Xanana esbofeteia pessoas em luto por morte de vítima de covid-19. Gesto de "carinho"
O CNRT, partido de Xanana Gusmão, defendeu esta quarta-feira o que considerou ser a ação "corajosa e humanista" do líder que está desde segunda-feira em protesto relativamente ao funeral de um homem que morreu com covid-19. O líder histórico foi filmado a esbofetear pelo menos duas pessoas, incluindo familiares da vítima. Foi um gesto de "carinho", explica o partido.
"É um ato de humanismo e de coragem iniciado individualmente. Ele não quer politizar isto e não quer politizar e envolver o partido, mas está preocupado com o facto de o Governo não responder positivamente às suas preocupações", afirmou à Lusa Dionisio Babo, presidente da Comissão Diretiva Nacional do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT).
"Ele não está contra o Governo e está preparado para trabalhar com o Estado e com o Centro Integrado de Gestão de Crise (CIGC) para ajudar a combater esse vírus", vincou Babo.
Dionísio Babo falava à Lusa depois de uma declaração que proferiu na sede do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT) em Díli de "apoio à ação corajosa e humanista" de Xanana Gusmão "em defesa dos direitos da população" e para "procurar corrigir várias irregularidades" na forma como o Governo tem lidado com a pandemia.
A declaração do CNRT refere-se à ação de protesto que Xanana Gusmão está a levar a cabo desde segunda-feira em frente do centro de isolamento de Vera Cruz, em Díli, onde está o corpo de um homem que morreu com covid-19 e que a família quer reaver para os rituais fúnebres.
Xanana Gusmão pretende que o corpo seja entregue à família "para um enterro digno, respeitando a cultura, os costumes e os valores religiosos e culturais timorenses", atuando "dentro dos parâmetros recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS)".
O CNRT considera que Xanana Gusmão quer apenas que se cumpram as recomendações da própria OMS de que os atos fúnebres devem "significar e respeitar as pessoas, a cultura, os costumes e os valores tradicionais".
"O CNRT apela ao Governo para que coopere com a ação de Xanana Gusmão, procurando uma solução para o problema que respeite a dignidade humana e a cultura timorense", explicou Babo.
Em nome do partido, Babo, disse que Xanana Gusmão se juntou ao combate à covid-19 logo no inicio da pandemia, em 2020, levando a cabo "campanhas de sensibilização da população" em todo o país.
Considerando que o líder do partido "valoriza e respeita" as equipas de saúde e todos os envolvidos no combate à pandemia, Babo disse que Xanana Gusmão mobilizou apoio internacional para conseguir equipamento de proteção pessoal e esteve envolvido na preparação do primeiro centro de quarentena, em Tasi Tolu.
Essas irregularidades, explica, incluindo a decisão de tratamento do homem que morreu na segunda-feira, levaram Xanana Gusmão "a fazer a ação de segunda-feira".
Entre as muitas irregularidades o CNRT destaca o facto do Estado ter aplicado repetidamente o estado de emergência sem que tenha aplicado as medidas preventivas "de forma séria e rigorosa" para proteger a população.
"O Governo colocou pessoas infetadas em quarentena ou isolamento, mas não aplicou medidas rigorosas para proteger os pacientes e a saúde, não preparou medicamentos adequados e não manteve o distanciamento social", referiu Babo.
O CNRT acusa ainda o Governo de ter dado "tratamento especial" a algumas pessoas, numa referência ao caso de José Naimori, líder do Kmanek Haburas Unidade Nacional Timor Oan (KHUNTO), um dos partidos do Governo, que ficou infetado e pôde cumprir o isolamento em casa.
"Todas essas irregularidades obrigaram Xanana Gusmão a tomar a ação de 12 de abril, depois de familiares da vítima terem ido de madrugada a sua casa e explicar que o senhor era doente crónico, mas que estava a ser tratado como paciente covid-19", sublinhou.
Questionado sobre alguma contradição entre as declarações de Xanana Gusmão de que apoia o combate à covid-19, mas depois aparece regularmente sem máscara e em grandes grupos, Babo disse que o lide timorense "está ciente disso".
Questionado sobre o facto de se terem registado imagens que mostram Xanana Gusmão a esbofetear pelo menos duas pessoas, incluindo familiares da vítima, na segunda-feira, Babo disse que "não foi uma agressão física" mas um gesto "amigável".
"Não foi agressão física. Quando Xanana se encontra com as pessoas pelas ruas, ele gosta de tocar as pessoas como um pai, de forma muito amigável e intimo para mostrar o que pretende dizer às vezes", disse.
"Foi um gesto e não foi um ato de violação. Essas imagens foram mal interpretadas como se fosse violento, mas foi simplesmente um gesto que sempre fez com toda a gente, especialmente pessoas que estão próximas", afirmou.
Babo insistiu que se tratou de um gesto "de pai" e com "carinho".
O protesto de Xanana Gusmão mantém-se desde a manhã de segunda-feira sem que haja ainda uma decisão final das autoridades timorenses para resolver o impasse.