Blaya tem música nova para mostrar como se "Faz Gostoso"

O primeiro tema será lançado amanhã, o disco chega nos próximos meses. Nele, a bailarina e MC que fez parte dos Buraka Som Sistema junta o hip hop e o funk aos ritmos tropicais.
Publicado a
Atualizado a

No meio de prédios amarelos e cor-de-rosa, com um céu azulão ao fundo, Blaya agita os seus caracóis e dança como ela sabe enquanto canta, com um ligeiro sotaque brasileiro: "E o pior é que ele é safado, e ainda por cima é carinhoso. Ele faz tão gostoso." O videoclipe de Faz Gostoso vai estar disponível a partir de amanhã para mostrar a primeira música do próximo disco de Blaya. E ali está ela por inteiro: enérgica e eclética, juntando o hip hop e o funk naquilo a que chama um tipo de "Funk Europa".

Ainda sem data de lançamento marcada, este será o primeiro disco de Blaya após o final do Buraka Som Sistema, em 2016, e o segundo em nome próprio, depois de em 2013 ter lançado o EP Blaya (que tinha o tema Superfresh).

"Depois do fim dos Buraka, sabia que queria continuar a fazer a minha música mas decidi dedicar-me naquele momento mais à dança. Aproveitei para viajar mais com os meus workshops", explica. Não tinha pressa: "Aprendi com os Buraka que para fazer uma boa música é preciso tempo. Temos que ficar lá, para criar, ouvir outras pessoas, ouvir a música muitas vezes, trabalhá-la".

Quando se sentiu pronta, Blaya desafiou um grupo de gente criativa - produtores, song writers, músicos, cantores - e juntou-os durante dois dias num brainstorming nos estúdios da Red Mojo. MC Zuka, Vírgul, Kaysha, Laton, Ella Nor foram alguns dos parceiros nessa aventura. "O meu ritmo é sempre uma coisa mais tropical e depois passa pelo pop, rap, Brasil. Todas as pessoas sabiam o que é que se pretendia. No final, juntámo-nos todos e ouvimos as maquetes que se tinham feito para vermos o que é que fazia sentido."

Foi a partir dessas maquetes que foram nascendo os doze temas de Faz gostoso, que será editado pela Warner Music Portugal e que trará a Blaya que já conhecemos dos Buraka mas ao mesmo tempo uma Blaya nova: "O meu estilo é um clássico desportivo", brinca. Muitos não sabem que antes mesmo de ser bailarina Blaya (na altura talvez ainda só Karla Rodrigues) já escrevia raps. Portanto, ela nunca foi só aquela miúda que dançava kuduro: "O que eu gosto mesmo é de puxar pelas pessoas. A dançar e ao mesmo tempo com um microfone na mão para as pessoas saltarem e gritarem comigo." E é isso que se prepara para fazer. Está já a trabalhar nos concertos, em que se apresentará em palco com baterista, teclista, guitarrista e bailarinos. Um desses concertos será a 30 de junho no Rock in Rio.

Sem medo da opinião dos outros

Para as fotografias, Blaya vestiu uma blusa vermelha com franjas, prendeu o cabelo em dois totós, está muito bem maquilhada. Mas quando o namorado aparece com a pequena Lau, Blaya troca ali mesmo para um top de licra, bastante mais confortável e amamenta a filha enquanto continua a entrevista. Quem a acompanha nas redes sociais sabe como a gravidez e a maternidade têm sido vividas com uma enorme felicidade: sempre dançou e manteve os seus workshops, apesar da barriga que crescia; e quinze dias depois de dar à luz já estava no festival Sudoeste a fazer uma atuação de 30 minutos durante cinco dias.

"Ser mãe não mudou nada em mim", diz. "Tenho outras responsabilidades, só isso, tenho um bebé para cuidar, quero fazer as coisas bem." Nos vídeos que faz para o Facebook, fala regularmente das dúvidas que tem e da sua posição em relação a temas como a amamentação ou o babywearing. Procura na internet qual a melhor maneira de fazer as coisas mas acaba sempre por fazê-las à sua maneira. "Quero educar a minha filha da mesma maneira que a minha mãe me educou. Ela era super tranquila, relaxada, sempre me deixou fazer tudo aquilo que eu quis fazer, desde que fizesse sentido. E sempre me apoiou em tudo. E eu vou puxar pela minha filha como a minha mãe puxou por mim", diz, confiante. "Vou educá-la para a igualdade. E para ser quem ela realmente é."

Essa é uma batalha que Blaya trava há já muito tempo. Desde os tempos em que morava em Ferreira do Alentejo, a vila onde os pais se estabeleceram depois de terem vindo do Brasil. "Saí de lá com 16 ou 17 anos. Eu queria outras coisas e lá não dava", lembra. Morou em Sines e pouco depois mudou-se para Lisboa, quando dava os primeiros passos no hip hop. A oportunidade para se juntar aos Buraka Som Sistema surgiu em 2008, tinha Blaya 21 anos. Era bailarina mas quando iam atuar fora do país, como Pongolove não tinha documentos e não podia ir, Blaya começou também a agarrar o microfone.

Com a fama descobriu também que há sempre alguém pronto a criticar. Seja uma tatuagem, seja uma maneira de pensar ou uma maminha à mostra. "Eu até fico pasmada como é que ainda fazem notícias a dizer que eu tirei uma fotografia assim ou assado. Eu faço isso há anos", diz. "Aprendi a lidar com as críticas mas não com as mentiras. Fico passada com as mentiras. Mas se for verdade, se disserem que eu postei isto ou aquilo tá-se bem." Tem 30 anos e sabe bem quem é. Não se trata de querer chocar, é "apenas" uma luta quotidiana pela liberdade individual. E explica: "Procuro incentivar todas as pessoas que têm receio de dizer ou de mostrar qualquer coisa. Dar-lhes um go. As pessoas têm que se habituar. Vai haver uma altura em que já vão estar à vontade para fazer aquilo que têm vontade de fazer sem se preocuparem com o que os outros vão dizer."

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt