O osmanthus
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A linguagem das flores na cultura chinesa (II)

Na década de 1980, realizou-se na China uma eleição nacional das flores mais célebres, da qual resultou a escolha das dez flores tradicionais do país. Para além da ameixeira, da peónia, do crisântemo e da orquídea, já apresentadas na edição anterior, destacam-se ainda outras seis flores que serão apresentadas nesta edição, entre as quais a rosa-de-todos-os-meses.
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A rosa chinesa (Rosa chinensis) é originária da China e, pelo facto de florescer ao longo de todas as estações, recebeu a designação de “rosa-de-todos-os-meses”. Na cultura chinesa, é considerada símbolo do amor e dos bons votos, sendo a sua floração contínua um emblema de afeto persistente e caloroso. Os letrados chineses recorriam frequentemente a esta flor para expressar a doçura do amor e a alegria da vida. Este imaginário encontra equivalente na cultura ocidental, onde as rosas, também pertencentes à família das rosáceas, são igualmente utilizadas de forma ampla como símbolo do amor.

O rododendro encontra-se amplamente difundido nas regiões montanhosas do sudoeste da China. Ao desabrochar, o vermelho vivo das suas flores tinge as vastas encostas, criando uma paisagem de grande impacto visual. Na cultura chinesa, o rododendro está associado ao sentimento de saudade, sendo um dos símbolos clássicos da nostalgia e do afeto familiar na poesia antiga. Já no mundo ocidental, embora seja sobretudo apreciado como planta ornamental, devido à toxicidade de algumas variedades, o rododendro é também visto como um emblema em que a beleza convive com o perigo.

O lótus
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Originária do leste da China, a camélia distingue-se pela elegância da sua forma e pela grande variedade de espécies. Tal como a ameixeira, a camélia floresce muitas vezes no rigor do inverno, simbolizando, por isso, a força, a perseverança e o espírito indomável, alicerces de um carácter nobre e íntegro. Em comparação com a “frieza e altivez” da ameixeira, a camélia revela maior vitalidade e entusiasmo; e, em contraste com a peónia, símbolo da prosperidade e da riqueza, a camélia transmite uma imagem mais recatada e humilde. No Ocidente, o simbolismo da camélia foi profundamente marcado pela obra-prima A Dama das Camélias, do escritor francês Alexandre Dumas Filho. A predileção da protagonista, Margarida, por esta flor fez da camélia um símbolo clássico do amor puro e do ideal romântico na cultura ocidental.

O lótus, ou flor de lótus, é uma planta aquática muito comum. O seu rizoma cresce no lodo, enquanto as folhas e as flores se erguem acima da superfície da água. As pétalas são geralmente rosadas ou brancas. Como o lótus nasce do lodo sem se macular, tornou-se, na cultura chinesa, um emblema de pureza. No budismo, a flor de lótus é considerada um símbolo do Buda, representando o sagrado e o auspicioso, sendo frequente ver Shakyamuni e outros budas representados sobre um trono de lótus. No Ocidente, valoriza-se sobretudo a beleza natural do lótus (muitas vezes identificado com o nenúfar), que é apreciado como elemento ornamental e interpretado como símbolo de serenidade.

A rosa chinesa
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O osmanthus floresce geralmente por altura do Festival do Meio Outono (no décimo quinto dia do oitavo mês lunar), exalando um perfume intenso. Na China, simboliza a reunião familiar, a prosperidade e a colheita abundante. Acredita-se que o seu aroma traz boa sorte, motivo pelo qual é frequentemente utilizado na confeção de bolos, chás e perfumes. Em chinês, “guì” (osmanthus) é homófono de “guì” (riqueza, nobreza), pelo que a flor é também associada à ideia de fortuna e distinção. No Ocidente, o osmanthus é pouco conhecido, e a sua fragrância adocicada costuma evocar um certo exotismo oriental.

Quanto ao narciso, é uma flor que desabrocha na primavera, com fragrância fresca e cores suaves. Na China, como floresce em redor do Ano Novo Lunar, é também designado por “flor do ano”, sendo símbolo de renovação e de novos augúrios. O narciso constitui ainda um motivo importante na pintura tradicional chinesa de pássaros e flores, aparecendo muitas vezes em conjunto com a ameixeira, simbolizando pureza e integridade de carácter. No Ocidente, esta flor associa-se ao mito grego de Narciso, o jovem enamorado do seu próprio reflexo, sendo interpretado como símbolo de introspeção e renascimento.

As dez flores mais célebres da China não são apenas obras-primas da natureza, mas também símbolos vivos da cultura chinesa. Cada uma delas narra histórias poéticas sobre virtudes e sentimentos, refletindo os valores prezados pelo povo chinês ao longo da história. Ao mesmo tempo, os seus significados simbólicos encontram frequentemente ecos na cultura ocidental, criando uma linguagem floral de beleza partilhada entre Oriente e Ocidente.

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