A viver e a trabalhar em Estocolmo, para onde se mudou em 2014, foi na capital sueca que Ana Barata Martins fez o mestrado em Belas-Artes na Konstfack - University College of Arts, Crafts and Design. "É uma formação mais prática, algo que me faltava. A Faculdade de Belas Artes [de Lisboa] tem uma base académica, teórica e de pesquisa muito forte. Ter uma prática baseada apenas em preocupações estéticas não chega. Para mim, a investigação tem de estar sempre aliada à prática", diz..Uma investigação que tem levado Ana a percorrer o interior do país tendo a fotografia "como um meio e um fim para documentar as viagens de campo" em que o seu trabalho se baseia. "Com as imagens crio um arquivo que serve de material para a minha produção artística". Um arquivo que, no trabalho que tem em curso - sempre "in progress", brinca -, La Maison Portugaise, recorre também a outras fontes, destacando-se o Inquérito à Arquitetura Popular em Portugal, realizado na segunda metade da década de 1950 e publicado em 1961..O título em francês, explica, "é quase uma piada ou uma ironia ao estado do interior em Portugal, onde temos um misto do vernacular, do tradicional, com as maisons francesas e os chalets suíços, seja nas casas dos emigrantes, que são usadas uma ou duas vezes por ano, seja nas casas dos que ficaram na terra mas que imitam essas casas, negando o tradicional, buscando uma ideia de conforto, um estilo que seja o seu, o seu sonho"..Para além destas questões, o interesse desta jovem artista de 27 anos estende-se à apropriação do vernacular, seja pelo regime do Estado Novo, passando por iniciativas como a eleição da Aldeia Mais Portuguesa de Portugal, seja pela atual renovação da arquitetura vernacular (que utiliza na construção materiais e recursos próprios da região) com propósitos turísticos numa tentativa para travar a desertificação ou ainda os programas televisivos feitos um pouco por todo o país. "O que me interessa é o constante repensar dessa paisagem do interior de Portugal, levantando questões como o que é o interior do país, como é a sua paisagem, qual o seu futuro?", resume..Mestrado terminado, Ana tem-se dedicado inteiramente à prática artística desde setembro. "Quando acabámos o mestrado, toda a turma alugou um prédio no sul de Estocolmo, que daqui a dois anos vai ser demolido. Cada um tem a sua sala de trabalho, organizamos exposições, concertos, e temos sempre alguém com quem trocar ideias"..Desenvolver trabalho no formato de residência artística é, para já, o que mais gosta. Algo que confirmou na residência que fez em 2015 na Lituânia e que repetirá já a partir de 16 de agosto, desta feita na Polónia. Unsolicited Works é o título da residência artística que está a organizar, juntamente com Cristina Ferreira e Kasia Sobczak. Financiada pelo Instituto Camões, as instalações site-specific daí resultantes serão mostradas em Varsóvia na primeira semana de setembro..Como uma das quatro finalistas do Novo Banco Revelação, lamenta a mudança no formato do prémio que passou a atribuir a bolsa de 15 mil euros apenas a um finalista - este ano a Tiago Madaleno - em vez de o dividir por todos os finalistas como acontecia antes. Porque "o mais importante é concretizar o projeto apresentado e o trabalho que se pode fazer com um curador". Considera ainda ser muito cedo para estabelecer um caminho definitivo para a sua carreira. Mas sabe por onde quer seguir: "O que eu gostava era de trabalhar num meio que valorize e incentive um trabalho baseado na investigação, no qual não haja a preocupação que esse trabalho seja um work in progress, algo que se encontra em parceiros institucionais ou governamentais, e no formato de residência artística".