O filme "Regra 34", terceira longa-metragem da realizadora brasileira Júlia Murat, conquistou o Leopardo de Ouro, prémio máximo do Festival de Cinema de Locarno, anunciou este sábado o júri da competição principal, na cerimónia de encerramento..Com um apelo à defesa da democracia, da diferença e do diálogo, e uma crítica ao "governo fascista" de Jair Bolsonaro, Júlia Murat agradeceu o prémio, recordando que o anterior e único Leopardo de Ouro conquistado por uma longa-metragem do cinema brasileiro data de 1967, quando distinguiu "Terra em Transe", de Glauber Rocha, e o país se encontrava sob ditadura militar (1964-1984).."Uma ditadura que durou mais 17 anos", recordou Murat, desejando "sinceramente, que tenhamos agora uma história diferente". "Espero que sejamos capazes de parar a loucura deste governo fascista", afirmou Júlia Murat, já distinguida no festival de Berlim pelo filme anterior, "Pendular"..Sem prémios para "Nação Valente", de Carlos Conceição, selecionado para a competição oficial, é assim "Gigi la Legge", do italiano Alessandro Comodin, Prémio Especial do Júri, que de algum modo garante uma presença portuguesa no palmarés principal: o filme teve montagem do realizador João Nicolau, a quem Comodin também dirigiu os agradecimentos..O maior número de prémios foi porém reunido por "Tengo Sueños Eléctricos", da costa-riquenha Valentina Maurel, com três Leopardos: Melhor Realização, Melhor Atriz (Daniela Marín Navarro) e Melhor Ator (Amien Gutiérrez)..Na competição dedicada a Cineastas do Presente, o Leopardo de Ouro distingiu "Nightsiren", da realizadora eslovaca Tereza Nvotová, enquanto o Prémio Especial do Júri e o Leopardo de Melhor Atriz foram para o filme "How Is Katia?", da cineasta ucraniana Christina Tynkevych, e a sua protagonista, Anastasia Karpenko, que deixaram um apelo pelo seu país: "Rezem pela Ucrânia! 'Slavia' Ucrânia!".Nesta secção, o croata Juraj Lerotic teve o Leopardo de Melhor Realização e o Prémio de Melhor Primeira Obra, por "Safe Place"..Nas curtas-metragens, da secção Pardi di Domani, foram distinguidos o cubano "Soberane", de Wara, e a produção franco-brasileira "Big Bang", de Carlos Segundo..O Grande Prémio da Semana da Crítica foi para o documentário "The Hamlet Syndrome", de Elwira Niewiera e Piotr Rosolowski, coprodução germano-polaca que levou de novo a Ucrânia para a sessão de encerramento, com a história de uma companhia de Kiev, que tenta montar a tragédia de Shakespeare.."Stone Turtle", de Ming Jin Woo, da Malásia, venceu o prémio FIPRESCI da Federação Internacional de Críticos de Cinema..O cinema português esteve representado em Locarno com "Nação Valente", de Carlos Conceição, na competição oficial, e com a estreia extra-competição dos documentários "Onde fica esta rua? Ou sem antes nem depois", de João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata, e "Objetos de Luz", de Acácio de Almeida..O realizador Daniel Soares estreou a 'curta' "Please make it work", que resultou de uma residência académica no festival..Foi também estreada em Locarno a longa-metragem "Nossa senhora da loja do chinês", de Ery Claver, produção angolana do coletivo de cinema independente Geração 80..O júri da competição principal de Locarno - competição internacional - foi composto pelos produtores e realizadores Michel Merkt, Prano Bailey-Bond, Alain Guiraudie, William Horberg e Laura Samani..A 75.ª edição do Festival de Cinema de Locarno teve início no passado dia 03 e encerra hoje.