PATRICIA DE MELO MOREIRA / AFP
PATRICIA DE MELO MOREIRA / AFP

Carminho na Lisboa surreal com 11 nomeações para os Óscares

O filme Pobres Criaturas foi nomeado para onze categorias dos Óscares, entre elas a categoria de melhor partitura musical (e não banda sonora, com chegou a ser anunciado). Recordamos uma entrevista exclusiva que a fadista Carminho deu ao DN, em setembro de 2023, onde fala sobre a participação no filme.
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(entrevista previamente publicada no DN a 1 de setembro de 2023)

Até é agora é de longe o melhor filme da competição, uma farsa surreal sobre uma ideia de emancipação feminina através de um conto de uma mulher reconstruída no corpo de um cadáver. Pobres Criaturas é um Frankenstein no feminino e com instintos feministas. Uma Emma Stone a aprender a ser mulher numa Londres do começo do outro século e que decide escapar para Lisboa com um amante interpretado por Mark Ruffalo. Uma Lisboa surreal e imaginada, toda ela filmada num estúdio que imagina ruelas do centro histórico com um visual fantasista, onde não faltam fados, pedras da calçada e o Tejo ao fundo. E onde se dança também uma espécie de folclore vanguardista sempre com a atração dos pastéis de nata. Neste dispositivo de ilustração, Lisboa é o despertar sexual de uma criança num corpo de mulher: uma cidade que alimenta a libido de uma criatura que fica perplexa ao ouvir fado, um fado cantado por Carminho numa varanda. Carminho vestida com traje tradicional e a tocar uma belíssima guitarra portuguesa. Momento surpreendente que só fica com a pintura borrada quando a personagem de Stone vê um casal a discutir num português com defeitos de sotaque - alguém da produção quis poupar nos cachets e não se contrataram atores portugueses....

O que sente ao ver-se num filme de Hollywood numa Lisboa imaginada ao cantar para Emma Stone?

Uma enorme alegria! Tenho uma admiração enorme pelo Lanthimos e pelos atores que fazem parte deste filme. E a alegria é enorme sobretudo por poder cantar o fado em português. Um fado que escrevi de uma melodia tradicional. E o inesperado é que apareço a tocar guitarrada portuguesa, sim, é bastante inesperado! Uma gravação feita ao vivo no estúdio/plateau, coisa muito emocionante. A equipa do filme foi de uma grande amizade e passei momentos muito bons.

Mas como acabou por ser convidada?

Recebi um email da equipa de casting a dizer que o realizador tinha feito uma longa pesquisa e que tinha um convite para me fazer. Ele conhecia um pouco do meu trabalho. Foi simples! Só mais tarde é que fizemos uma reunião zoom para escolher bem o fado e a letra. Acabou por ficar O Quarto, uma letra que escrevi para um fado tradicional. Mas foi ele quem me desafiou para tocar ao vivo durante as filmagens. Na altura, não disse logo que não, disse apenas que iria ver se era possível. A verdade é que acho que correu muito bem, deu muito trabalho. Foi muito bonito...

O Quarto foi a escolhida porque razão?

Eu apresentei ao Yorgos alguns fados e ele escolheu esse fado. Acaba por ser extremamente simbólico e significativo porque trata dessa questão temporal de forma universal. Estou vestida de época mas estou a cantar um fado de hoje num filme que apresenta várias referências temporais diversas. O facto de ter sido escrito hoje deliberou a decisão.

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