#2 “Abandono” (David Mourão-Ferreira / Alain Oulman), Amália Rodrigues, 1962
“Amália Rodrigues”, ou “Busto”, é o disco que tem como sexta faixa “Abandono”. Este é um dos temas do poeta David Mourão-Ferreira, autor de quatro dos nove poemas deste álbum coletivo. Amália aproximava-se dos poetas eruditos e das harmonias novas de Alain Oulman, o compositor que a partir deste trabalho mudaria o fado. O tema evocado tem um claro conteúdo político. É também conhecido como “Fado Peniche”, pelo facto de o autor do poema se ter inspirado na fuga histórica de Álvaro Cunhal da prisão do Forte de Peniche. O busto, que figura na capa do disco, é da autoria de Joaquim Valente, esculpido na década de 1940, representando a fadista, a cantar, de cabeça inclinada, de olhos fechados e de rosto sereno, e surgindo na capa através da fotografia de Nuno Calvet, em tons de cinza recortado sobre fundo negro. O disco foi gravado no Teatro Taborda, antes de a editora Valentim de Carvalho se ter mudado para o seu estúdio pioneiro em Paço de Arcos. Amália foi acompanhada pelos músicos José Nunes à guitarra portuguesa, Castro Mota à viola e Alain Oulman ao piano. Apesar de importante no percurso artístico da maior cantora portuguesa, Alain Oulman seria expulso de Portugal pela Polícia Internacional e de Defesa do Estado, em 1966, sob a acusação de ter cooperado com a Frente de Acção Popular, que foi uma organização marxista-leninista portuguesa fundada em janeiro de 1964, em Paris, na sequência da rutura e expulsão de vários membros do Partido Comunista Português. Porém, Amália não abandonou o compositor, nem este deixou de colaborar com a fadista.