As Grutas de Mogao, localizadas em Dunhuang, na Província de Gansu, China, foram esculpidas ao longo das falésias.
As Grutas de Mogao, localizadas em Dunhuang, na Província de Gansu, China, foram esculpidas ao longo das falésias.FOTO: Macao Daily News

Biblioteca nas paredes: as Grutas de Mogao em Dunhuang

Sendo o maior acervo da arte budista do mundo, as Grutas de Mogao mostram a fusão multicultural ao longo da antiga Rota da Seda, pelo que são consideradas como uma “biblioteca mural”.
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Dunhuang, uma cidade chinesa importante, situada ao longo da antiga Rota da Seda terrestre, foi um entreposto comercial entre o Oriente e o Ocidente e um ponto de encontro entre as religiões e culturas Orientais e Ocidentais, razão pela qual nasceu nos arredores desta cidade o maior acervo de arte budista do mundo, classificado pela UNESCO como Património Mundial: as Grutas de Mogao.

Situadas nas falésias da Montanha Mingsha, a sudeste da cidade de Dunhuang, Província de Gansu, no oeste da China, as Grutas de Mogao têm mais de 1.600 metros de comprimento, com cinco pisos, dos quais o ponto mais alto fica a 50 metros de altitude. Aqui se encontra um conjunto de 735 grutas, 492 das quais com esculturas coloridas e  murais: são mais de 3.000 esculturas budistas e mais de 45.000 metros quadrados de pinturas. A mais antiga das Grutas de Mogao remonta ao ano de 366 d.C., data a partir da qual continuaram a ser esculpidas durante cerca de 1.000 anos, fazendo desta a única com tão longa duração de esculturas entre as grutas chinesas.

O mural de Dunhuang, intitulado “Xifang Jingtu Bian” (Mutação da Terra Pura do Ocidente), retrata o Mundo Ocidental de Elísio, baseado nas escrituras budistas, demonstrando o desejo do povo por um futuro melhor e exemplificando a habilidade dos pintores da Dinastia Tang. FOTO: Macao Daily News

Mogao constitui um claro exemplo da cultura de Dunhuang, combinando a arquitetura, a escultura, os frescos murais e o budismo num mesmo conjunto, tendo como principal característica as esculturas coloridas budistas, das quais a maior tem 35,5 metros de altura. Ademais, nas paredes e na parte superior das grutas, encontram-se murais pintados, cujos temas incluem histórias budistas, mitos tradicionais chineses, pinturas decorativas, bem como murais que refletem cenas quotidianas de trabalho da população e da vida social da época.

O estilo de pintura retratou elementos de arte iraniana, indiana e grega com base nas pinturas chinesas, pelo que o sítio também é conhecido como uma “biblioteca mural”.

Em 1900, uma caverna secreta foi descoberta por um sacerdote taoista enquanto limpava depósitos de areia. Trata-se da famosa Caverna dos Sutras, já que contém mais de 50.000 pergaminhos de sutras, além de outros documentos, bordados e serigrafias que datam do período entre Wei e Jin (220) dos Três Reinos e a Dinastia Song do Norte (1127). Os vestígios contêm informações valiosas para o estudo da história da antiga arquitetura, escultura e pintura chinesas dos séculos IV a XIV, constituindo também um registo dos factos históricos do intercâmbio cultural entre o Oriente e o Ocidente.

No entanto, com a descoberta da Caverna dos Sutras, inúmeros livros, artefactos e pinturas rupestres foram saqueados e, atualmente, mais de 44.000 relíquias encontram-se dispersas pelo mundo, principalmente em Inglaterra, França e Rússia, o que, se por um lado provocou perdas inestimáveis à cultura chinesa, por outro tem levado ao estudo dos diferentes aspetos das grutas por parte de especialistas Orientais e Ocidentais. Na década de 1930, formou-se até uma nova disciplina - Estudos de Dunhuang -, cujo aparecimento chamou a atenção dos académicos para as Grutas de Mogao.

Os técnicos do Instituto Nacional de Investigação Artística de Dunhuang durante a digitalização dos murais das Grutas de Mogao. FOTO: Macao Daily News

No dia 1 de janeiro de 1944, foi criado o Instituto Nacional de Investigação Artística de Dunhuang, pondo fim aos quase 400 anos do estado de abandono e falta de gestão das grutas. Após a fundação da República Popular da China, em 1949, este organismo passou a ser designado por Instituto de Investigação de Relíquias Culturais de Dunhuang (Dunhuang Academy), com o objetivo de proteger as grutas e cavernas, vulneráveis com o passar do tempo, através de projetos de reforço e manutenção em grande escala. Foram, sobretudo, convidados peritos estrangeiros e introduzidas técnicas avançadas de restauro para preservar os murais.

Na década de 1980, foi lançado o projeto Dunhuang Digital pelo Instituto Nacional de Investigação Artística de Dunhuang, utilizando-se tecnologias digitais não só para a criação de arquivos digitais dos artefactos das grutas, mas também para a interpretação, o estudo, a preservação e promoção da arte desta cidade e região. Até ao final de 2023, os murais de 295 grutas e 50.000 documentos históricos foram digitalizados.

Assim, é possível desfrutar de uma visita panorâmica de 720 graus a 30 grutas e aceder a mais de 6.500 documentos digitais em alta definição das grutas à distância de um click no respetivo website. Mesmo que não possa vir pessoalmente a Duanghuang, com estas experiências imersivas que a tecnologia digital proporciona, continua a poder conhecer os valores e o encanto da cultura e arte de Dunhuang.

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INICIATIVA DO MACAO DAILY NEWS

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