A paixão pela música para a mezzo-soprano portuguesa Ana Rita Coelho, de 30 anos, começou muito cedo. Logo em criança, já queria cantar para a vida toda. Na escola, os professores rapidamente reconheceram a sua aptidão para a música, sendo sempre escolhida para papéis principais nas peças. “Tive a sorte de ter grandes professores que aconselharam e orientaram os meus pais para me colocarem a estudar música”, explica em conversa com o DN, acrescentando que começou por aprender a tocar piano com 10 anos e depois canto com 18 anos. Estudou no Conservatório Nacional e na Universidade de Aveiro. Descobriu Ópera e música erudita quando começou a tocar piano e procurava música orquestral. Depois de terminar a licenciatura, ainda pensou em emigrar, mas acabou por se juntar ao Coro do Teatro Nacional de São Carlos. Ana Rita Coelho venceu o Grande Prémio Égide do concurso Cascais Ópera, que decorreu no Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, no dia 4 de maio. Recebeu um prémio no valor de dez mil euros e um contrato com o Teatro Nacional de São Carlos..Sobre o concurso, a jovem afirma ao DN que esta vitória tem muitos significados: “É uma honra enorme ser premiada com o Grand Prix num concurso realizado no meu próprio país e ser a única finalista portuguesa. É muito bom ter este reconhecimento por um júri internacional de grande renome, que reconheceu o culminar de um trabalho de meses e meses e meses”. Ana Rita Coelho inscreveu-se no concurso Cascais Ópera por incentivo de uma pessoa com quem trabalhou. “Ajudou-me a ter mais confiança em mim e no meu trabalho e disse-me que eu devia lançar-me a outros voos e entrar neste concurso”, explica.Agora, o próximo passo para Ana Rita Coelho é indefinido. “Ainda estou a pairar nesta bolha magnífica do concurso, de grande felicidade, de reconhecimento. Ainda não tive tempo para assentar as ideias e perceber qual é que é o próximo passo”, sublinha.A mezzo-soprano canta maioritariamente em francês e italiano e explica as razões para tal: “Diz-me muito emocionalmente e gosto muito de ouvir. Não é que eu não possa fazer outro tipo de repertório, mas é onde sinto mais facilidade e é onde encontro também esse refúgio emocional. É uma música que me toca mais no coração”. As duas maiores inspirações da cantora são Maria Calas e Franco Corelli. No entanto, destacou ainda a fadista Amália Rodrigues, bem como todos os amigos e colegas da área. “Estas pessoas são de facto a minha maior inspiração. Estou sempre para aprender com elas. Obviamente faz parte da minha construção como artista”.A preparação de Ana Rita Coelho para as atuações passa por descansar e fazer exercícios físicos e de concentração. “Dormir bem é a minha maior preocupação e é meio caminho andado para que as coisas já estejam a funcionar. Tento fazer refeições que me forneçam energia. Faço exercício físico todos os dias para conseguir manter força, resistência e estar em forma. As atuações requerem muita energia, não só mental. Depois tenho de ter momentos em que estou sozinha - guardo tempo para mim, para me concentrar naquilo que vou fazer e para entrar na atmosfera daquilo que quero transmitir”. Para Ana Rita Coelho a maior dificuldade do mundo da Ópera é a falta de financiamento. “A ópera não se sustenta por si mesma e é preciso patrocínios. É preciso investir na ópera. Sem dinheiro não há oportunidades e não há trabalho. Eu acho que essa é a maior dificuldade, é a maior resistência que os jovens cantores encontram”, disse, acrescentando que o acesso à Ópera também é uma dificuldade. “Acho que falta nas pessoas essa vontade de aceder à ópera, até porque, por vezes, nem sabem como fazê-lo”, sublinha.O conselho que Ana Rita Coelho deixa aos jovens cantores é para não desistirem e aprenderam com os artistas mais experientes no mundo da Ópera. “Obviamente que há pessoas que nos vão apoiando e que vão puxando por nós, mas temos de ser nós a dar o primeiro passo. Façam o máximo que conseguirem, vão ver o máximo de espetáculos que conseguirem, trabalhem com o máximo de pessoas que puderem. Tudo isso é experiência, tudo isso é bagagem, tudo isso contribui para nos construirmos como artistas”..Ana Rita Coelho é a grande vencedora do Cascais Ópera.‘Cascais Ópera’: o concurso que abre portas mesmo para quem não vence