A Festa do Jazz mudou a vida de Pedro Melo Alves

Começou por estudar bateria e tocar em bandas de garagem, depois voltou-se para o piano, que estuda avidamente, ganhou um prémio de composição em jazz (Prémio Bernardo Sassetti) e faz pesquisa em música erudita.
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Aos 25 anos, Pedro Melo Alves compõe música numa ínfima água-furtada com vista para uma tira de Tejo, onde também dorme. Por cima do piano, uma folha manuscrita: "Não desistir." Há outras. Recadinhos para a vida musical que ali se vai fazendo, até à mudança. O prédio foi vendido e Pedro e a namorada têm de procurar novo poiso. Ele está confiante que continuará por ali, à Sé, onde também tem um estúdio onde ensaia bateria.

Na realidade, Pedro Melo Alves vive num vaivém entre Lisboa e o Porto, de onde é natural. Desceu no mapa há três anos graças a uma conjugação de fatores: "Queria sair do Porto, de casa dos pais, fazer uma licenciatura nova e a namorada ia começar a licenciatura em Teatro." Na altura, Pedro Melo Alves já tinha parado os estudos em Bateria Jazz, no Porto. "Queria mesmo estudar de forma séria piano. Quando estava a construir uma carreira, fui percebendo como o piano deveria ser central." Entrou em Composição, na Escola Superior de Música, onde permanece.

Uma formação que acabou por dar frutos logo em 2016, quando ganhou o Prémio de Composição Bernardo Sassetti e a sua vida entrou numa espécie de "missão impossível". Uma das consequências do prémio é a gravação de um disco. Pedro tinha concorrido com três originais, três peças de música complexa que "cruzam escrita clássica com improvisação".

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Peças longas que precisavam então de ser tocadas por músicos com menos de 30 anos - outro dos constrangimentos do prémio, criado em 2015 pela Associação Sons da Lusofonia em parceria com a Casa Bernardo Sassetti para divulgar novos compositores portugueses. Acabou por conseguir - a maior dificuldade foi encontrar o pianista, ficou o José Diogo Martins, conta. Formou então o Omniae Ensemble, um septeto. Gravaram o disco (com o mesmo nome), que foi lançado na Festa do Jazz, em abril último, no Teatro São Luiz, em Lisboa.

Fora nessa mesma Festa do Jazz, mas nove anos antes, que a vida de Pedro Melo Alves mudara. Ia representar a escola Valentim de Carvalho, do Porto, como baterista. "Estava mesmo a zeros em relação ao jazz. Foi um fim de semana que me abriu os olhos para todo um novo potencial que a música podia assumir. Eu já tinha os meus projetos, umas bandas de rock, coisas da adolescência mas onde na verdade muita da descoberta se faz." Acabaria por deixar o estudo mais aprofundado da bateria e virar-se para o piano e assume-o com serenidade: "Eu acredito totalmente no caos, nas buscas completamente desreguladas, acredito que o caminho corresponde a um estereótipo de perfeição qualquer, mesmo na busca musical. O início foi completamente o rock, ainda hoje tenho projetos de rock, como baterista, mas quando se começou a formar alguma coisa mais próximo de ser músico na minha vida foi nessa Festa do Jazz."

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Os músicos das bandas - o Omniae Ensemble e o The Rite of Trio - estão todos no Porto. "Não tenho fins de semana, estou cá durante a semana a fazer os trabalhos para o curso que deveria fazer no fim de semana, no fim de semana vou para o Porto e tenho quatro ou cinco ensaios."

Corre por gosto e em breve vai ganhar novos destinos: "Qualquer um destes projetos está a dar o passo a seguir. Quer os Omniae quer os Rite estão a pensar nos próximos álbuns e tours. Vamos tocar muito em Portugal e fora, em festivais europeus. Estão vários programadores com os CD na mão que nos querem, em setembro vamos fechar datas. É importante que isso se saiba, que os projetos não morrem." Em setembro, os The Rite of Trio terão a sua "primeira internacionalização", em Nova Iorque.

Nesta profusão de estímulos, Pedro Melo Alves mantém-se aparentemente tranquilo: "A minha vida não está em pleno descontrolo mas é um esforço por manter juntas todas as pontas que são soltas por natureza, ou seja, gerir o caos. Tem sido produtivo."

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