A luta pela mudança marcou o Músicas do Mundo

Bia Ferreira, Albert Pla, James BKS, Ana Tijoux e Steam down passarão esta quinta-feira pelo palco do Castelo de Sines. Seguiram-se os concertos do grupo português Club Makumba e o sexteto La Chiva Gantiva da Bélgica e da Colômbia no palco Galp.
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"Espero que após este concerto vocês fiquem diferentes de quando vieram para aqui", foi uma das primeiras coisas que Bia Ferreira disse quando subiu ao palco, acompanhada pelo seu violão.

Priscilla Azevedo no teclado e Juliana Chaves na bateria e percussão juntaram-se à cantora e aturam a música Não precisa ser Amélia, seguida da De Dentro do Ap. Foi assim que a artista apresentou-se para o público de Sines, referindo que é mais "uma mulher preta sobrevivente da política genocida, que reina no meu país." Assim, a cantora levantou a bandeira do amor - "Quem foi que decidiu o certo do errado?". Momentos depois toda plateia repetia as palavras "levante a bandeira do amor."

Depois da música Pote Cheio, num ritmo típico brasileiro, e de receber palmas do público, Bia Ferreira pediu "barulho" para a cultura brasileira. Um pretexto para uma Rajada de Cultura, uma das suas músicas novas.

"O Brasil é o país que mais mata pessoas LGBTI+ no mundo. Para eu estar aqui cantando aqui para vocês muito jovens negros morreram. Estou aqui por todos aqueles que não puderam atravessar o oceano de volta", referiu a cantora antes de tocar a Diga Não, canção sobre racismo e preconceito.

Atuou ainda uma nova música do seu próximo álbum: A Conta Vai Chegar, dedicando-a a todos os brasileiros, imigrantes de países africanos e todos aqueles que vem de países que foram colonizados. Rapidamente juntou audiência a repetir as palavras "a conta vai chegar"."E a gente cobra em euro porque a nossa moeda está muito desvalorizada", disse.

Como última música tocou Cota não é esmola, deixando a mensagem que a história não é apenas aquilo que se aprende na escola e como é lidar com a rejeição por motivos de racismos.

Despiu-se do público numa vénia, mas rapidamente voltou ao palco para a verdadeira última canção do seu concerto.

Bia Ferreira criou um projeto apelidado de Igreja Lebistariana. O hino do projeto chama-se Sharamanayas, palavra que significa que o que é bom fica e o que é mau vai-se embora.As vozes do recinto se juntaram à artista, repetindo Sharamanayas.

Mesmo quando Quando a música parou e Bia saiu do palco, o público continuou a cantar e a repetir o hino.

O sol já se punha, quando o artista catalão Albert Pla subiu ao palco do Castelo. Apresentou-se com a sua usual roupa de espetáculo: meias coloridas e um de vestido.

Acompanhado por Diego Cortés, guitarrista cigano que colabora com Pla desde 2001, começou por atuar Marcelino Arroyo Del Charco que fez o público soltar alguns risos.

Todo o espetáculo tem uma base teatral, onde Albert, canta e dança como se tivesse a contar uma uma história cada música. Do reportório fazia parte músicas como

"Solta a fera. Estamos aqui em Portugal", disse o artista. Sozinho no palco, o guitarrista chamou a atenção do público. No seu solo, a plateia gritava.

No entanto, durante todo o seu concerto, o público não respondeu muito. Apenas um pouco de instrumental que relembrava a típica música de salsa é que levou o público a bater palmas mais animado. "Necessito de concerto? Claro", disse o artista.

Despediu-se do público um obrigado em espanhol e a mandar beijos para público, mas antes colocou todos a dizer "La La La".

A maneira como move o corpo ao som da música quase que parece que está a navegar.

O músico francês James BKS, sigla para Best Kept Secret, ou seja, o segredo mais bem guardado (tradução livre) trouxe para o palco muita energia e esteve acompanhado dos seus músicos, todos vestidos de branco e laranja.

O francês passou todo o concerto a interagir com o público, "Como estão todos? Não estou a ouvir ninguém. Querem ir para um nível mais alto?"

Foi quando tocou Pana Njia, que pediu aos técnicos para acederem os holofotes virados para o público. "Quero ver todos, quero ver a minha família." Reforçou ainda que a mensagem da música é sobre a força de continuar em frente. Virando-se para o público pediu para colocarem o dedo no ar porque o "caminho é para cima." O público replicou o pedido.

Durante o concerto passaram ainda Don"t Stop The Music, original de Rihanna com a máxima energia e que fez a plateia dançar.

O cantor revelou que era suposto aprender um bocadinho de português. No entanto, o seu guitarrista sabe falar e disse : "Senhores e senhoras, gostei bué e esta é a minha segunda vez neste país, vocês são lindos. Podem cantar connosco?".

James BKS apresentou uma nova música, com outro artista francês Jungle Go Dumb, para terminar o espetáculo. "Obrigada! Quero agradecer a todos ao máximo!".

Saíram por momentos do palco e depois voltaram para um vénia de grupo abraçados e uma selfie de grupo com a plateia.

Ao som de trompetes e uma banda ao vivo, Ana Tijou apareceu em palco disse "Olá, Portugal", e sem perder tempo começou o seu concerto onde misturou temas antigos com mais recentes.

"Obrigado", disse em português, antes de voltar a falar espanhol e explicar que na música seguinte, Shock, foi inspirada pelos projetos de estudantes no Chile, que lutam por uma educação acessível.

Ana contou que uma vez numa entrevista lhe perguntaram como iria ser o futuro. "Como se pode fazer essa pergunta quando há massacres em 2022 e pandemias?".

Aconselhou o público presente a pensar em coletivo como uma forma de criar esperança que outros com poder por vezes quebram com dinheiro. Esta forma de pensamento representa para cantora chilena, uma nova pensar o poder e romper com o opressor. "Pensar em?", perguntou. "Coletivo!", respondeu o público. E aí começou a cantar a música Sacar La Voz.

Depois de um solo de guitarra do membro da sua banda ao vivo , tocou em 1977, com energia do público. E não deixou a música Antifa Dance ficar para trás, atuando-a pouco depois.

Ana Tijoux deu uma conferência aos jornalistas um pouco antes do concerto, onde foi confrontada com perguntas sobre o referendo da constituição do Chile. "É um momento muito histórico para o Chile evidentemente e tenho muitas expectativas em relação a esta votação. Queremos que acabe esta constituição e queremos uma que coloque todos os chilenos dentro dela", afirmou a artista.

"Esta nova constituição tem mais a essência da mulher dentro dela e é muito bonito nesse sentido",acrescentou.

Relativamente à extrema-direita no Chile, a cantora disse não poder negar a força da mesma. "Há uma extrema-direita muito forte. É uma situação um pouco mundial porque sinto que o mundo. Está-se a ver muito a extrema-direita noutras partes do mundo também", relembrou.

Em relação a projetos futuros diz que está a escrever músicas de momento e que encerra o processo de escrita em setembro, quando poderá sair algo novo.

Steam Down é um coletivo que junta elementos de jazz, grime, funk e R&B, que optou por um inicio de concerto mais calmo e instrumental com saxofone, depois teclado e bateria. A calmia notou-se no público que apenas com algumas palmas.

A interação dos artistas com o público começou aos poucos a aumentar "Quando disser Eu, vocês dizem Sou",em inglês. A primeira vez não deixou os artistas satisfeitos, sendo pedido para se voltar a repetir que deixou os artistas surpreendidos com intensidade.

Tocaram de seguida a música Etcetera que fez parte do jogo eletrónico FIFA. "Alguém aqui joga FIFA? Então, devem conhecer esta", disse Wayne o saxofonista.

"Sines how you feeling? Agora és um dez, soa como um dez" devido à resposta do público às músicas, levando depois a um novo pedido. Um "yeah yeah yeah" fez-se soar pelas paredes do castelo com as vozes da plateia. Todos se juntaram para cantar a música Empower , onde o público e os artistas se baixaram para depois saltarem ao mesmo tempo.

Embora fosse um concerto de Steam Down. Wayne Ahnansé' Francis partilhou que membro do grupo Doom Cannon, que estava ao teclado, acabou por lançar um álbum que acabou por mostrar um pouco da sua própria música.

No palco do Castelo de Sines, esta sexta-feira , dia 29, vão estar presentes a dupla portuguesa Fado Bicha, seguidos da portuguesa Dulce Pontes, o espanhol Niño de Elche e a jamaicana Queen Ifrica

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