O único trabalho discográfico do portuense Fernando Martins é este EP editado pela Orfeu, de Arnaldo Trindade, cujo primeiro tema é “País de Abril”, um poema de Manuel Alegre, musicado pelo próprio cantor. O poeta escreve sobre o País de Abril antes de “Abril”. Não terá sido um prenúncio seu, mas, antes, o recurso a uma das etimologias da palavra, nomeadamente a que a liga ao verbo latino “aprire”, isto é, “abrir”, numa referência ao desabrochar dos botões que dão flor, até dos cravos, que, anos depois, passariam a reais na festa do 25 de Abril. A música acrescenta conteúdo e beleza ao sonho do poeta, aliás, numa inspiração em Phil Ochs, o cantor folk que acordou do sonho americano. Lembro que este cantor de protesto norte-americano se apresentara em muitos eventos políticos durante a era da contracultura, incluindo comícios contra a Guerra do Vietname e pelos direitos civis. Se a primeira canção do EP de Fernando Martins é um grito de esperança, as restantes continuam-na, como denúncia em “Guerra” e “O medo”, ambas da autoria integral do músico, e com mais desejo de esperança em “Barcas novas”, com poema de Fiama Hasse Pais Brandão. A capa é de Fernando Aroso, a partir de uma fotografia do cantor junto a uma árvore de grande porte, em cujo tronco se lê “País de Abril”. Fernando Martins já tinha uma experiência de gravação ao tocar guitarra em temas do disco de estreia de Mário Viegas como declamador. Em entrevista à revista “Mundo da Canção”, revela o seu posicionamento em relação ao tipo de cantor: “Não estou de acordo com essa designação [baladeiro]” (setembro de 1970).