Depois de derrotar inapelavelmente nas urnas o presidente em exercício Petro Porochenko, alcançando 73% dos votos, o ator e comediante Volodymyr Zelenskiy continua a reunir improváveis consensos. Desta vez, motivando reações de agrado e até de algum otimismo vindas quer das autoridades russas quer da oposição daquele país..Zelenskiy, que, no seu discurso de vitória, prometeu retomar o processo de paz no leste do país, onde os confrontos entre forças governamentais e separatistas pró-russas causaram mais de 14 mil mortos em menos de cinco anos, tem defendido a linha do diálogo - interno e com Moscovo - para pôr fim ao conflito. .Mais concretamente, prometeu: "Vamos avançar com o processo de Minsk, vamos relançá-lo", referindo-se aos acordos de paz assinados em fevereiro de 2015 que envolveram, além das autoridades russas e ucranianas, a intervenção da França e da Alemanha..E esse facto - ainda que se trate de um líder sem experiência política que, curiosamente, se celebrizou na televisão no papel de um homem que chega a presidente... sem qualquer experiência - está a contribuir para um moderado otimismo na Rússia. Quanto mais não seja porque asua eleição representa a derrota de um presidente pró-ocidental e que sempre se apresentou como alguém capaz de fazer frente às autoridades de Moscovo..Oficialmente, a reação russa foi cautelosa. "Em relação às eleições na Ucrânia, de momento é muito cedo para colocar a possibilidade de um trabalho em comum. Apenas será possível determiná-lo com casos específicos", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov. "Moscovo respeita a escolha do povo ucraniano, e em particular quando essa escolha é muito clara", acrescentou, não sem criticar o facto de "três milhões de cidadãos ucranianos residentes na Rússia não serem contemplados com a possibilidade de votar"..Já o primeiro-ministro russo Dmitri Medvedev, reagindo através do Facebook, reconheceu existir "uma oportunidade para melhorar a cooperação com o nosso país", mas acrescentou logo "não ter ilusões" de que Zelenskiy continuará a utilizar em relação à Rússia "a retórica" a que recorreu durante a campanha eleitoral, a qual incluiu definir Vladimir Putin como "um inimigo" e a Rússia como "país agressor"..Nas vias informais, no entanto, a satisfação russa foi expressa de forma bastante mais clara. Sobretudo com a derrota eleitoral de Porochenko. "O seu mandato termina sem glória", sentenciou na televisão o jornalista e comentador Dmitry Kiselyov, próximo do Kremlin. "Sob a sua presidência, a Ucrânia degradou-se económica, ecológica, demográfica e culturalmente", acrescentou o comentador, que não deixou de defender que a Rússia não tem motivos para apoiar Zelenskiy..Mas o próprio Porochenko fez questão de dar conta da satisfação russa com a eleição de Zelenskiy, antecipando que Moscovo estará a contar com a inexperiência do novo presidente da Ucrânia para "rapidamente" devolver o país à sua "esfera de influência". .Já entre a oposição russa, noticiou o jornal independente The Moscow Times , a escolha de Zelenskiy constituiu um momento de esperança" tendo em vista as eleições presidenciais de 2024, em que tentarão destronar Vladimir Putin. .Pelo menos, defendeu também através do Twitter Alexei Navalny, candidato oposicionista que foi impedido de participar nas eleições presidenciais do ano passado, a Ucrânia "teve eleições justas - uma coisa rara nos territórios da antiga União Soviética".. A tomada de posse de Volodymyr Zelenskiy terá lugar no início do mês de junho.