O presidente da Concelhia do Montijo do PSD, João Afonso, enviou nesta semana uma carta ao coordenador do núcleo territorial da Iniciativa Liberal (IL), João Pereira, convidando-o para discutir a participação desse partido numa coligação que permita fazer, nas próximas Eleições Autárquicas, aquilo que ainda não foi feito. Meio século após o fim do Estado Novo, ainda não houve uma única câmara municipal governada pela direita na Margem Sul, na Península de Setúbal ou no distrito inteiro, que inclui quatro concelhos do Litoral Alentejano..Conseguir nas Autárquicas de 2025 que o distrito a sul da capital deixe de ser um deserto para a direita é um dos objetivos declarados do PSD, aproveitando a mudança de ciclo político, depois de três eleições marcadas pela austeridade da troika e pela hegemonia socialista durante os Governos de António Costa. E, embora ninguém espere que Setúbal venha a ser decisivo para as metas que constam da moção com que Luís Montenegro foi reeleito líder social-democrata - e que passam por o PSD conseguir a presidência da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP) e da Associação Nacional de Freguesias (Anafre) -, altos dirigentes do partido, como o secretário-geral Hugo Soares, têm repetido que há condições para vencer uma ou mais câmaras no distrito..Apesar de o PS ter sido o partido mais votado nas duas eleições de âmbito nacional disputadas neste ano, e de a CDU manter bastiões autárquicos (incluindo a sede de distrito e o Seixal), nas últimas Legislativas houve dois concelhos do Distrito de Setúbal onde mais de metade dos eleitores votaram na Aliança Democrática (AD), Chega e IL (Montijo e Alcochete) e mais três (Setúbal, Palmela e Sesimbra) onde a soma dos resultados das três forças se aproximou dessa fasquia..A esses números, João Afonso acrescenta um indicador específico do Montijo. Em 2021, à frente de uma coligação entre PSD, CDS e Aliança, ficou a 350 votos de fazer história, com 27,74%, que não travaram o terceiro mandato do socialista Nuno Canta (29,94%). Ao DN, o líder da concelhia social-democrata, também vereador, assume que a “possibilidade de ganhar aqui é enormíssima”, perante o novo ciclo político, as mudanças demográficas no concelho e as divisões entre aqueles que o têm liderado ao longo das últimas décadas..Com a saída de Nuno Canta, que trocou a Câmara do Montijo pela Amarsul, concessionária do tratamento de resíduos urbanos em diversos concelhos da Península de Setúbal, a autarquia é liderada desde junho por Maria Clara Silva, até então vice-presidente..Mais recentemente, em outubro, o presidente da União de Freguesias do Montijo e Afonsoeiro, Fernando Caria, desfiliou-se do PS - em guerra aberta com a líder concelhia (e ex-deputada) Catarina Marcelino - e anunciou a sua candidatura enquanto independente, ameaçando dividir o eleitorado socialista em 2025..Frente contra três à esquerda.A mesma possível dispersão de votos, neste caso entre três candidaturas fortes à esquerda, contribui para alimentar a ambição do PSD no Concelho de Setúbal. Além da CDU, que deve recandidatar o atual presidente, André Martins, militante do PEV, a capital de distrito será também disputada pela sua antecessora, Maria das Dores Meira, que cortou com o PCP e lidera um movimento independente que pretende interromper o rotativismo entre comunistas e socialistas. Ainda que o PS, partido mais votado no concelho nas eleições de âmbito nacional, acredite que estão criadas condições para reconquistar uma autarquia que lhe escapa desde 2001. Seja com um dirigente nacional - embora a ex-ministra Ana Catarina Mendes tenha rumado ao Parlamento Europeu - ou com o líder concelhio, deputado e vereador, Fernando José..A isto, o recém-eleito presidente da Concelhia de Setúbal do PSD, Paulo Calado, responde ao DN com a convicção de que um eleitorado que “até hoje só experienciou a governação socialista e comunista, vai ter agora a oportunidade de experienciar a governação social-democrata”. E destaca a importância que terão nas próximas Autárquicas o efeito de propostas que os vereadores do PSD fizeram aprovar, tirando partido de o Executivo Camarário da CDU ter maioria relativa..A aprovação do IMT Jovem, pioneiro no país, e a descida do IMI e da variável municipal no IRS destacam-se entre os trunfos que, segundo o dirigente social-democrata, “nos dão alento para termos essa vontade”..Na cerimónia de posse dos novos órgãos concelhios do PSD, Hugo Soares defendeu que existe “uma grande oportunidade de ganhar a Câmara de Setúbal”, sendo, para tal necessário, “unir e agregar” e “escolher bem o rosto” que vai encabeçar as listas. Afastada estará a recandidatura de Fernando Negrão..Empenhado em elaborar “uma frente eleitoral de forças não-socialistas e não-comunistas o mais alargada possível”, Paulo Calado diz que ainda nada está fechado, decorrendo conversações. No entanto, como noutros concelhos do distrito, a abrangência emperra no “não é não” ao Chega, repetido por Luís Montenegro, com André Ventura a responder que o seu partido também afasta coligações autárquicas, preferindo atrair para as suas listas militantes do PSD e de outras forças partidárias. Algo que complica as hipóteses de vitória, pois nas Legislativas o Chega foi o segundo mais votado em Setúbal, com 20,79%, atrás do PS (29,91%) e à frente da AD (18,74%)..Desafios do Chega.Outro dos concelhos do distrito em que as Legislativas dão esperança à direita é Alcochete, até porque, mesmo sem o Chega, a soma de votos na AD e na IL superou a do PS. No entanto, fontes sociais-democratas ouvidas pelo DN destacam desvantagens, que vão desde a ausência do Executivo Camarário - em 2021, o PSD ficou atrás do CDS, que perdeu os dois vereadores que detinha - até à turbulência interna..O antigo líder concelhio Pedro Louro, pai do presidente da Juventude Social-Democrata, João Pedro Louro, afastou-se por motivos de saúde - e após acusações de negligência, pois o seu pai vivia em condições degradantes -, com Ester Santos a suceder-lhe..Mais recorrente é outro obstáculo a vitórias Autárquicas em Setúbal, que os sociais-democratas descrevem como a tendência de eleitores do PSD votarem em autarcas do PS para evitar a hegemonia comunista. Mas isso perde relevância quando restam à CDU as câmaras de Alcácer do Sal, Grândola, Palmela, Santiago do Cacém, Seixal, Sesimbra e Setúbal, enquanto a ascensão do Chega cria novos desafios..“Um partido que quer ganhar Eleições Nacionais, e que precisa de ter peso nas áreas metropolitanas, não pode ir a jogo com orçamentos de quem só quer manter-se”, diz um antigo dirigente do PSD, para quem “o partido tem de ter uma estratégia para Setúbal e dinheiro para a implementar”. Há que responder às transformações no distrito, evitando que o Chega se cimente numa zona do país “comparável ao Rust Belt dos Estados Unidos”..Em sentido contrário, Bruno Vasconcelos, que voltará a candidatar-se no Seixal, ainda mais difícil para a direita, realça algo que favorece o PSD. “São as primeiras Autárquicas em muito tempo em que vamos estar no poder e em ambiente favorável.”