Entre o céu e a terra, há um musical para ver em Fátima
A atriz Sofia Escobar é uma das protagonistas do espetáculo encomendado pelo Santuário para o centenário.
É no final, quando o público já estiver entrosado com as histórias de vida que vão passar pelo palco, que Sofia Escobar canta uma Ave-Maria de arrepiar. Essa não é a única mas será a mais marcante ligação à memória de Fátima, ao longo de um espetáculo que estreia quinta-feira no Centro Pastoral Paulo VI, junto ao Santuário. Integrado no programa comemorativo do centenário das aparições, o musical Entre o Céu e a Terra consumiu muito do tempo que a Elenco Produções dedica aos espetáculos.
Há mais de um ano, a reitoria do Santuário desafiou a produtora do Porto a criar uma obra de teatro musical para integrar o vasto programa que tem levado a Fátima uma diversidade artística impensável para muitos. "A ideia nunca foi retratar os acontecimentos de 1917, mas sim mostrar o impacto e a presença de Fátima ainda nos dias de hoje, cem anos depois", contou ao DN Bruno Galvão, que a par de João Ribeiro produz este musical. "O desafio foi como abordar um tema tão forte e importante como Fátima, como criar um espetáculo que fosse contemporâneo."
E esse não foi um caminho fácil, mas a Elenco conseguiu-o: construiu várias histórias do quotidiano, "com as quais o público se identifica" e teatralizou-as, em formato de musical. "Fomos à simplicidade da vida", acrescenta Bruno Galvão, que há duas semanas levou a companhia até Fátima, onde decorrem os ensaios. Um conjunto de 60 pessoas faz a equipa completa, mas há 19 artistas com a responsabilidade de interpretar cada história e cada música, a que se junta uma orquestra de seis músicos. Muitos nunca tinham estado na cidade nem no Santuário.
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São 19 artistas que sobem ao palco com a responsabilidade de interpretar cada história, a que se junta uma orquestra de seis músicos
© Henriques da Cunha/Global Imagens
Um sítio especial
Não é o caso da atriz Sofia de Portugal (uma devota confessa), mas é o da própria Sofia Escobar, que recusa o epíteto de protagonista principal. "Este é um espetáculo que vive muito do grupo inteiro. Não há uma personagem que mais se destaque. Todos temos um papel vital", declara ao DN a solista premiada diversas vezes em Londres, nomeadamente pela sua prestação em O Fantasma da Ópera.
"Acho que vai ser uma surpresa para o público. Ninguém está à espera de uma abordagem tão contemporânea, tão dentro do nosso tempo. O que conseguimos foi fazer que o foco central de tudo isto fosse a fé, o amor e o que implica nas pessoas ao longo dos tempos", adianta a artista, que ali, no Centro Pastoral Paulo VI, prepara o seu papel com a mesma entrega com que deslumbrava no West End, em Londres. O auditório de Fátima tem capacidade para duas mil pessoas e o musical subirá ao palco por três vezes.
Nas últimas semanas Sofia Escobar percebeu que aquele é "um sítio onde se respira uma paz muito especial. Estamos a viver isto de uma forma muito intensa, o que traz muito ao espetáculo. Por isso, julgo que todos vão ficar surpreendidos, sejam crentes ou não".
Bruno Galvão secunda-a nessa expectativa, ele que sente "uma grande honra" por ter visto escolhida a sua Elenco para dar corpo a este musical. "Vê-se que é século XXI, que Fátima está com uma grande abertura, com vontade de chegar a novos públicos, com uma linguagem diferente. E o teatro musical chega a muitos públicos. Este musical não é só para crentes, é para todos", considera.
O padre Vítor Coutinho confirma essa intenção. "A nossa preocupação foi também que, no conjunto do programa do centenário, os diversos intervenientes pudessem ser de várias localidades do país e de vários contextos. Tínhamos boas referências desta companhia. O que pedimos aos artistas é que sejam bons, criativos, e que respeitem o rigor histórico de Fátima", sustenta o vice-reitor do Santuário, que depois de assistir aos ensaios encontrou "uma história muito pouco tradicional", "uma produção fantástica como se calhar Fátima nunca teve", como acrescenta Manuel Lourenço, diretor musical do Santuário. E mesmo sem analogias com a Senhora de Fátima, Sofia Escobar consegue tocar o divino, ao longo do espetáculo, como quando canta aquela Ave-Maria, de Artur Guimarães.
Entre o Céu e a Terra
Centro Pastoral Paulo VI, Fátima
Dia 13 para as escolas da cidade, dias 14 e 15, às 21.30
Gratuito (é necessário fazer a reserva antecipada junto do Santuário)