A caminho da Eurovisão, os NAPA sentem “um nervosismo saudável”
A vitória no Festival da Canção foi uma surpresa para os NAPA, que vão representar Portugal na primeira semifinal 68.º Festival Eurovisão da Canção na Suíça, no próximo dia 13 de maio.
Guilherme Gomes, Lourenço Gomes, Francisco Sousa, Diogo Góis e João Rodrigues tentavam não manter as esperanças muitas altas, durante o Festival da Canção, que se realizou em março. “Era quase um assunto proibido falarmos da vitória”, conta Lourenço Gomes, teclista dos NAPA, em conversa com o DN.
Na final do festival, que decorreu a 8 de março, a banda continuou com baixas expectativas. “Nós estávamos na cantina a falar disso e a dizer: ‘Calma, não sabemos de nada ainda.’ Há muitos fatores e havia muitas músicas boas, que podiam ganhar, por isso, nem entrámos muito por essa linha de pensamento. É com essa visão que vamos para a Eurovisão”, acrescenta o guitarrista Francisco Sousa.
No dia em que venceram, fizeram um milhão de streams no Spotify, o que já era vitória suficiente para o grupo. “Ficámos todos contentes. Já tínhamos ganhado”, diz Diogo Góis, o baixista do grupo.
No entanto, acabaram por ganhar o Festival da Canção com em 2.º lugar na votação do público e um 4.º lugar na do júri, com um total de 17 pontos, e seguem agora para a primeira meia-final da Eurovisão, na Suíça, no próximo dia 13. A canção Cotovia, de Diana Vilarinho, também obteve a mesma pontuação. No entanto, em caso de empate, prevalece a escolha do público e os NAPA ficaram à frente de Diana Vilarinho, acabando por vencer.
Para a banda, representar Portugal é uma grande responsabilidade e honra. “Estamos a levar o nome do país a uma competição internacional como a Eurovisão - é algo que também nunca tínhamos pensado que fosse possível. Queremos representar Portugal da melhor maneira que conseguimos”, diz o vocalista Guilherme Gomes.
Apesar da responsabilidade, não se sentem nervosos para o festival. “Só sentimos um nervoso saudável. Vamos lá fazer o que estamos sempre a fazer, mas vai ser um palco grande. Também estamos entre amigos, banda, e portanto, estamos descansados.”
Com a contagem decrescente, os NAPA foram a Amesterdão e Madrid para festas da Eurovisão. Os membros explicaram que eram festas para os fãs, que não conseguem ir ao evento e assim têm uma oportunidade de ver os artistas.
A canção Deslocado tinha sido feita por Guilherme Gomes para outro projeto com música apenas sobre a Madeira. “Achei que esta música poderia ser a melhor forma de nos representar como banda, porque fala também de uma história que é comum a todos”, explica.
Deslocado
“Por mais que possa parecer/ Eu nunca vou pertencer àquela cidade” é um dos versos da música que os NAPA vão levar para a Eurovisão. A canção retrata a história com a qual muitos portugueses se identificam, incluindo os próprios membros. Guilherme Gomes, Lourenço Gomes, Francisco Sousa, Diogo Góis e João Rodrigues são todos da Madeira e vieram com 18 anos estudar para Lisboa.
Para este tema, o grupo inspirou-se em diferentes artistas deslocados. É o caso do comediante açoriano Miguel Neves. “Fui ver um stand-up dele - ele é açoriano e também é deslocado aqui em Lisboa, e falou sobre essa experiência de ser açoriano e de como é bastante diferente de nascer numa cidade como Lisboa ou Porto.”
Outra inspiração foi também o texto do artista madeirense João Borsch nas redes sociais , onde fala sobre a identidade insular e a entrevista da artista plástica Lourdes Castro à RTP, nos anos 1970, onde diz: “Foi muito bom ter nascido na ilha da Madeira, mas eu só senti isso quando saí de lá.”
No TikTok ,a música Deslocado rapidamente se tornou popular com uma trend onde vários jovens deslocados e emigrantes fizeram vídeos com a sua experiência. “Esta música é uma história bastante pessoal e nós pensámos que o pessoal ia identificar-se, sobretudo as pessoas que passaram pelo mesmo que nós. Depois, percebemos rapidamente que havia milhares de pessoas deslocadas dentro de Portugal e emigrantes portugueses que se identificaram com a mensagem”, disse Guilherme Gomes.
Para a banda, o TikTok é uma ferramenta que veio mudar a presença da música nas redes sociais. “É uma plataforma de scrolling, mas a maior parte do conteúdo tem música. Portanto, mudou no sentido em que tem o poder de chegar a pessoas e de partilhar a música”, disse Francisco Sousa.
A banda pediu também às pessoas que enviassem vídeos para a criação de videoclipe da música. “Acho que fazia todo o sentido incluí-los na parte que fica imortalizada, no videoclipe da música.” Receberam cerca de 600 vídeos.
Ao DN, a banda revelou que depois da Eurovisão pretendem lançar um novo single e, de seguida, um disco.
O começo, em 2013
A banda surgiu em 2013 como banda de covers e com o nome The Man on the Couch. Os cinco membros conheceram-se na escola, no Funchal, na ilha da Madeira.
Começaram por lançar originais em inglês e depois começaram a compor em português, sendo que gravaram o primeiro disco, Senso Comum, em 2019, totalmente em português. No segundo álbum, Logo Se Vê, lançado em 2023, o nome deixou de fazer sentido.
“As músicas eram todas em português e pensámos: ‘Isto não faz sentido, um nome em português encaixava muito melhor aqui.’ Fizemos até uma lista infindável de nomes. Foi uma decisão difícil”, disse João Rodrigues.
“Até que alguém sugeriu NAPA, porque nós estávamos sentados lá no estúdio, que era revestido a napa”, acrescenta.
A maior dificuldade da mudança de nome foi o facto de a banda ser conhecida como The Man on the Couch.”Algumas pessoas já nos conheciam e tínhamos medo de perder tudo no Spotify e nas redes sociais. Mas, por acaso, conseguimos dar continuidade ao Spotify e foi bacano”, diz Francisco Sousa, guitarrista da banda.
O grupo começou por se inspirar em bandas como Red Hot Chili Peppers, Pearl Jam e Arctic Monkeys. Atualmente, as suas inspirações musicais são outras, como os brasileiros Caetano Veloso, Tom Jobim e Chico Buarque.
Relativamente ao processo criativo dos seus discos, o primeiro álbum foi composto por Guilherme Gomes e depois o resto do grupo foi construindo as canções. O segundo foi criado durante a pandemia e a banda revela que foi um processo mais solitário. “Fizemos ‘demos’ no computador, depois ensaiámos e rearranjámos certas músicas.”
Sobre o álbum que irão lançar depois do festival da Eurovisão, apenas revelaram que ainda está numa fase inicial. “Depende também de como correr esta situação da Eurovisão, ainda vamos descobrir o processo todo.”
Discórdias no processo raramente acontecem. Os gostos musicais entre os cinco integrantes da banda são semelhantes. “Quando apresento uma ideia, já tenho de ter alguma confiança nela, de que eles vão gostar disto. A partir daí construímos o resto e acaba por ser quase um processo de tentativa e erro ”, diz o vocalista.
“Sinto que, de certa forma, influenciamos muito os gostos uns dos outros. Não sei se é da quantidade de tempo que passamos juntos, em que depois acabamos muito por mostrar músicas uns aos outros”, acrescenta.
Os NAPA anunciaram dois concertos , marcados para 24 de janeiro de 2026, no Coliseu do Porto, e 30 de janeiro no Coliseu de Lisboa. O preço dos bilhetes varia entre 30 e 40 euros.