A luta contra os plásticos vai à baliza

Um filme para nos despertar para a luta contra os plásticos nos oceanos. Chama-se <em>Rastro </em>e é já um fenómeno <em>online</em>. O primeiro objeto de cinema produzido pela Betclic, marca que se assume agora também produtora de conteúdos.
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Não há salas abertas e os festivais escasseiam. O que fazer com o cinema acabado de ser rodado? Há quem prefira guardar na gaveta e esperar por melhores dias, mas há quem reaja. Rastro, de João Lourenço e Bruno Ferreira, é uma curta-metragem que se estreou online com algum estrondo e já vai em mais de 3000 mil visualizações num site especialmente criado.

Há uma razão para toda esta urgência deste pequeno filme: o seu tema. Rastro eleva bem alto a bandeira da sustentabilidade ambiental e um exemplo de conduta. É também o primeiro filme da Betclic como produtora de conteúdos - esta marca de apostas online quer ser uma espécie de Amazon e produzir mais filmes, mesmo que aqui não tenhamos apostas ou product placement. De alguma forma, é também um exemplo de pioneirismo que pode ser entendido como nova via para cineastas portugueses que não vão ao concurso do instituto (ICA).

Rastro é a história de um guarda-redes na zona de Setúbal que após um "frango" muda a sua vida. Hélder não vê a bola passar num treino porque ficou a olhar para um saco de plástico atrás das suas redes. É expulso pelo treinador, mas ganha a consciencialização de que os oceanos e as praias estão cheios de plástico. Um flagelo que o atormenta nos sonhos e no quotidiano - já não consegue estar com os amigos nem treinar. É então que decide percorrer as praias sadinas e recolher os plásticos abandonados. Um exemplo que é visto pelo seu treinador e, às duas por três, toda a sua equipa está na praia a fazer o mesmo.

Conto de otimismo ecológico que serve de consciencialização social, Rastro alia um olhar realista sobre os meandros do futebol dos distritais, neste caso o Futebol Clube de Setúbal, do bairro da Bela Vista, muitas vezes notado pelas piores razões, com uma camada de experiência visual uniforme e coesa. Uma câmara que treme o que tem a tremer e que faz respirar a paisagem de Setúbal com uma honestidade brutal. No meio de tudo isto, uma mistura feliz de ator profissional, Vincent Wallenstein, e não atores, os jogadores do FC Setúbal e os habitantes do bairro da Bela Vista.

Bruno Ferreira, cineasta já premiado com a curta Pas de Confettis, não vai na cantilena do preconceito de haver uma marca a produzir cinema: "Acho mesmo que é muito encorajador para os realizadores. Para mim, enquanto realizador, acho que isso é bom e motivador, sobretudo porque nos permite não estarmos dependentes dos recursos normais e mais usuais. Creio que isto é uma oportunidade de mostrarmos coisas novas ao público. Isto da Betclic é de louvar! É realmente muito encorajador e pode valorizar o nosso cinema, não tenho quaisquer problemas com isso."

Para Miguel Domingues, responsável de comunicação da marca, Rastro é apenas o primeiro passo nesta aposta na produção: "A ideia do Rastro surgiu da necessidade de dar continuidade ao projeto Futebol Bonito 2020, que apoiou 20 clubes amadores, base do futebol nacional, e que tinha também uma forte componente de sustentabilidade ambiental. Com isto em mente pusemo-nos a pensar de que forma é que podíamos fazer mais pela sustentabilidade ambiental e decidimos contar uma história, usando o cinema, procurando influenciar as pessoas para que tomem um papel ativo. Foi assim que nasceu o a ideia de Rastro, o primeiro passo da Betclic na produção de conteúdos."

O mesmo diretor revela a razão da associação do futebol ao tema da consciencialização ambiental: "Tem a ver com o lançamento do projeto Futebol Bonito 2020, em que demos equipamentos a 20 clubes amadores, distribuímos também sacos para a lavagem desses equipamentos que conseguiam filtrar os microplásticos que se soltam durante este processo e que representam 85% da poluição dos nossos oceanos."

Rastro, para além das mensagens e dos bons exemplos, é uma amostra de um novo cinema português com uma linguagem narrativa mais desenvolta e uma outra espessura no tratamento do "real", mérito de Bruno Ferreira, em vésperas de se lançar para a sua primeira longa, um musical não conformista. "Quero que o meu cinema caminhe para a verdade, quero filmar cada vez mais a verdade. Fascinam-me as histórias reais com as quais as pessoas se possam identificar. É por isso que o meu cinema tem sempre uma câmara próxima dos intervenientes e da ação, independentemente da narrativa. Nesse intimismo terá de estar sempre a verdade", conta o realizador.

Se de um "frango" nasce um guarda-redes caça-plástico, Rastro pode ser o princípio de muita coisa. Está disponível de forma gratuita em rastrofilme.pt.

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