Ao contrário das formas mais medíocres de abordagem do cinema (alguma televisão, influencers e fenómenos afins...), convém não alimentar a ilusão segundo a qual todos os realizadores se distinguem por uma linha coerente de trabalho, nessa medida justificando a classificação de “autores”. Exemplo? O alemão Edward Berger (nascido em Wolfsburg, em 1970), responsável por dois títulos de respeitáveis qualidades: A Oeste Nada de Novo (2022), consagrado com o Óscar de melhor filme internacional, e Conclave (2024), uma viagem subtil pelos bastidores do Vaticano. Pois bem, aí o temos a assinar Balada de um Pequeno Jogador (Netflix), projeto à deriva entre a comédia negra e o modelo clássico do thriller.Aliás, ficamos na dúvida se a motivação principal foi fazer o retrato de Brendan Rilley (Colin Farrell), um homem de negócios pouco transparente que tenta reencontrar a sua sorte nos casinos de Macau, ou produzir uma espécie de longo spot publicitário sobre esses mesmos casinos (alguns filmados em Hong Kong, segundo as notas de produção), celebrando a sua arquitetura opulenta e os néones das respetivas fachadas. Neste aspeto, convenhamos que competência técnica é coisa que não falta, graças à direção fotográfica do britânico James Friend que já colaborara com Berger em A Oeste Nada de Novo, arrebatando mesmo o Óscar de melhor fotografia.Baseado num romance de Lawrence Osborne (Ballad of a Small Player, 2014), a saga de Riley pretende rentabilizar a suposta ambiguidade da sua personagem central. Logo na abertura, enquanto vemos várias fachadas de salas de jogo (incluindo o Casino Lisboa), é a voz off de Riley que define a pueril mitologia da sua vida aventurosa: usa o nome falso de “Lord Doyle” e apresenta-se como um “grande apostador num declive escorregadio”...Enfim, retórica vazia é coisa que não falta a Balada de um Pequeno Jogador (incluindo o título moralista), através de uma visão mais ou menos assombrada, não apenas de Macau, mas da “ambiência” asiática em que tudo vai acontecendo. Dito de outro modo: Riley é visto pelos locais como um “gwailou”, ou seja, um fantasma branco perdido no labirinto do dinheiro, mortes e fantasmas que espalha pelo caminho. Sem grandes resultados, Colin Farrell esforça-se imenso para dar consistência a essa figura de pobre esquematismo, idealmente entre o trágico e o burlesco. No papel de uma investigadora que procura perceber que dinheiro Riley tem ou não tem, Tilda Swinton, com o seu charme paradoxal, diverte-se com uma caricatura de si própria... Desgraçadamente, ninguém parece acreditar no que está a acontecer. J.L..'O Último Suspiro'. Como falar sobre o cancro?.'A Memória do Cheiro das Coisas'. A história também pode ser minimalista