A moda como obra de arte para atrair público novo ao Louvre
DR

A moda como obra de arte para atrair público novo ao Louvre

Museu expõe quase 100 peças de alta-costura de 45 casas de moda, lado a lado com objetos de arte de vários períodos históricos. Visitante é convidado a entrar no “jogo da livre associação”.
Publicado a
Atualizado a

O Museu do Louvre é muito grande, mas esta exposição está bem delimitada: espalha-se pelos nove mil metros quadrados do Departamento de Objetos de Arte daquele que é um dos museus mais visitados do mundo, e que tem como grande atração a pintura de Mona Lisa, de Leonardo da Vinci. Em Paris, a exposição Louvre Couture leva a moda ao museu, expondo 99 peças de alta-costura, pronto a vestir de luxo e acessórios, lado a lado com as coleções de objetos de várias épocas históricas, desde a Bizantina, à Idade Média, Renascimento, passando pelo Barroco até ao Segundo Império francês no século XIX.

Ao todo, estão representados 45 casas e estilistas, de várias nacionalidades, com peças que vão desde 1961 até à atualidade. Podem ser vistas obras-primas de casas de moda francesas, como Dior, Chanel ou Yves Saint Laurent, mas também de marcas de outras nacionalidades, como Dolce & Gabana, Versace, Prada ou Fendi, de Itália, Alexander McQueen ou Vivienne Westwood do Reino Unido, Iris van Herpen e Dries Van Noten dos Países Baixos e também de criadores que trabalham em Nova Iorque ou Tóquio.

As peças de vestuário e acessórios encontram-se espalhados pelos vários espaços que se repartem entre salas de exposição e os chamados “period rooms”, as salas de época, incluindo os apartamentos de Napoleão III, na ala Richelieu do museu. Na sua disposição procurou-se estabelecer relações entre as peças de moda e os objetos à volta. A missão foi “dar a impressão de que sempre estiveram lá”, diz a cenógrafa da exposição, Nathalie Crinière, em declarações à revista BeauxArts, dedicada à mostra e que se encontra à venda à entrada da mesma.

Por exemplo, logo no início do percurso, onde estão expostos objetos religiosos, como relicários e cruzes da época Bizantina, misturando ouro e pedras preciosas, surge exposto um vestido Versace da Coleção Outono /Inverno 1997/1998, em tecido dourado metálico com cruzes em cristais Swarovski. Também ali se vê um vestido Dolce & Gabana (Outono /Inverno 2013/2 014) com um padrão em mosaico e com cristais, ou ainda um conjunto de túnica e calças em veludo azul escuro da Coleção Paris Byzance de Karl Lagerfeld para a Chanel, também com pedras preciosas e contas coloridas.

Mais à frente, num espaço onde as grandes tapeçarias nas paredes estão em destaque, surge um casaco de Marine Sevre, da Coleção Rising Shelter (Outono/Inverno 2023-2024), feito reutilizando tapetes.

Continuando o percurso, passa-se por um vestido de Alexander McQueen da Coleção Sarabande (Pronto a Vestir Primavera/Verão 2007), em seda e tule rosa com flores a saírem pelas mangas e pelo decote, numa relação com as margens das tapeçarias com motivos florais expostas na sala.

Adiante, um vestido de Demna para Balenciaga (Outono/Inverno 2023-2024), ao lado de uma armadura de Henrique II, de 1560. A peça de vestuário prateada foi desenhada em computador e impressa em 3D em resina galvanizada.

Uma cómoda de 1742 serviu de inspiração a Karl Lagerfeld para um conjunto em que utiliza os mesmos tons, azul e branco, e a decoração com aves e plantas para desenhar um conjunto de saia (com penas) e casaco para a Coleção de Alta-costura Primavera/Verão de 2019.

Mas as relações entre a moda e as antiguidades expostas no departamento de artes decorativas do Louvre não é direta e o diálogo pode estabelecer-se de diferentes formas, sabendo que muitos dos criadores expostos eram visitantes assíduos do Louvre, como é o caso, precisamente, de Karl Lagerfeld ou Hubert de Givenchy.

O convite é para que os visitantes procurem pontos em comum entre as obras-primas da moda e os objetos históricos. "Os nossos visitantes podem, no seu percurso, dedicar-se ao jogo da livre associação", diz Olivier Gabet, diretor do departamento, em entrevista à BeauxArts.

Para este responsável, a ligação entre os objetos da exposição permanente e as peças de alta-costura têm uma coisa em comum, que explica a decisão de levar a moda até àquele departamento do Louvre: a arte de saber fazer (métiers d’arts). A tradição mantida por artesãos que se dedicam a ofícios tão díspares como a joalharia, a cerâmica, o vidro, os metais ou a tapeçaria.

Com esta exposição, o Louvre procura também atrair novos públicos ao museu, como explica a presidente da instituição, Laurence des Cars, à mesma revista. “Está a ser feita uma reflexão para atrair um público que está longe do Louvre e não vai lá espontaneamente”, diz . “A evolução atual da programação reencontra-nos muito com esse público, principalmente em Paris”, acrescenta.

Esta exposição estará patente até 21 de julho de 2025 e nela podem ser vistas peças icónicas da moda, como o corpete metálico de Thierry Mugler da Coleção Prêt-à-porter Outono/Inverno 1995-1996, os vestidos com peças metálicas geométricas que são a imagem de marca do estilista franco-espanhol Paco Raban, ou a peça que Daniel Roseberry desenhou para a Schiaparelli (Coleção de alta-costura Outono/Inverno de 2022), um vestido em estrutura metálica coberta de ornamentos.

A moda como obra de arte para atrair público novo ao Louvre
"Sei que fazendo parte da música não é assim tão difícil lançar um romance, mas eu não queria ter um livreco"
A moda como obra de arte para atrair público novo ao Louvre
Do encontro no Chiado à última viagem a Veneza: memórias de mais de uma década a viver com Julião Sarmento

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt