Violência em Paris. O campeão de boxe que encostou a polícia às cordas (com vídeo)
Um pugilista que agrediu um polícia transformou-se numa das figuras dos protestos deste sábado dos "coletes amarelos" em Paris. As imagens de um homem de gorro e casaco preto, sem colete, que salta para a ponte Leopold-Sédar-Senghor e à força de socos faz recuar a polícia de intervenção tornaram-se virais em França. Para alguns manifestantes, será uma espécie de herói, mas para muitos outros, incluindo o governo francês, é o símbolo da violência contra a autoridade do Estado, daí que tenha sido dada prioridade à sua identificação. O Sindicato dos Comissários da Polícia Nacional (SCPN) revelou ao final da noite deste sábado que o agressor do polícia é um boxeur profissional, que foi várias vezes campeão francês na categoria de peso-médio.
Num tweet publicado pouco antes da meia-noite de sábado, o SCPN dirigiu-se diretamente ao manifestante - sem nunca referir o seu nome -, para o informar que já tinha sido identificado. Uma mensagem acompanhada por uma fotografia de um combate de boxe do suposto agressor dos polícias. "Para um boxeur, aparentemente não respeita muito as regras. Nós vamos ensinar-lhe as do código penal", afirmaram os polícias, para pouco depois concretizarem o aviso. Em novo tweet, publicado já ao início da madrugada, o mesmo sindicato avisou o atacante que a sua carreira no boxe terminou - "não tem os valores necessários" - e que será responsabilizado pelos seus atos.
Mensagens comentadas pelo próprio ministro do Interior francês, Christophe Castaner, que partilhou o primeiro tweet do SCPN sobre o caso e agradeceu à polícia o "seu sangue frio exemplar". "Temos plena confiança na nossa justiça, à qual será levado o responsável por este ataque tão covarde, quanto intolerável". Ainda no Twitter, Castaner aproveitou para responder ao líder do movimento França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, que criticou o governo ao questionar se foi "um poder republicano" que deu ordens para avançar para uma batalha corpo-a-corpo na ponte que fica junto à Assembleia Nacional. "Você vê um corpo a corpo. Eu vejo a frieza e o profissionalismo exemplar de mulheres e homens que foram alvo de um ataque ultrajante. Um poder republicano defende a honra das suas forças policiais. Não fica fascinado com os seus agressores", contra-atacou o ministro do Interior.
O denominado VIII ato dos "coletes amarelos", em França, contou com 50 mil participantes, passando este sábado a deter o recorde de manifestantes, que têm exigido alterações nas políticas e causado inúmeros distúrbios, incluindo em Paris. O 'pico' dos protestos tinha sido registado no sábado passado, com 32 mil pessoas, segundo os números oficiais do ministério francês do Interior, que desdramatizou os dados. "Cinquenta mil são um pouco mais do que uma pessoa por comuna em França. Essa é a realidade do movimento dos "coletes amarelos" hoje. Pode-se ver que não é um movimento representativo em França", disse Christophe Castaner.
O porta-voz do Governo francês, Benjamin Griveaux, teve de ser retirado do seu gabinete, em Paris, depois de uma violenta entrada com uma retroescavadora no edifício localizado na rua de Grenelle. A autarquia de Paris referiu que um total de 101 pessoas foram detidas em Paris e 103 interrogadas pela polícia. O presidente francês, Emmanuel Mácron, garantiu que a "justiça será feita" face à "extrema violência" contra a República num sábado que registou, em todo o país, o número recorde de 50 mil "coletes amarelos".