Villas-Boas pede investigação a "agressões e intimidações múltiplas de uma guarda pretoriana" a sócios do FC Porto
André Villas-Boas lamentou esta terça-feira "as agressões" por parte de uma "guarda pretoriana" a um adepto do FC Porto durante a Assembleia Geral (AG) do FC Porto, na noite de segunda-feira. "Estou invadido ainda pelas emoções, vou tentar responder com a seriedade associada ao FC Porto. O que se passou ontem foi absolutamente lamentável e uma derrota interna para os órgãos sociais do FC Porto, que assistiram impávidos e serenos a agressões e intimidações múltiplas de uma guarda pretoriana aos associados do FC Porto", disse aos jornalistas à margem da Web Summit.
"As imagens que nós vimos ontem, de um miúdo com 19 anos, ao qual provavelmente é tirado o direito de voto, em choro e envergonhado com o seu clube, é o reflexo da situação que estamos a viver. Estamos reféns de uma guarda pretoriana que persiste em intimidar alguns sócios do FC Porto, que demonstram querer, em sua vontade, exercer o seu direito de voto, de se expressarem e de serem livres. Isto, no fundo, tem de terminar. Há uma reflexão profunda a ser feita do ponto de vista logística, da credenciação. Há também uma reflexão que o próprio Conselho Superior deve fazer, porque ontem também ficou evidente que a maior parte dos membros efetivos do Conselho Superior, dos quais algumas ilustres figuras públicas e políticas, não está presente", atirou.
O antigo treinador, que liderou os dragões na conquista da Liga Europa em 2011, questionou a passividade dos órgãos sociais do clube, que assistiram a tudo "impávidos e serenos": "Peço sinceramente às autoridades, ao Ministério Público, ao Ministério da Administração Interna, ao IPDJ, ao Secretário de Estado do Desporto, que peça com urgência [as filmagens] das câmaras da vigilância do Estádio do Dragão, do Dragão Arena, e proceda a uma investigação das agressões e dos atos bárbaros que se passaram ontem à noite."
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E foi ao pormenor de descrever algumas das possíveis irregularidades. "Desde credenciais passadas que não deviam ser passadas a não sócios do FC Porto, a uma total desorganização logística, que foi claramente evidente na passagem de uma sala que não tinha condições para receber todos os associados do FC Porto, para o Dragão Arena... É o reflexo de uma decisão que provavelmente o presidente da Mesa da Assembleia Geral [tomou], e que não tinha noção da quantidade de sócios e associados que íamos ter. Os associados ontem uniram-se em massa porque querem expressar os seus sentimentos, e foi-lhes impedido esse direito, de se expressarem livremente e em segurança", criticou.
Villas-Boas já não assistiu aos confrontos. Decidiu abandonar a reunião magna quando percebeu que não havia condições para a realização da mesma. "A partir do momento em que uma AG está marcada para uma sala que leva 300 pessoas e estão lá quatro mil, a fazerem fila cá fora para tentarem entrar, e de repente mudamos para o Dragão Arena, como é que se quer que se faça a contagem daqueles sócios? Foi aí que decidi sair. Não havia condições absolutamente nenhumas para proceder a uma AG onde se faz a contagem a olho, e a olhómetro, dos votos dos sócios. Principalmente com medidas onde não há regulamentação no registo, onde se passam pulseiras de um lado ao outro, onde se vivem momentos de intimidação evidentes", explicou, colocando mais uma vez o ónus da decisão no presidente da Mesa da Assembleia Geral, que terá decidido não chamar as autoridades para estarem presentes no Dragão Arena.
Para o ex-técnico, a situação é muito superior ao tema da possível candidatura ao lugar que é de Pinto da Costa desde 1982: "Falo enquanto associado do FC Porto, confrontado com o que vi ontem e com as imagens de um associado com 19 anos a chorar desalmadamente, fora as agressões que todos presenciámos, com o seu sentimento de vergonha pelo clube. É nesse sentimento de associado que vos falo, e sem discutir aqui potenciais candidaturas. O que se passou ontem é uma derrota para o FC Porto e lamento imenso que tenha sucedido."
Villas-Boas, que tem assumido posições divergentes no que toca à gestão do clube e já assumiu que pode ser candidato às eleições do próximo ano. A forma eufórica como foi recebido da AG dá-lhe ainda mais vontade para avançar com a candidatura. "Não posso ficar indiferente ao apoio que sinto. Provavelmente, apresentar uma candidatura minha é quase como o cumprir de uma formalidade. Apenas quero dar passos seguros, fortes, criteriosos, transparentes, suportados em equipas de rigor, alto nível e credibilidade. É isso que o FC Porto merece. Quando eu tiver todas as equipas montadas, um programa eleitoral digno do que merece uma instituição digna do FC Porto, apresentar-me-ei", respondeu.
Segundo ele a AG extraordinária marcada para o dia 20, na sequência da interrupção da reunião magna de segunda-feira, tem de estar limitada à apresentação do cartão de associado do FC Porto e correspondente cartão do cidadão, "da forma mais ordeira e segura possível para que as pessoas possam exprimir livremente o que pensam da proposta de alteração dos estatutos".
Ainda antes da AG ser suspensa, Pinto da Costa dirigiu-se previamente aos sócios para se manifestar contra três das alterações mais polémicas propostas pela comissão de trabalhos criada no seio do Conselho Superior. Entre os quais: a mudança de data das eleições, que podem passar de abril para junho, para entrar em vigor em 2024; a possibilidade de voto eletrónico e a obrigatoriedade de dois anos ininterruptos como sócio para poder votar em atos eleitorais; e a permissão dos órgãos sociais, direta ou por interposta pessoa, puderem envolver-se em negócios com o clube ou com qualquer sociedade em que o clube exerça influência dominante, desde que o negócio seja do "manifesto interesse do clube" ou tenha obtido "prévio parecer favorável do Conselho Fiscal e Disciplinar".