada. Queríamos respeitar não só a letra, mas também a música. Conjugar tudo isto foi muito complexo e um processo de meses”.Sissi Martins, encenadora e uma das atrizes, refere que a maior dificuldade foi não perder a essência do original. “Têm de obedecer a um tempo. É um ato contínuo em que começamos a cantar e não paramos. Na canção, a história está a avançar. Nós também tivemos que ter muito cuidado em adaptar à realidade americana e não tentar fazer uma adaptação à realidade portuguesa, porque nós não vivemos esta realidade”, disse, acrescentando que deixou alguns conceitos em inglês na peça como o clube americano CBGB.Como encenadora e atriz, a presença de Michael Greif ajudou Sissi Martins na direção das personagens. “Ele deu-nos muita base nesse sentido. E depois fui construindo um bocadinho na minha linha pessoal”, explica a atriz.Michael Greif disse ainda que um dia se voltasse a encenar Rent iria roubar alguns detalhes da encenação portuguesa. “A música Over the Moon, que é um momento de protesto e de manifesto da personagem Maureen, o Michael referiu que gostou muito da encenação e que um dia a vai roubar”, revela..O ator Diogo Leite interpreta o papel de Roger, um jovem desempregado, que sofre com a sida e luta para pagar a renda. “ O Roger é uma personagem muito complexa. É um rapaz com muitos problemas, que tomou várias decisões erradas na sua vida e arrastou algumas pessoas importantes para as suas más decisões”, explica o ator. Diogo Leite mencionou que Michael Greif lhe deu várias indicações sobre este personagem, sendo uma delas tentar sempre encontrar formas de se sentir culpado. “Eu estava a colocar a personagem numa zona um bocadinho mais simpática e ele com essa dica mudou completamente a perspetiva da personagem e a maneira como ela lida com as outras personagens em cena portanto foi uma indicação muito fulcral para o papel”. No entanto, o ator destaca que a maior dificuldade deste papel é a duração do espetáculo. “São mais de duas horas e estamos o tempo todo a cantar. É desgastante e temos notas altas, agressivas durante muito tempo.” Sissi Martins veste a pele da personagem Mimi, uma dançarina que sofre com o vício em drogas e com a sida. Esta personagem está envolvida num triângulo amoroso com Ben e Roger. “Ela é a representação de várias pessoas reais que existiram, ou seja, amigos do Jonathan Larson. É um bocadinho o reflexo do vício da altura”, disse. O preço dos bilhetes varia entre os 20 e os 30 euros. .Da Pocahontas à Família Addams: roteiro do teatro musical em Lisboa