O World Bike Tour Lisboa 2020 teve o OK da Direção Geral da Saúde para ir para a estrada no dia 4 de outubro com 2000 participantes, em pleno estado de contingência devido à pandemia de covid-19. A autoridade de Saúde é mesmo um dos parceiros do evento, através do Programa Nacional para a Promoção da Atividade Física (FNPAF). "O World Bike Tour Lisboa 2020 tem o apoio da DGS através do Programa Nacional para a Promoção da Atividade Física", podia ler-se no site do evento durante o fim de semana. Uma mensagem que foi entretanto mudado para: "O uso da bicicleta é recomendado em fase pandémica pela OMS e apoiado pelo PNPAF da DGS"..Um argumento também usado por um dos organizadores. "Até a Organização Mundial de Saúde recomenda a bicicleta para a prática desportiva, porque promove o distanciamento físico", disse ao DN Luís Castro da Happiness Condition, que organiza o evento, que tem como objetivo, a prática desportiva saudável, promovendo ainda a mobilidade das cidades e a sustentabilidade..Daí o apoio do programa para a atividade física da autoridade de saúde pública. "A DGS entregou um parecer favorável à realização do evento. O PNPAF apoia os eventos que visam promover a prática de atividade física, desde que cumpram as regras de higiene e segurança preconizadas nas orientações e normas da DGS", justificou o organismo liderado por Graça Freitas ao DN..Certo é que a realização do evento está a causar estranheza e mesmo revolta em algumas empresas de eventos que têm visto algumas iniciativas recusadas pela DGS e por algumas instituições desportivas, que têm criticado a forma como a DGS tem lidado com o Desporto, que continua sem poder ter público nos eventos. Mas Luís Castro preferia que olhassem para o WBT como um exemplo que pode e deve ser seguido: "Eu gostava que o evento fosse visto como um exemplo a seguir. É possível organizar eventos com pessoas sem comprometer a sua segurança e saúde.".O co-organizador da prova de ciclismo onde os concorrentes pagam até 130 euros para percorrer 10 km entre a Avenida da Liberdade e o Parque das Nações e até podem levar a bicicleta para casa ou doá-la, explicou ao DN, que apesar do plano contemplar duas mil pessoas (participantes, equipas técnicas de apoio, pessoal da organização e restantes intervenientes) só vão estar cerca de 1700. Menos de metade dos presentes no último evento do género, no verão de 2019, que teve mais de quatro mil participantes..A prova vai acontecer um dia antes da Volta a Portugal chegar a Lisboa (5 de outubro), com um pelotão de apenas 97 ciclistas. A Federação Portuguesa de Ciclismo explicou ao DN que se trata de um passeio e não de uma competição desportiva, e como tal, não era necessário o parecer da federação, tendo a organização do evento tratado diretamente com a DGS..A autoridade de saúde nacional deu Ok e associou-se ao evento em pleno estado de contingência (proíbe ajuntamentos de mais de 10 pessoas entre outras restrições à mobilidade), exigindo, no entanto, medidas para "minimizar o risco de transmissão da infeção por SARS-CoV-2 entre os participantes, assim como proteger a Saúde Pública". Além das regras sanitárias básicas, como o uso de máscara fora da prova, a medição da temperatura a todos os participantes, a desinfeção das mãos e das bicicletas, o plano obriga ainda a um distanciamento entre participantes de 3 metros, que a organização decidiu estender para quatro metros..Esta medida obrigará a partidas diferenciadas - saem quatro participantes a cada 30 segundos - e com hora marcada, sob risco de desqualificação imediata. "Das 11.33 até às 16.30, haverá um total de quinhentas partidas, salvaguardando os procedimentos acima descritos. Os ciclistas farão o percurso de dez quilómetros, completamente fechado ao trânsito, até à zona de chegada no Parque das Nações. Haverá cinco pontos de controlo de distanciamento ao longo do percurso", segundo informou a organização. E Luís Castro acrescenta que foi feito "um investimento brutal em segurança" para que, mesmo a contar com alguns indisciplinados, "não haja ajuntamentos"..A DGS pede ainda que sejam instalados "sistemas de recolha de dados, nomeadamente a identificação e os contactos, sob consentimento expresso, garantindo a privacidade de cada pessoa e demais legislação aplicável, para eventual investigação epidemiológica". E ainda "o preenchimento de um questionário para recolha de informação sobre sintomas compatíveis com covid-19, bem como sobre contactos com casos confirmados e/ou suspeitos nos 14 dias anteriores. ".O questionário é aplicado antes de entrar no recinto do evento pela primeira vez e conta com o apoio médico da Cruz Vermelha, que além de ter sete ambulâncias espalhadas pelo percurso, para apoio rápido e célere, tem ainda uma sala covid (caso haja algum caso suspeito na prova). "Qualquer pessoa que durante o evento apresente sintomas sugestivos de covid-19 será isolada e encaminhada, de acordo com o Plano de Contingência", explicou Luís Castro..Plano esse que contempla ainda a colaboração do Exército Português, na desinfeção da Avenida da Liberdade, na desinfeção das bicicletas após serem colocadas na Avenida da Liberdade e na desinfeção das portas e locais destinados às filas de acesso..Mas nem só de limpeza se faz a participação do Exército. Uma equipa de quatro comandos vai participar na prova e levar depois algumas bicicletas doadas para a República Centro Africana, para onde partirá uma missão portuguesa em breve. A organização faz questão de mencionar o lado inclusivo do evento, nomeadamente para pessoas com deficiência. Nesse sentido foi decidido oferecer uma bicicleta adaptada a Alui Camará, o militar português que perdeu as pernas durante a missão na RCA.