"Com uma orquestra em palco é sempre uma surpresa"

A cantora Stacey Kent está de regresso a Portugal para uma minidigressão nacional de quatro dias. Vai apresentar o álbum I Know I Dream e o primeiro concerto é hoje em Lisboa, no CCB.
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Apesar de contar com mais de duas décadas de carreira, foi a primeira vez que a cantora americana Stacey Kent gravou com uma orquestra, cumprindo assim "um sonho antigo", como revela na entrevista ao DN. Por cá, a cantora americana terá em palco a companhia da Orquestra Filarmonia das Beiras, com a qual irá interpretar não só os temas do novo disco, I Know I Dream, mas também outras canções, já tornadas em clássicos pela sua voz.

O título deste disco fala em sonhos, pode-se dizer que este disco é para si a concretização de um sonho?

Sim, totalmente. Eu adoro o título do disco por muitas razões, mas especialmente por ser também o nome de uma canção lindíssima, escrita de propósito para mim pelo meu marido, Jim, e por Cliff Goldmacher. É uma canção que fala de esperança, de uma forma um pouco melancólica, tal como eu sou e, portanto, tem tudo que ver comigo. É uma sensação inexplicável ter as pessoas, que melhor me conhecem e me amam, a fazer música para mim. Por outro lado, também queria muito usar a palavra sonho no título do disco, porque para mim, enquanto cantora, era o sonho total, poder gravar um álbum com uma orquestra. Continuo a ser a Stacey Kent, que canta e gosta de contar histórias através da música, mas fazê-lo com todas as cores e harmonias que uma orquestra nos possibilita é algo muito especial. Desde sempre soube que um dia faria um disco assim, só não sabia quando e como, era um sonho, lá está...

E como surgiu esta oportunidade?

Foi a editora Sony Music que me pediu. Foi um convite que surgiu na altura certa, porque não podia estar mais preparada. Aliás, há muito tempo que eu e o Jim falávamos sobre isto. Tínhamos muitas ideias por explorar sobre no-vos ritmos e uma longa lista de canções que gostaria de gravar com orquestra. A maior parte do trabalho estava feito.

Porque é que é tão especial para si cantar com uma orquestra?

Por causa da riqueza da harmonia e das imagens que se conseguem criar. É uma sensação quase cinemática, sinto-me como se estivesse dentro de um filme, quando canto com uma orquestra. Foi por isso que escolhi estas canções, porque têm um lado muito visual que é destacado pela orquestra.

E como foi trabalhar em estúdio com uma orquestra de 58 músicos?

Foi a mesma coisa de sempre, mas de uma forma completamente diferente (risos). Acima de tudo temos de estar muito concentrados, talvez até um bocadinho mais do que o habitual, porque há alguns arranjos em que o ritmo muda num momento específico e tenho de estar atenta para o acompanhar, para estarmos ambos, eu e a orquestra, no mesmo sítio. Por exemplo, há uma canção neste disco, The Changing Lights, que também costumo cantar com o meu quinteto. Quando estou com eles em palco, consigo contar a história já quase sem pensar nela, mas com a orquestra tenho de estar muito mais focada. Por outro lado, também não foi assim tão estranho, porque os arranjos foram feitos especialmente para mim, de modo a que possa contar as histórias a partir da harmonia sem perturbar tudo o resto. Num certo sentido, é exatamente a mesma coisa que sempre fiz com o meu quinteto, mas desta vez com 58 pessoas atrás de mim (risos).

E sente essa responsabilidade?

Sim, sobretudo uma responsabilidade muito grande, não só pelos músicos mas também para com a editora, que manifestou uma enorme confiança em mim. Quando me convidaram para fazer este disco nem pensei duas vezes, era um sonho antigo e respondi logo que sim. E quando lhes perguntei o que pretendiam, simplesmente responderam que queriam um disco da Stacey Kent. Ou seja, foi uma grande prova de confiança, que me obrigava a fazer tudo bem, por mim e por eles.

Qual foi o critério de escolha para o repertório deste disco?

Ficou logo definido que metade do disco seria composto por versões e a outra metade por temas compostos para mim. A partir daí foi só recorrer à tal lista de canções que um dia gostaria de cantar com uma orquestra. Por exemplo, Double Rainbow e as versões de Avec les Temps, de Leo Ferré, ou Para Dizer Adeus, de Edu Lobo: Apesar de já as ter tocado ao vivo, nunca antes tinham sido gravadas, porque estavam reservadas para este momento. E depois há temas como The Changing Lights, que o Jim escreveu para mim e gravei em 2013, para o álbum com o mesmo nome. Logo na altura comentei que, um dia, não sabia quando, tinha de a gravar novamente com uma orquestra. Cada canção tem a sua história e por isso fiquei tão feliz quando a editora me deu liberdade total para escolher o repertório para o disco, porque assim tive oportunidade de explorar vários ritmos e emoções.

E estes espetáculos em Portugal também são com uma orquestra...

Sim, mas o melhor é que não vamos apenas tocar os temas deste disco, mas acrescentar outras canções. É um espetáculo muito maleável, que pode ser levado por diferentes caminhos e conseguir ter essa liberdade. Com uma orquestra em palco é sempre uma surpresa para mim e para o público e torna este concerto muito interessante.

Como é que a Stacey Kent de há 20 anos, quando começou a cantar nos bares de Londres, olharia para esta artista de agora, com milhões de discos vendidos e nomeada para um Grammy?

Nunca penso muito em termos de passado ou de futuro, mas a verdade é que cantar é como estar numa constante terapia, porque estamos sempre a interpretar-nos a nós próprios, o que também nos pode enlouquecer (risos). O que posso dizer é que a minha sensibilidade não mudou nada. Sou exatamente a mesma miúda que aprendeu a gostar de música a ouvir o piano da minha mãe. O que me atraiu então para a música é o mesmo que me atrai hoje, a simplicidade e a sensibilidade.

Stacey Kent Symphonic

Centro Cultural de Belém, hoje, 21.00 €20 a €40

Coliseu do Porto. Amanhã, 21.30. €15 a €28

Centro de Artes e Espetáculos da Figueira da Foz. Sexta, 21.30. €25 a €27,5

Teatro Aveirense, Aveiro. Sábado, 21.30. €17,5 a €20

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