Orquestra Sinfónica Portuguesa e Cristina Branco, Raquel Tavares e Ricardo Ribeiro no ensaio da passada quarta-feira, dia 8 de outubro.
Orquestra Sinfónica Portuguesa e Cristina Branco, Raquel Tavares e Ricardo Ribeiro no ensaio da passada quarta-feira, dia 8 de outubro. Gerardo Santos

Concerto que homenageia Amália leva três fadistas ao Carnegie Hall

Cristina Branco, Raquel Tavares e Ricardo Ribeiro juntam-se à Orquestra Sinfónica Portuguesa no espetáculo Amália in America - Beyond Fado que chega à sala emblemática de Nova Iorque.
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Amália na América - Além do Fado foi apresentado no Centro Cultural de Belém (CCB) em setembro do ano passado, e amanhã, sábado, a versão Amália in America - Beyond Fado sobe ao palco do prestigiado Carnegie Hall em Nova Iorque. “Vai ser basicamente o mesmo espetáculo, há uma pequena diferença: no CCB pudemos ouvir também um bocadinho da voz da Amália e desta vez não vai ser possível. E o que é diferente? É o Carnegie Hall, é uma das salas mais paradigmáticas do mundo, há alguma pressão, pequenina, do nosso lado, mas acima de tudo um enorme prazer de sermos embaixadores de uma pessoa como a Amália, e também embaixadores da cultura portuguesa nos Estados Unidos”, diz Jan Wierzba, o maestro da Orquestra Sinfónica Portuguesa que acompanhará os fadistas Cristina Branco, Raquel Tavares e Ricardo Ribeiro.

Neste caso o rigor impõe que se fale antes de “solistas”, porque, como bem vinca Ricardo Ribeiro, o que se ouve neste espetáculo promovido pela Égide - Associação Portuguesa das Artes, com direção executiva de Tiago Nunes, não são fados. “Não se vai cantar fados. Há uma grande diferença do repertório que aqui está para o que são considerados os fados. Isto não é uma questão de radicalismo, radical significa ir à raiz, e não é disso que se trata. Não há fados, há folclore português, há canções da música popular e há a Gaivota, que hoje em dia é considerado um fado clássico. E depois todo o repertório da Broadway que a Amália cantou, que estará a cargo da Cristina Branco”.

Orquestra Sinfónica Portuguesa e os solistas no ensaio da passada quarta-feira, dia 8 de outubro.
Orquestra Sinfónica Portuguesa e os solistas no ensaio da passada quarta-feira, dia 8 de outubro. Gerardo Santos

Gaivota é a única canção interpretada pelos três fadistas neste espetáculo que replica os concertos que Amália Rodrigues realizou nos Estados Unidos em 1966, com as orquestras filarmónicas de Nova Iorque e de Los Angeles. “Alguns arranjos são adaptados, não são ipsis verbis aquilo que se fez nesse concerto da Amália, mas são muito fiéis ao espírito do que na altura quiserem recriar”, sublinha Raquel Tavares.

Na primeira parte do concerto, após uma abertura com uma peça sinfónica do compositor Carlos Azevedo, são interpretadas 14 canções de folclore e música tradicional portuguesa. A primeira a pisar o palco é Raquel Tavares, com a canção Senhora do Livramento e seguem-se mais seis, entre elas Rosa Branca ao Peito ou Oliveirinha da Serra. Ricardo Ribeiro interpreta outras sete destas canções, começando com Rosa Tirana e acabando em Amália. Depois do intervalo, cantam-se sete clássicos da Broadway gravados por Amália durante a sua carreira, como Summertime ou I Can’t Begin to Tell You, pela voz de Cristina Branco. Sobre cantar com orquestra, a fadista diz que “ juntar dois universos que à partida serão diferentes e torná-los num só é maravilhoso. É um desafio, mas ao mesmo tempo glorioso, podermos mostrar que a música é uma só”.

Ricardo Ribeiro, Cristina Branco, Raquel Tavares e Jan Wierzba nas instalaçõe do Teatro Nacional São Carlos na Boa Hora.
Ricardo Ribeiro, Cristina Branco, Raquel Tavares e Jan Wierzba nas instalaçõe do Teatro Nacional São Carlos na Boa Hora. Gerardo Santos

Os fadistas estiveram a ensaiar na passada quarta-feira com a Orquestra Sinfónica Portuguesa sob a batuta de Jan Wierzba, naquele que foi o único ensaio em Lisboa. O segundo e último será em Nova Iorque. Ainda assim, sentem-se preparados e conscientes da importância de atuar em Carnegie Hall. “Não é uma casa de fados, é uma das salas mais emblemáticas do mundo, e pensar no histórico daquela sala traz uma responsabilidade acrescida. Não é só mais uma sala. Aliás, é um feito o que a Égide e a FLAD estão a fazer “, diz Raquel Tavares. Este concerto marca o encerramento das celebrações dos 40 anos da Fundação Luso-Americana para Desenvolvimento (FLAD).

“O que nós queremos é que este concerto não fique só pelo Carnegie Hall”, acrescenta a fadista. “Acho que posso falar por todos, é um espetáculo que cabe em tantos lugares, em tantas ocasiões, em Portugal e internacionalmente, e é esse o nosso desejo”.

Ricardo Ribeiro aplaude que Amália continue a ser lembrada, ao contrário do que acontece com tantos outros artistas de valor. “Uma das coisas que mais me deixa feliz e orgulhoso é que nós portugueses temos um problema de memória, mas, felizmente, a Amália é um caso de que a memória não é falida em nós. E, de repente, há qualquer coisa de grandioso que acontece para lembrar a Amália”.

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