Inês Bicho, 22 anos: "Um projeto pós-guerra para manter a paz na Europa".Inês Bicho estuda na Faculdade de Direito de Lisboa, área que cruza com a aprendizagem sobre a Europa. Um gosto que lhe trouxe a disciplina de Direito da UE e que a levou a inscrever-se na primeira edição do Summer CEmp, um seminário intensivo de quatro dias para universitários, organizado pela Representação da Comissão Europeia em Portugal - o contacto com os seus dirigentes deixou-a a sonhar com a possibilidade de trabalhar em Bruxelas..A estudante de Almada fez depois um Summer School de um mês em Giessen, na Alemanha. Contactou com jovens de todo o mundo, estudou Direito Internacional e Direito Comparado, abordou o quadro legislativo europeu. "Há uma tentativa de homogeneização das leis no espaço europeu. O meu interesse em estudar essas áreas é poder trabalhar numa instituição da UE.".A jovem de 22 anos sente que é mais difícil emigrar na sua área, mas "é exequível". "Gostava de alargar os horizontes. Nunca quis ser advogada, mas jurista numa instituição da UE. São as opções que estou a explorar." Até porque visitou as várias unidades comunitárias, viu o trabalho de quem ouvira apelidar de "burocratas de Bruxelas".."Há um desinteresse geral pelo trabalho de quem está em Bruxelas e estas iniciativas tentam combater esse desinteresse. Não me referiria a essas pessoas como burocratas, mas sim a alguém que ajuda a construir o projeto europeu, um projeto que é bom. Só temos a beneficiar de todas as coisas que a UE nos proporciona e das quais nem nos apercebemos, como o mercado comum, o programa Erasmus, etc.".Mas Inês tem uma condição que a faz sentir de forma ainda mais particular a comunidade europeia: é filha de pai português e mãe grega. "Tenho dupla nacionalidade e, para mim, a facilidade de comunicação e a mobilidade na UE fazem-me sentir que estou sempre perto da minha família. Quando vou para a Grécia não sinto que estou noutro país. Sinto que estou sempre com a minha família.".Considera o programa Erasmus o que melhor personifica a génese da UE, "um projeto pós-guerra para manter a paz na Europa". E elege, também, a facilidade de mobilidade no espaço Schengen. Já o Brexit é a antítese: "A ideia da UE é crescer e haver uma maior unificação, a saída de um país descredibiliza.".Está, ainda, a tirar uma pós-graduação em Bioética, disciplina que considera mais abrangente do que o Direito, nomeadamente no estudo dos problemas que advêm da evolução tecnológica. E gostaria de fazer uma pós-graduação no regulamento geral da proteção de dados. É voluntária há três anos e meio num centro de acolhimento temporário, para crianças até aos 12 anos, com quem está todos os domingos..Catarina Neves, 23 anos: "A Europa significa tudo o que conheço".É a mulher dos dois cursos e muitos ofícios. Natural de Marco de Canaveses, Catarina Neves vive no Porto há quatro anos, desde que foi para a universidade. Começou por tirar Línguas e Relações Internacionais, acumula agora com a licenciatura em Línguas Aplicadas às Relações Empresariais. Como se não bastasse, tira uma pós-graduação em Direitos Humanos na Universidade de Coimbra.."Tenho sempre vontade de aprender mais e mais, não consigo estar quieta." Até fez Erasmus duas vezes: a primeira há três anos em Maastricht (Holanda), quando se comemorava o quarto de século do tratado com o nome da cidade; a segunda há dois, em Brno, na República Checa..No intervalo, a jovem de 23 anos participou no Model European Union Strasbourg (MEUS) e na primeira edição do Summer CEmp, um seminário intensivo de quatro dias para universitários, em Monsanto (Idanha-a-Nova), organizado em 2017 pela Representação da Comissão Europeia em Portugal. Inspirada no MEUS, fundou com mais cinco portugueses a Beta Portugal, onde, através da simulação, promovem o conhecimento sobre as instituições europeias e o que é ser cidadão europeu. O grupo realizou dois encontros nacionais, o segundo terminou nesta quinta-feira, na Câmara Municipal do Porto. No encontro internacional, em setembro, juntaram cem jovens de 30 países no senado da Assembleia da República. Acabam de ganhar o Prémio Europeu Carlos Magno para a Juventude 2019..Catarina é delegada jovem por Portugal no Conselho da Europa, o que significa a participação no Congresso dos Poderes Locais e Regionais, em Estrasburgo, com outros 42 delegados, representando 47 países. "A Europa significa tudo o que conheço, nunca conheci outra realidade. É percebermos que, apesar de morarmos em pontas diferentes deste continente, temos pontos comuns e que nos fazem encontrar amigos." Entende que o Brexit é um caso particular de "desunião europeia", acreditando que o facto de ser tão difícil a saída contribua para um recuo de outros países que poderiam ter as mesmas intenções..O reforço das relações euro-mediterrânicas é uma das suas bandeiras. Faz parte do grupo de jovens do Processo de Cooperação do Mediterrâneo Ocidental - Diálogo 5+5 -, que envolve cinco países do sul da Europa (Portugal, Espanha, França, Itália e Malta) e cinco do norte de África (Mauritânia, Marrocos, Argélia, Líbia e Tunísia)..É, ainda, embaixadora do HeForShe, uma campanha em defesa dos direitos das mulheres promovida pela ONU..No futuro, quer trabalhar na defesa dos direitos humanos, talvez no estrangeiro. "Infelizmente, Portugal não tem as plataformas necessárias nas áreas que pretendo. Talvez Bruxelas seja a melhor opção.".Jorge Félix Cardoso, 23 anos: "Prosperidade é a palavra que melhor descreve a UE".Jorge Félix Cardoso concilia o curso de Medicina na Universidade do Porto com o mestrado em Filosofia Política na Universidade do Minho. "Não pretendo seguir uma especialidade médica. Interessa-me contribuir para a população ser mais saudável e alargar o acesso à saúde de qualidade, não só em Portugal como em todo o mundo. Não tenho um objetivo de carreira, tenho um objetivo na sociedade.".Também não está a pensar numa atividade política, mas em ser um executante da administração pública. Se esse objetivo falhar, exercer medicina é o plano B, "porque tenho de ter um salário". Enquanto conseguir, andará livremente a fazer o que mais prazer lhe dá: envolver-se em projetos por uma cidadania europeia ativa..Aos 23 anos, é um dos seis embaixadores do ID-Europa, um projeto do Conselho Nacional de Juventude, para informar os jovens sobre a União Europeia e apelar ao voto. É ele que edita a página id-europa.eu. Também está envolvido na campanha "Sim, desta vez eu voto".."Prosperidade é a palavra que melhor descreve a União Europeia", diz. Enquanto cidadão europeu vê o Brexit como "um momento triste, em que um Estado membro decidiu que seria melhor sair da UE e há que respeitar". Numa análise mais fria, "é um exemplo de como está a funcionar a política, um fenómeno muito estranho e que não tem que ver propriamente com a realidade. Alguém vai ter de ceder, mas não vejo outra alternativa que não seja a saída"..Jorge tem estado ligado ao associativismo juvenil desde o secundário e, a partir do terceiro ano da faculdade, envolveu-se na representação internacional. É membro da Federação Internacional de Associações de Estudantes de Medicina na Assembleia Mundial da Saúde, da Organização Mundial da Saúde (OMS), em Genebra. No ano passado participou na segunda edição do Summer CEmp, em Marvão, um seminário intensivo de quatro dias para universitários organizado pela Representação da Comissão Europeia em Portugal. E é também um Young Multiplayer, programa de Comissão Europeia para promover o debate entre jovens.."As oportunidades vão surgindo e vou construindo o meu percurso, desde que seja algo com impacto positivo na comunidade. Tenho um gosto especial pela saúde, mas não tenciono ficar limitado a essa área." No futuro, vê-se a trabalhar numa instituição mundial, seja a OMS, as Nações Unidas ou a própria UE, independentemente do país. Essa representação faz que não esteja em Portugal no dia 26 de maio para votar nas europeias, mas não deixará de o fazer. Votou pela primeira vez há cinco anos e, desde aí, sempre que teve oportunidade e em vários quadrantes políticos..Gonçalo Gomes, 20 anos: "Um Brexit sem acordo teria consequências muito negativas".A um mês das eleições para o Parlamento Europeu, o maior objetivo é diminuir a abstenção. Gonçalo Gomes é um dos 22 mil jovens europeus que incentivam os seus pares a participar no ato eleitoral, através da campanha "Sim, desta vez eu voto". Conseguiu arregimentar mais de meio milhar de pessoas. "Eram as instituições europeias que tentavam envolver o cidadão, ao contrário do que acontece de cinco em cinco anos, em que o cidadão é chamado a votar. E achei que devia participar, é uma campanha baseada nas pessoas." Pela sua parte, vai usar sempre o direito de voto - até agora só o pôde fazer nas eleições autárquicas..Gonçalo Gomes nasceu há 20 anos em Viseu e, para ele, pertencer à União Europeia, é algo "natural", embora algumas das certezas tenham sido abaladas recentemente. "O surgimento desta vaga do extremismo, com ideias mais eurocéticas - um pouco por todo o lado, infelizmente -, levou-me a pensar como seria Portugal se não estivesse na UE. E seria completamente diferente.".Gonçalo vive em Lisboa desde que começou a estudar Economia na Universidade Nova, em 2017. Está quase a terminar o curso e em julho vai trabalhar para Londres em consultadoria económica. "Gostava que o meu início de carreira fosse lá fora, para estar com pessoas diferentes, com backgrounds diferentes. O Brexit pode ter uma influência direta na minha vida e no meu futuro, mas com o adiamento passei a ter uma posição mais otimista. Um Brexit sem acordo teria consequências muito negativas. E há uma certa passibilidade de haver um segundo referendo e não acontecer. Não estou a ver a classe política inglesa a apresentar os resultados a que se comprometeram em 2016.".Viveu cinco meses na cidade holandesa de Roterdão, onde fez Erasmus. E quer lá voltar. Envolveu-se no associativismo estudantil, tanto no secundário como na universidade, onde dá aulas aos colegas em regime de voluntariado. Participou no Parlamento Europeu de Jovens, uma plataforma criada em 1987, com encontros interculturais e onde se partilham ideias.."A Europa é muito importante não só a nível da prosperidade económica, como política. Somos 500 milhões em sete mil milhões de habitantes no mundo, muito poucos. E, se estivéssemos separados, ainda representaríamos menos. Depois, existem pequenas diferenças no dia-a-dia mas que são substanciais, como a liberdade de estudar e de trabalhar em outro país."