Sem rodeios. Para Franky Vercauteren, grande figura do futebol belga e ex-treinador do Sporting, "falar de Portugal é falar de Ronaldo". Mas se a Bélgica olhar só para o capitão português no jogo entre as duas seleções, domingo, nos oitavos-de-final do Euro 2020, será eliminado. O mesmo pode acontecer à equipa das quinas se cair no erro de dar apenas atenção a Lukaku..Com o que é que Portugal tem de se preocupar então no jogo de domingo? "Com tudo", atirou prontamente o ex-treinador do Sporting (em 2012), em declarações ao DN, explicando que "assim como Portugal não é só Ronaldo, a Bélgica também não é só Lukaku". Por isso, centrar-se apenas no avançado do Inter de Milão pode ser "desastroso" para a estratégia portuguesa: "Se a Bélgica perder, perde com Portugal, não com Ronaldo. Não podes ganhar um jogo vencendo um jogador. Ninguém ganha sozinho. Ronaldo e Lukaku fazem a diferença, podem decidir o jogo num momento e sozinhos, mas precisam da equipa para vencer.".Vercauteren é conhecido por Pequeno Príncipe e é um dos grandes nomes da seleção belga. Destacou-se como extremo esquerdo nos diabos vermelhos da década de 1980, equipa que mostrou o poderio do futebol belga ao mundo com nomes como Jean-Marie Pfaff, Eric Gerets, Ceulemans ou Enzo Scifo..Agora o príncipe belga rende-se ao rei Ronaldo. "Ele e o Messi são de outro mundo. Ronaldo é muito mais do que um jogador e continua a ter de provar que é um dos melhores, coisa que não entendo. Todos esperam um jogo excecional e se ele faz um bom jogo apenas, damos por nós a pensar, "normal... boring... (aborrecido)". Ele e outros jogadores, como o Lukaku na Bélgica, têm de lidar com as nossas expectativas e não é fácil. Ronaldo é excecional e queremos sempre mais", defendeu..Para Vercauteren, "é impressionante" o que o jogador da Juventus está a fazer aos 36 anos: "Continua ambicioso e a trabalhar para estar no topo. Olhando para o corpo e mente dele, continua-se a ver sede de vencer e fome de títulos. É impressionante como se transformou como jogador e passou de batedor de livres a goleador excecional.".Aos 64 anos, Vercauteren está à procura de projetos depois de três anos no Krylia Sovetov Samara da liga russa. Tem parte da família na Rússia e vive em Moscovo há alguns anos. Foi ver o Finlândia-Bélgica (0-2)e saiu "pouco entusiasmo". Fica sempre "desconfiado" da fase de grupos. Diz que não dá para avaliar bem o valor das equipas. "São seleções fortes com seleções menos fortes, e como se viu não houve uma grande surpresa até agora. A Bélgica ganhou um grupo demasiado fácil. Para quem gosta de ver bom futebol prefere mais os grupos como o de Portugal", explicou, lembrando que "a verdadeira festa do futebol começa agora"..Na fase a eliminar tudo pode acontecer. E um Portugal-Bélgica é um desses jogos: "Não era o adversário que eu queria para a Bélgica. Acho que todos tinham um pouco de medo de enfrentar qualquer equipa do Grupo F, e Portugal, pelo Euro 2016 e por Ronaldo...".Vercauteren não tem dúvidas que "Portugal tem uma boa equipa", mas isso "não é surpresa para ninguém". Mas avisa que o "passado não joga". Isto aludindo aos últimos duelos entre ambas as seleções, com clara vantagem lusa (cinco jogos seguidos sem perder e a última derrota foi em 1989). "Isso é história, passado. O jogo dos oitavos-de-final é como um mistério indecifrável até ao fim. Claro que Portugal é capaz de vencer a Bélgica e dar continuidade à história recente, mas tudo depende da qualidade do jogo e de alguma sorte. O mesmo se aplica à Bélgica. Podes ter três oportunidades e marcar três golos, ou ter cinco e não marcares nenhum. O jogo será decido por pormenores", considerou..O sucesso atual da chamada geração de ouro belga, com De Bruyne, Eden Hazard, Witsel, Romelu Lukaku e Thibaut Courtois como principais figuras, deve-se a muitos fatores e muitas pessoas. Uma delas é Michel Sablon, segundo o "pequeno príncipe". Com a humilhação no Euro 2000, coorganizado com a Holanda, o então diretor técnico da federação belga desenhou um plano que viria a revolucionar o desporto no país e criou a nova bíblia do futebol belga, um documento ainda hoje sagrado para clubes, seleção e treinadores da formação. Jogar em 4x3x3 é um deles.."Paralelamente a isso foi feito um investimento na capacitação de treinadores e no desenvolvimento de academias de futebol do país, protocolos com clubes holandeses e franceses. Abriu-se ao conhecimento estrangeiro e apostou-se na consciencialização da sociedade para com os imigrantes". E assim, jogadores como Vicent Kompany (ex- -capitão) e Romelu Lukaku (goleador-mor da seleção) puderam ser chamados à seleção. Hoje muitos são liderados por Roberto Martinez e procuram mostrar que a liderança do ranking FIFA há mais de dois anos não é por acaso..A conversa com Vercauteren não podia terminar sem uma referência aos leões: "Muito feliz de ver o Sporting campeão e pelo que sei normalizado institucionalmente. Na minha altura, o mínimo, que se pode dizer é que foram tempos turbulentos, mas isso fica para outra conversa.".isaura@almeida@dn.pt
Sem rodeios. Para Franky Vercauteren, grande figura do futebol belga e ex-treinador do Sporting, "falar de Portugal é falar de Ronaldo". Mas se a Bélgica olhar só para o capitão português no jogo entre as duas seleções, domingo, nos oitavos-de-final do Euro 2020, será eliminado. O mesmo pode acontecer à equipa das quinas se cair no erro de dar apenas atenção a Lukaku..Com o que é que Portugal tem de se preocupar então no jogo de domingo? "Com tudo", atirou prontamente o ex-treinador do Sporting (em 2012), em declarações ao DN, explicando que "assim como Portugal não é só Ronaldo, a Bélgica também não é só Lukaku". Por isso, centrar-se apenas no avançado do Inter de Milão pode ser "desastroso" para a estratégia portuguesa: "Se a Bélgica perder, perde com Portugal, não com Ronaldo. Não podes ganhar um jogo vencendo um jogador. Ninguém ganha sozinho. Ronaldo e Lukaku fazem a diferença, podem decidir o jogo num momento e sozinhos, mas precisam da equipa para vencer.".Vercauteren é conhecido por Pequeno Príncipe e é um dos grandes nomes da seleção belga. Destacou-se como extremo esquerdo nos diabos vermelhos da década de 1980, equipa que mostrou o poderio do futebol belga ao mundo com nomes como Jean-Marie Pfaff, Eric Gerets, Ceulemans ou Enzo Scifo..Agora o príncipe belga rende-se ao rei Ronaldo. "Ele e o Messi são de outro mundo. Ronaldo é muito mais do que um jogador e continua a ter de provar que é um dos melhores, coisa que não entendo. Todos esperam um jogo excecional e se ele faz um bom jogo apenas, damos por nós a pensar, "normal... boring... (aborrecido)". Ele e outros jogadores, como o Lukaku na Bélgica, têm de lidar com as nossas expectativas e não é fácil. Ronaldo é excecional e queremos sempre mais", defendeu..Para Vercauteren, "é impressionante" o que o jogador da Juventus está a fazer aos 36 anos: "Continua ambicioso e a trabalhar para estar no topo. Olhando para o corpo e mente dele, continua-se a ver sede de vencer e fome de títulos. É impressionante como se transformou como jogador e passou de batedor de livres a goleador excecional.".Aos 64 anos, Vercauteren está à procura de projetos depois de três anos no Krylia Sovetov Samara da liga russa. Tem parte da família na Rússia e vive em Moscovo há alguns anos. Foi ver o Finlândia-Bélgica (0-2)e saiu "pouco entusiasmo". Fica sempre "desconfiado" da fase de grupos. Diz que não dá para avaliar bem o valor das equipas. "São seleções fortes com seleções menos fortes, e como se viu não houve uma grande surpresa até agora. A Bélgica ganhou um grupo demasiado fácil. Para quem gosta de ver bom futebol prefere mais os grupos como o de Portugal", explicou, lembrando que "a verdadeira festa do futebol começa agora"..Na fase a eliminar tudo pode acontecer. E um Portugal-Bélgica é um desses jogos: "Não era o adversário que eu queria para a Bélgica. Acho que todos tinham um pouco de medo de enfrentar qualquer equipa do Grupo F, e Portugal, pelo Euro 2016 e por Ronaldo...".Vercauteren não tem dúvidas que "Portugal tem uma boa equipa", mas isso "não é surpresa para ninguém". Mas avisa que o "passado não joga". Isto aludindo aos últimos duelos entre ambas as seleções, com clara vantagem lusa (cinco jogos seguidos sem perder e a última derrota foi em 1989). "Isso é história, passado. O jogo dos oitavos-de-final é como um mistério indecifrável até ao fim. Claro que Portugal é capaz de vencer a Bélgica e dar continuidade à história recente, mas tudo depende da qualidade do jogo e de alguma sorte. O mesmo se aplica à Bélgica. Podes ter três oportunidades e marcar três golos, ou ter cinco e não marcares nenhum. O jogo será decido por pormenores", considerou..O sucesso atual da chamada geração de ouro belga, com De Bruyne, Eden Hazard, Witsel, Romelu Lukaku e Thibaut Courtois como principais figuras, deve-se a muitos fatores e muitas pessoas. Uma delas é Michel Sablon, segundo o "pequeno príncipe". Com a humilhação no Euro 2000, coorganizado com a Holanda, o então diretor técnico da federação belga desenhou um plano que viria a revolucionar o desporto no país e criou a nova bíblia do futebol belga, um documento ainda hoje sagrado para clubes, seleção e treinadores da formação. Jogar em 4x3x3 é um deles.."Paralelamente a isso foi feito um investimento na capacitação de treinadores e no desenvolvimento de academias de futebol do país, protocolos com clubes holandeses e franceses. Abriu-se ao conhecimento estrangeiro e apostou-se na consciencialização da sociedade para com os imigrantes". E assim, jogadores como Vicent Kompany (ex- -capitão) e Romelu Lukaku (goleador-mor da seleção) puderam ser chamados à seleção. Hoje muitos são liderados por Roberto Martinez e procuram mostrar que a liderança do ranking FIFA há mais de dois anos não é por acaso..A conversa com Vercauteren não podia terminar sem uma referência aos leões: "Muito feliz de ver o Sporting campeão e pelo que sei normalizado institucionalmente. Na minha altura, o mínimo, que se pode dizer é que foram tempos turbulentos, mas isso fica para outra conversa.".isaura@almeida@dn.pt