Todas as edições do Festival de Cannes refletem a preocupação de mostrar filmes que deem a conhecer a diversidade da produção francesa. Trata-se de uma verdadeira (e muito legítima) estratégia promocional que, além do mais, serve para reafirmar o lugar central que a França ocupa nas dinâmicas do cinema europeu. Com realização de Martin Bourboulon, 13 Dias, 13 Noites foi um exemplo de tal estratégia na edição do festival no passado mês de maio. Integrado na secção não competitiva da seleção oficial, surgiu em paralelo com títulos como o também francês filme de abertura, Partir, Um Dia, de Amélie Bonnin, ou Highest 2 Lowest, a mais recente realização de Spike Lee. Compreende-se que 13 Dias, 13 Noites, uma variação competente, mas não surpreendente, sobre o “filme de guerra” centrado numa operação dramática de evacuação, talvez não fosse uma primeira escolha para integrar a lista dos candidatos à Palma de Ouro. Seja como for, mesmo com toda a subjectividade que isso envolve, terá havido na competição alguns títulos muito menos interessantes — penso, por exemplo, no também francês Alpha, de Julia Ducournau... Estamos perante uma convulsão militar e humana que conhecemos, antes do mais, através das imagens difundidas pelas televisões de todo o mundo em meados de agosto de 2021. Como pano de fundo surge a retirada das tropas dos EUA do Afeganistação e a ocupação de Kabul pelos talibãs. De um momento para o outro, gera-se uma enorme instabilidade, com várias embaixadas de países europeus a decidirem uma retirada imediata, por vezes transportando muitos cidadãos afegãos ameaçados pelas represálias que começavam a acontecer — 13 Dias, 13 Noites centra-se, justamente, nas experiências vividas pelo pessoal da Embaixada de França. Uma legenda final dá-nos uma informação estatística sobre o que aconteceu: “Entre 17 e 28 de agosto de 2021, a França evacuou 2805 pessoas — 1005 crianças, 851 mulheres e 949 homens.” Dito isto, importa acrescentar que as emoções, e também o valor humanista, do filme de Bourboulon existem para lá da perturbação que os números transportam: este é um filme que evita a “aceleração” típica, por vezes maniqueísta, de certos formatos informativos das televisões para se concentrar num núcleo de personagens definidos de forma tão simples como eloquente — entre essas personagens está um militar ao serviço da Embaixada de França (Roschdy Zem) e uma jornalista (Sidse Babett Knudsen) que tenta, em particular, ajudar a salvar um grupo de artistas ameaçados pela fúria talibã. Sem promoções gratuitas de heróis individuais, aplicando as regras de um realismo imediato e despojado, eis um filme de singela vibração dramática. .'Miroirs Nº 3'. O cinema é um jogo de espelhos .'Adeus, June'. Uma família entre palavras e silêncios