As críticas iniciais que se ouviram em Wuhan, por causa da forma como o governo chinês estava a lidar com o coronavírus e da censura aos médicos que o denunciavam, foram perdendo força à medida que o covid-19 se espalhava pelo mundo. Os 4600 mortos chineses foram então colocados em perspetiva face aos mais de 90 mil nos EUA, numa mensagem amplamente difundida pela propaganda chinesa..Em Washington, o presidente norte-americano, Donald Trump, pode ter tornado a China de Xi Jinping no alvo dos seus ataques tendo em vista as presidenciais de novembro. Mas em Pequim, onde esta sexta-feira começa a reunião do Congresso Nacional do Povo -- estava prevista para março mas foi adiado por causa do covid-19 -- esta deve ser uma ocasião para o presidente chinês reforçar a sua liderança.."Esta é uma ocasião para reafirmar claramente que a China está de volta ao normal e que o partido único e Xi Jinping estão no controlo", disse o diretor do Instituto da China na Escola de Estudos Orientais e Africanos de Londres, Steve Tsang, ao The Washington Post. " Vão dizer que se a China não tivesse Xi Jinping e o Partido Comunista, a China estaria como os EUA ou o Reino unido, por isso todos os chineses deviam estar muito gratos ao partido e à liderança de Xi Jinping por ter guiado a China através disto", acrescentou.."Só na China e só sob a liderança do presidente Xi podiam ser tomadas medidas tão efetivas para controlar esta epidemia tão repentina e que se espalha tão rapidamente", disse ainda em fevereiro o chefe da diplomacia de Pequim, Wang Yi, numa entrevista à Reuters..Elogios que se espera sejam repetidos até à exaustão pelos membros do Partido Comunista durante o Congresso Nacional do Povo, que decorre em paralelo com a Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC), que começou esta quinta-feira e a contrário do congresso não tem poderes legislativos. Os encontros são conhecidos em conjunto com as "duas sessões"..Desafios de Xi Jinping.Xi Jinping, o mais poderoso líder chinês desde Mao Tsé-Tung, espera que o Congresso sirva para mostrar que tudo está bem na China, mas enfrenta vários desafios. Em primeiro lugar, apesar de parecer controlado, o coronavírus ainda não está. Depois, os problemas que a pandemia causou para a economia..A nível internacional, o desafio é a tensão com os EUA -- que já vinha de antes por causa da guerra comercial, mas que o coronavírus intensificou. Outros países juntaram-se às críticas de Washington e pedem uma investigação independente à resposta inicial de Pequim ao covid-19..Na quarta-feira, no Twitter, Trump acusou a "incompetência da China" de ser responsável pelo "massacre mundial" de pessoas. O porta-voz da diplomacia chinesa, Zhao Lijian, respondeu em Pequim: "Nós persistimos em falar a verdade, a apresentar a verdade e a falar com razão, fazendo o possível para proteger as vidas e a saúde das pessoas..Trump respondeu novamente no Twitter, em duas mensagens: "O porta-voz fala estupidamente em nome da China, tentando desesperadamente desviar a dor e a carnificina que o seu país espalhou por todo o mundo. É desinformação e um ataque de propaganda aos EUA e à Europa e é uma desgraça... E vem tudo do topo. Podiam ter facilmente travado a praga, mas não o fizeram.".Outro desafio é antigo, mas está a ganhar força. Do outro lado do estreito de Taiwan, a presidente Tsai Ing-wen acaba de tomar posse para mais um mandato, tendo a ilha sido elogiada pela forma como conteve o coronavírus. A mensagem do chefe da diplomacia norte-americana, Mike Pompeo, a louvar a "coragem e visão" de Tsai, também não caiu bem em Pequim, que defende a reunificação. Há ainda a notícia da venda de torpedos, no valor de 180 milhões de dólares, dos EUA a Taiwan..Também em Hong Kong, e depois da pandemia, os protestos contra a soberania chinesa já voltaram às ruas..Objetivos económicos em dúvida.O Congresso Nacional do Povo reúne cerca de três mil delegados e no primeiro dia é esperado o discurso do primeiro-ministro, Li Keqiang, que deverá anunciar os objetivos económicos anuais. Os especialistas vão estar especialmente atentos às previsões para o crescimento do Produto Interno Bruto para 2020, depois de o coronavírus ter provocado uma contração no primeiro trimestre do ano pela primeira vez em décadas..No ano passado, o objetivo foi de um crescimento de 6 a 6,5% do PIB, tendo a economia no início deste ano contraído 6,8%. O Fundo Monetário Internacional estima um crescimento de apenas 1,2% em 2020. Mas estabelecer esse valor seria admitir uma derrota, já que a China prometeu duplicar a sua economia em relação aos números de 2010 até ao final do ano, pelo que há especialistas que dizem que pode não apresentar uma previsão..Li deve ainda anunciar novas medidas para estimular a economia, aliviar a pobreza e criar emprego, depois da pior crise sanitária desde a criação da República Popular da China, em 1949. Os delegados devem discutir ao longo dos dias do encontro medidas para conter novos surtos e a temida segunda onda da pandemia..Depois de o epicentro em Wuhan, onde foi detetado pela primeira vez o novo coronavírus, a China olha agora com atenção para as regiões de Jilin e Heilongjiang, que registaram dezenas de novos casos nas últimas semanas, com especial impacto em Shulan (na província de Jilin), onde foram reintroduzidas medidas de confinamento e onde quem vem da vizinha Rússia tem que realizar testes..Num evento pensado até ao último segundo, os ministros vão ainda revelar o orçamento de defesa e outras prioridades estratégicas no pós-covid-19 que permitem vislumbrar o que pensam os líderes do Partido Comunista..Os delegados devem ainda discutir uma proposta de uma nova lei de segurança em Hong Kong, com o reforço dos mecanismos de aplicação da lei, que ameaça incendiar ainda mais os protestos na região onde vigora a política de "um país, dois sistemas"..Também o primeiro código civil chinês está na agenda. Este inclui medidas gerais e seis partes distintas sobre propriedade (com o reforço dos direitos da propriedade privada), contratos, direitos de personalidade (será mais fácil apresentar queixa por assédio sexual), casamento e família (será mais fácil pedir o divórcio), assim como heranças e responsabilidade civil. É uma tentativa de Xi Jinping para reformar o sistema legal, que já começou em 2014..Três mil delegados.No Congresso Nacional do Povo sentam-se cerca de três mil delegados (o auditório do Grande Salão do Povo, em Pequim, tem espaço para dez mil pessoas), que representam as 31 províncias, municípios e regiões autónomas chinesas..Estão ainda representados os territórios de administração especial de Hong Kong e Macau e os militares. Taiwan, que a China reclama como sua, também é representada por dissidentes e os seus descendentes, que não são contudo eleitos pelos habitantes da ilha..As votações passam normalmente com largas maiorias, apesar de em várias ocasiões delegados terem escapado ao guião para denunciar a corrupção ou o aumento do crime. Este ano, algumas sessões serão por videoconferência, havendo quem defenda que isso poderá também evitar críticas dos quadros mais baixos do partido..Os delegados têm todos que usar máscara durante os encontros, tendo tido que realizar testes ao coronavírus e passado por uma quarentena..O tiro de partida.Esta quinta-feira, na véspera da reunião do Congresso Nacional do Povo, esteve reunida a Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC, um órgão consultivo maioritariamente cerimonial). Este reúne cerca de dois mil empresários, artistas, monges, não-comunistas e outros membros da sociedade e não tem poder legislativo..O encontro começou com o cantar do hino chinês, seguido de um minuto de silêncio em homenagem às mais de 4600 vítimas mortais do coronavírus no país..O presidente Xi Jinping e os restantes membros do Politburo (o órgão de liderança do Partido Comunista da China, com 25 elementos) estavam no meio do palco, sendo os únicos a não usar máscaras..Inicialmente previstas para março, as reuniões do CCPPC e do Congresso Nacional do Povo foram adiadas por causa da pandemia e vão realizar-se agora ao longo de sete dias (em vez dos habituais dez), segundo os media chineses..No último dia, é esperado o discurso do próprio presidente.
As críticas iniciais que se ouviram em Wuhan, por causa da forma como o governo chinês estava a lidar com o coronavírus e da censura aos médicos que o denunciavam, foram perdendo força à medida que o covid-19 se espalhava pelo mundo. Os 4600 mortos chineses foram então colocados em perspetiva face aos mais de 90 mil nos EUA, numa mensagem amplamente difundida pela propaganda chinesa..Em Washington, o presidente norte-americano, Donald Trump, pode ter tornado a China de Xi Jinping no alvo dos seus ataques tendo em vista as presidenciais de novembro. Mas em Pequim, onde esta sexta-feira começa a reunião do Congresso Nacional do Povo -- estava prevista para março mas foi adiado por causa do covid-19 -- esta deve ser uma ocasião para o presidente chinês reforçar a sua liderança.."Esta é uma ocasião para reafirmar claramente que a China está de volta ao normal e que o partido único e Xi Jinping estão no controlo", disse o diretor do Instituto da China na Escola de Estudos Orientais e Africanos de Londres, Steve Tsang, ao The Washington Post. " Vão dizer que se a China não tivesse Xi Jinping e o Partido Comunista, a China estaria como os EUA ou o Reino unido, por isso todos os chineses deviam estar muito gratos ao partido e à liderança de Xi Jinping por ter guiado a China através disto", acrescentou.."Só na China e só sob a liderança do presidente Xi podiam ser tomadas medidas tão efetivas para controlar esta epidemia tão repentina e que se espalha tão rapidamente", disse ainda em fevereiro o chefe da diplomacia de Pequim, Wang Yi, numa entrevista à Reuters..Elogios que se espera sejam repetidos até à exaustão pelos membros do Partido Comunista durante o Congresso Nacional do Povo, que decorre em paralelo com a Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC), que começou esta quinta-feira e a contrário do congresso não tem poderes legislativos. Os encontros são conhecidos em conjunto com as "duas sessões"..Desafios de Xi Jinping.Xi Jinping, o mais poderoso líder chinês desde Mao Tsé-Tung, espera que o Congresso sirva para mostrar que tudo está bem na China, mas enfrenta vários desafios. Em primeiro lugar, apesar de parecer controlado, o coronavírus ainda não está. Depois, os problemas que a pandemia causou para a economia..A nível internacional, o desafio é a tensão com os EUA -- que já vinha de antes por causa da guerra comercial, mas que o coronavírus intensificou. Outros países juntaram-se às críticas de Washington e pedem uma investigação independente à resposta inicial de Pequim ao covid-19..Na quarta-feira, no Twitter, Trump acusou a "incompetência da China" de ser responsável pelo "massacre mundial" de pessoas. O porta-voz da diplomacia chinesa, Zhao Lijian, respondeu em Pequim: "Nós persistimos em falar a verdade, a apresentar a verdade e a falar com razão, fazendo o possível para proteger as vidas e a saúde das pessoas..Trump respondeu novamente no Twitter, em duas mensagens: "O porta-voz fala estupidamente em nome da China, tentando desesperadamente desviar a dor e a carnificina que o seu país espalhou por todo o mundo. É desinformação e um ataque de propaganda aos EUA e à Europa e é uma desgraça... E vem tudo do topo. Podiam ter facilmente travado a praga, mas não o fizeram.".Outro desafio é antigo, mas está a ganhar força. Do outro lado do estreito de Taiwan, a presidente Tsai Ing-wen acaba de tomar posse para mais um mandato, tendo a ilha sido elogiada pela forma como conteve o coronavírus. A mensagem do chefe da diplomacia norte-americana, Mike Pompeo, a louvar a "coragem e visão" de Tsai, também não caiu bem em Pequim, que defende a reunificação. Há ainda a notícia da venda de torpedos, no valor de 180 milhões de dólares, dos EUA a Taiwan..Também em Hong Kong, e depois da pandemia, os protestos contra a soberania chinesa já voltaram às ruas..Objetivos económicos em dúvida.O Congresso Nacional do Povo reúne cerca de três mil delegados e no primeiro dia é esperado o discurso do primeiro-ministro, Li Keqiang, que deverá anunciar os objetivos económicos anuais. Os especialistas vão estar especialmente atentos às previsões para o crescimento do Produto Interno Bruto para 2020, depois de o coronavírus ter provocado uma contração no primeiro trimestre do ano pela primeira vez em décadas..No ano passado, o objetivo foi de um crescimento de 6 a 6,5% do PIB, tendo a economia no início deste ano contraído 6,8%. O Fundo Monetário Internacional estima um crescimento de apenas 1,2% em 2020. Mas estabelecer esse valor seria admitir uma derrota, já que a China prometeu duplicar a sua economia em relação aos números de 2010 até ao final do ano, pelo que há especialistas que dizem que pode não apresentar uma previsão..Li deve ainda anunciar novas medidas para estimular a economia, aliviar a pobreza e criar emprego, depois da pior crise sanitária desde a criação da República Popular da China, em 1949. Os delegados devem discutir ao longo dos dias do encontro medidas para conter novos surtos e a temida segunda onda da pandemia..Depois de o epicentro em Wuhan, onde foi detetado pela primeira vez o novo coronavírus, a China olha agora com atenção para as regiões de Jilin e Heilongjiang, que registaram dezenas de novos casos nas últimas semanas, com especial impacto em Shulan (na província de Jilin), onde foram reintroduzidas medidas de confinamento e onde quem vem da vizinha Rússia tem que realizar testes..Num evento pensado até ao último segundo, os ministros vão ainda revelar o orçamento de defesa e outras prioridades estratégicas no pós-covid-19 que permitem vislumbrar o que pensam os líderes do Partido Comunista..Os delegados devem ainda discutir uma proposta de uma nova lei de segurança em Hong Kong, com o reforço dos mecanismos de aplicação da lei, que ameaça incendiar ainda mais os protestos na região onde vigora a política de "um país, dois sistemas"..Também o primeiro código civil chinês está na agenda. Este inclui medidas gerais e seis partes distintas sobre propriedade (com o reforço dos direitos da propriedade privada), contratos, direitos de personalidade (será mais fácil apresentar queixa por assédio sexual), casamento e família (será mais fácil pedir o divórcio), assim como heranças e responsabilidade civil. É uma tentativa de Xi Jinping para reformar o sistema legal, que já começou em 2014..Três mil delegados.No Congresso Nacional do Povo sentam-se cerca de três mil delegados (o auditório do Grande Salão do Povo, em Pequim, tem espaço para dez mil pessoas), que representam as 31 províncias, municípios e regiões autónomas chinesas..Estão ainda representados os territórios de administração especial de Hong Kong e Macau e os militares. Taiwan, que a China reclama como sua, também é representada por dissidentes e os seus descendentes, que não são contudo eleitos pelos habitantes da ilha..As votações passam normalmente com largas maiorias, apesar de em várias ocasiões delegados terem escapado ao guião para denunciar a corrupção ou o aumento do crime. Este ano, algumas sessões serão por videoconferência, havendo quem defenda que isso poderá também evitar críticas dos quadros mais baixos do partido..Os delegados têm todos que usar máscara durante os encontros, tendo tido que realizar testes ao coronavírus e passado por uma quarentena..O tiro de partida.Esta quinta-feira, na véspera da reunião do Congresso Nacional do Povo, esteve reunida a Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC, um órgão consultivo maioritariamente cerimonial). Este reúne cerca de dois mil empresários, artistas, monges, não-comunistas e outros membros da sociedade e não tem poder legislativo..O encontro começou com o cantar do hino chinês, seguido de um minuto de silêncio em homenagem às mais de 4600 vítimas mortais do coronavírus no país..O presidente Xi Jinping e os restantes membros do Politburo (o órgão de liderança do Partido Comunista da China, com 25 elementos) estavam no meio do palco, sendo os únicos a não usar máscaras..Inicialmente previstas para março, as reuniões do CCPPC e do Congresso Nacional do Povo foram adiadas por causa da pandemia e vão realizar-se agora ao longo de sete dias (em vez dos habituais dez), segundo os media chineses..No último dia, é esperado o discurso do próprio presidente.