Sente que o seu cinema é uma prova de que há um humor com protótipo feminino? Sim, há essa ideia que as mulheres não sabem muito de comédia. Mas nós gostamos também muito de rir, sendo que julgo não existir essa coisa do humor no feminino. O que acredito é que o humor não é universal..Iris e os Homens é uma comédia feminista? Podemos dizer isso… É a história de uma mulher que reivindica os seus desejos, ou seja, a sua liberdade e a sua sexualidade. Isso talvez seja feminista, ainda que o feminismo possa ser tanta coisa..A realizadora Caroline Vignal.Crédito: Yohan BONNET / AFP.Hoje assumir o feminismo é um ato político? Não sei como é com vocês, em Portugal, mas aqui em França há agora uma vaga de feminismo bastante radical que é um pouco misantropa. Um feminismo que cada vez mais recusa os homens. Creio que o meu filme não será agradável para elas pois enceno uma pacificação com os homens. Ainda assim não quero com isto dizer que sou contra os movimentos decorrentes do #MeToo, acho tudo isso formidável. Iris e os Homens não quer promover a ideia de que todos os homens são geniais e que temos sempre de lhes dizer que sim… O que sinto é que hoje não se fala dos homens porreiros, apenas daqueles que se portam mal..Curiosamente, não é um filme ofensivo contra as redes sociais e as “app” de encontros amorosos… Pois não! Não sei porque é que as pessoas acham sempre que essas aplicações são o diabo! Pintou-se essa ideia que pode ser um risco e que é moralmente degradante. Vejo essas aplicações como um instrumento que possibilita que as pessoas se encontrem, sobretudo chegarmos a quem não conseguiríamos de outra forma. O único problema que pode acontecer é se nós não soubermos utilizá-las bem, é como tudo na net…."Laure [Calamy] é imensamente comunicativa", afirma Caroline Vignal..Conte-nos o prazer que deve ser dirigir a grande Laure Calamy… Trata-se de uma atriz de uma enorme generosidade. É alguém que representa com puro prazer, é extraordinário! Além do mais, a Laure é imensamente comunicativa. Depois de a ter dirigido em O Meu Burro, o Meu Amante e Eu, foi um prazer este reencontro. Sinto que para ela este novo papel foi mais de composição. Na primeira parte do filme ela tem uma personagem que é apenas terna, mas depois tudo muda e a Laure traz aquele poder de vida só dela! De alguma forma, até tive de a domar para não dar tanto, coisa que tem tendência a fazer naturalmente. Havia um equilíbrio a fazer e, por vezes, eu tinha de a frustrar um pouco… Nas cenas em que ela podia expressar as suas fantasias deixei-a fruir à vontade. O que é bonito nela é ver todas as suas modulações, dos momentos mais calmos às explosões. A Laure tem mesmo um registo imprevisível, diria que é capaz de fazer tudo!.O que vai levar como principal memória deste filme? Vou lembrar-me sempre da rodagem da sequência musical. Foi logo no começo das filmagens. Confesso, foi um sonho! Sempre quis fazer comédia musical, ainda para mais num décor natural, numa cidade, com 40 dançarinos e com uma grua à minha disposição. Foi genial! .Em Paris