Talvez tudo tenha começado com uma graçola boçal numa noite de copos. Ou com o vislumbre de uma cabeleira loura numa maca de hospital. Depois, tudo o que, em 1981, ainda subsistia de marialvismo na sociedade portuguesa deu lastro, um lastro tão grande que dura até hoje, àquilo que se transformaria numa das maiores campanhas de difamação do Portugal democrático. Os alvos? Laura Diogo, Helena Coelho, Fátima Padinha e Teresa Miguel, os quatro membros do grupo musical As Doce, cuja popularidade entre miúdos e graúdos não parava de aumentar, valendo discos de ouro, de platina, espetáculos cheios e um país inteiro a saber-lhes de cor as canções. Uma delas, dizia-se, teria sido violentamente sodomizada por um homem negro e atlético, a ponto de ter sido socorrida na urgência hospitalar. Depois vieram os nomes, suficientemente sonantes para que toda a gente os apontasse a dedo: ela era Laura, a loura do grupo, ele era Reinaldo Gomes, futebolista de origem guineense da equipa principal do Benfica.